Conhecido como “ouro verde” do Oriente Médio, o pistache é uma das sementes mais valorizadas no mercado global, amplamente utilizado na gastronomia por suas propriedades nutritivas e versatilidade. Agora, o Brasil pode entrar na rota de produção desse valioso grão. A Embrapa iniciou estudos para cultivar pistache na Serra da Ibiapaba, no noroeste do Ceará, região que apresenta condições climáticas promissoras para a produção da oleaginosa.
A ideia de trazer o pistache ao Brasil surgiu após visitas da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec) à Califórnia, nos Estados Unidos. O estado americano é o segundo maior produtor mundial, perdendo apenas para o Irã. Ambos os locais têm climas favoráveis, com invernos rigorosos e períodos bem definidos de frio, características fundamentais para o desenvolvimento da planta.
Embora o clima brasileiro seja majoritariamente tropical, a Serra da Ibiapaba se destaca por apresentar temperaturas mais amenas, semelhantes às da Califórnia. Gustavo Saavedra, chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, explica que o pistache exige cerca de dois meses de temperaturas abaixo de 10 °C para hibernar e florescer. Estudos iniciais buscam adaptar a planta às condições locais, como já ocorreu com outras frutas secas em climas tropicais.
Oportunidade para o mercado nacional
O cultivo nacional de pistache poderia reduzir a dependência das importações e tornar o produto mais acessível aos consumidores brasileiros. Atualmente, o Brasil importa 100% do pistache consumido internamente, pagando altos custos devido à oscilação cambial e despesas de logística. Em 2024, o país importou 970 toneladas da semente, totalizando R$ 13,9 milhões — oito vezes a mais que em 2020.
No Ceará, a Embrapa planeja importar material genético dos Estados Unidos para dar início aos experimentos em 2025. Após os trâmites de importação e quarentena, espera-se que as primeiras safras comerciais estejam disponíveis entre 2035 e 2040. Além do cultivo, será necessário estruturar a cadeia de processamento e comercialização, tarefa que deve envolver a Faec e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ceará.
Pistache: um mercado em crescimento global
Com origem no Oriente Médio e mais de 10 mil anos de história, o pistache conquistou mercados no mundo inteiro. Atualmente, Irã e Estados Unidos dominam a produção global, que supera 1,3 milhão de toneladas anuais. O grão é valorizado tanto pela culinária — em pratos doces, salgados e bebidas — quanto pela indústria cosmética, devido ao seu alto teor de óleo natural.
A crescente popularidade do pistache no Brasil reflete tendências globais. O consumo local aumenta ano a ano, impulsionado pelo interesse por produtos gourmet e saudáveis. Contudo, o preço elevado — frequentemente acima de R$ 120 por quilo, dependendo da cotação do dólar — limita o acesso para boa parte dos consumidores.
Desafios e expectativas para o pistache
Apesar do potencial promissor, a adaptação da cultura ao clima brasileiro é um desafio técnico que demanda anos de pesquisa. Se bem-sucedido, o projeto pode posicionar o Brasil como um novo player no mercado global de pistache, reduzindo custos ao consumidor e fomentando uma cadeia produtiva local.
Para Odálio Girão, analista da Ceasa Ceará, a produção nacional pode transformar o mercado. “Com o pistache sendo cultivado localmente, os preços seriam muito mais estáveis e competitivos, reduzindo o impacto da variação cambial e dos custos de logística,” afirma.
A iniciativa, se concretizada, representa não apenas uma inovação para a agricultura cearense, mas também um salto estratégico para a diversificação econômica da região. O pistache, com seu valor agregado, pode se tornar um marco na produção agrícola brasileira.
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