Etiene Ramos
Os surtos da mosca dos estábulos em pelo menos nove municípios da região do brejo, no Agreste de Pernambuco, vão ser estudados a partir de abril pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), órgão da secretaria estadual de Desenvolvimento Agrário. A decisão foi anunciada nesta terça (22) em reunião na sede do instituto, no Recife, entre os responsáveis pela área de pesquisas do IPA e a União Nordestina dos Agropecuaristas (UNA).
Os pecuaristas associados à UNA estimam prejuízos acima de R$ 200 milhões na criação de gado por causa da mosca dos estábulos, que encontra na cama de aviário, usada como adubo na região, condições ideais para proliferação durante o plantio do cará, entre agosto e setembro.
O objetivo do estudo é identificar as causas dos surtos do inseto, como enfrentá-las, e formas de convivência. “Tivemos várias reuniões com pecuaristas e avicultores interessados em resolver o problema e colaborar com a secretaria, que irá coordenar a pesquisa, disponibilizando especialistas, veículos e laboratórios”, afirma o gerente do departamento de Pesquisas do IPA, Geraldo Majella, adiantando que os primeiros resultados devem sair só em 2023.
Para o diretor ambiental da UNA, João Tavares, a reunião foi muito importante porque estabeleceu o compromisso de liberação das condições necessárias para o bom andamento da pesquisa, embora esteja certo que a solução não vem em curto prazo. “A pesquisa faz parte de uma solução que passa pela conscientização do agricultor de que a cama de aviário tem que ser recebida ensacada, coberta no transporte por caminhões e ser enterrada logo, no plantio, para não ter contato com a mosca. Quando isso acontece, ocorre a infestação”, diz Tavares.
Embrapa irá apoiar pesquisa em Pernambuco
A praga da mosca dos estábulos, uma espécie hematófaga que se alimenta de sangue de animais e até de humanos, existe em todo o mundo e, no Brasil, há registros de surtos em vários estados. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem enfrentando o problema e irá ajudar o IPA com a experiência das unidades do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, que desenvolveram técnicas para combater os surtos destes insetos que se reproduziam no substrato da palha da cana de açúcar e no vinhoto da produção sucroalcooleira local.
Descartados no campo, sem tratamento, estes rejeitos criavam condições perfeitas para as infestações. “Precisamos saber como a mosca está chegando às cidades, estudar as formas de reprodução, ciclos, temperatura e outros fatores. É uma coisa nova na nossa região e os dois pesquisadores principais da Embrapa do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, que estudaram a mosca no substrato da cana de açúcar – diferente do nosso que é o substrato da cama aviária – se dispuseram a ajudar no projeto de Pernambuco, após a primeira fase”, explica Geraldo Majella.
Segundo ele, o controle mecânico, com armadilhas e outras práticas, deverá ser usado ao invés do químico (com inseticida) que não tem mostrado eficiência , além de ser muito caro e trazer prejuízos ambientais.
Enquanto aguardam a pesquisa, pecuaristas como João Tavares já estão adotando práticas repassadas pelos extensionistas rurais do IPA, como as armadilhas para reter as moscas. Elas são atraídas pelas cores azul, preto e branco e uma das técnicas é fazer uma cola com breu, óleo vegetal e pigmento em pó. A mistura é aplicada em filme plástico que é estendido em cercas e, em pouco tempo, centenas de moscas dos estábulos são capturadas. A armadilha é trabalhosa e não tem o alcance desejado, mas ajuda a reduzir o impacto dos insetos sobre os animais e os prejuízos dos criadores.