Mosca dos estábulos gera perdas de R$ 200 milhões em Pernambuco

A mosca dos estábulos virou um tormento para criadores de gado em pelo menos nove cidades do Agreste de Pernambuco
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

Por Etiene Ramos

Mosca dos estábulos faz o gado perder peso/Foto: cortesia

A mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans), uma espécie hematófaga que existe em todo o mundo, virou um tormento para criadores de gado em pelo menos nove cidades do Agreste de Pernambuco. A União Nordestina dos Agropecuaristas (Una) estima um prejuízo anual de R$ 200 milhões para os criadores, considerando apenas a perda de peso dos animais – em média, três arrobas por ano, ou cerca de R$ 900,00 por cabeça, a preços desta semana. 

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As moscas se alimentam do sangue de qualquer animal, e até de humanos, são vetores de doenças, muito resistentes a inseticidas e ainda demandam pesquisas sobre seus inimigos naturais. Para se proteger das ferozes investidas, o gado se agrupa, tentando diminuir a exposição do corpo, e deixa de pastar. Sob estresse, as vacas reduzem a produção de leite, ficam magras, não entram no cio pelo baixo escore corporal e, mesmo quando o cio acontece, não conseguem produzir o bezerro.

“Quem cria vaca conta com o bezerro do ano para aumentar o rebanho. Esse é um dos prejuízos que não entrou na nossa estimativa”, observa o pecuarista João Tavares, diretor ambiental da Una. Proprietário da Fazenda Japaranduba, com um rebanho de 1000 reses, ele já perdeu 36 animais abatidos pelas moscas.

Tavares fez parte da mobilização para criação da Una, no ano passado, uma iniciativa para unir esforços no combate à praga. A entidade reúne pecuaristas que insistem em resolver o problema e muitos que já desistiram de lutar contra a infestação, iniciada há 15 anos. Muitos venderam o rebanho e arrendaram as terras porque não veem solução para eliminar a causa do mal que é o uso indiscriminado de cama de galinha, sem tratamento, nas plantações de cará (Dioscorea alata), cultura que vem dominando a região. 

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O resíduo da avicultura é um adubo natural, formado por serragem e matéria orgânica, e atrai a mosca dos estábulos quando não é bem aterrado. Com a rega, a umidade cria as condições ideais para a proliferação do inseto. Muito mais barata do que o adubo industrial, a cama de galinha vem ajudando a expansão do cará em cidades como Barra de Guabiraba, a maior produtora do tubérculo em Pernambuco.

Por isso, Barra de Guabiraba é também a mais atingida pela mosca dos estábulos que, a cada ano, prorroga seu ciclo de permanência no campo. “No começo, ela aparecia entre agosto e setembro, durante a plantação do cará, e acabava em menos de um mês, mas na última temporada, ela ficou até janeiro deste ano”, comenta João Tavares.

Cará e a mosca dos estábulos

O crescimento da produção do cará vem no rastro das mudanças na economia agrícola da região. A técnica agropecuária Joana D’Arc dos Santos, extensionista rural do Instituto de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco (IPA), observa que a tradicional monocultura da cana de açúcar já deu lugar a do cará. 

No município de Cortês, onde mora, praticamente não existe mais cana, nem gado. “Aqui só se plantava cana e banana, mas nos últimos dez anos, o cará tomou o lugar da cana. Com todo mundo plantando a mesma cultura, a arroba do cará já caiu de R$ 54,00, há dois anos, para R$ 18,00. Neste mesmo período, o pacote de 25 quilos do adubo químico passou de R$ 30,00 para R$ 140,00. Para tentar se equilibrar, a saída dos agricultores tem sido a cama de galinha na adubação”, diz a extensionista.

No período da infestação, a conta fica mais cara para todos. Erwin Oliveira cria gado e vende bezerros e, para escapar das perdas com a mosca dos estábulos, chegou a sair das suas terras em Barra de Guabiraba e arrendar as de um primo no município de Ribeirão. “Tinha perdido três vacas e fiz isso para não perder mais. Fui vendendo as reses, tinha umas 150 mas hoje trabalho só com 60 e fora do tempo das moscas”, relata.

Os pequenos bares e restaurantes da Zona Rural de Cortês, segundo Joana D’Arc, não conseguem servir os clientes por causa do grande volume de insetos e a saída tem sido fechar as portas e só reabrir quando eles diminuem.

Com a diminuição da criação de gado no entorno do município, a invasão já começa a chegar na área urbana de Cortês. “A mosca não tem limites, se ela não encontra alimento no campo, ela vai para a cidade. Eu mesma já fui picada, é uma dor muito forte”, relata a extensionista, certa de que é preciso investir na conscientização dos agricultores para que sigam as regras e a legislação. “A Prefeitura de Cortês tem contribuído para orientar os agricultores a plantar da forma correta, coloca um carro de som no dia da feira, aos sábados, quando eles vêm para a cidade. No dia a dia, como extensionistas, nós orientamos, falamos que podem ser multados, e vamos tentando conscientizar os produtores rurais para evitar maiores danos”, diz Joana D’Arc.

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