Alta do dólar eleva consumo do vinho nacional, mas afeta espumantes do Vale do São Francisco

Por Patrícia Raposo O vinho nacional está num de seus melhores momentos. Em 2021, o consumo do vinho brasileiro por brasileiros, em especificamente aqueles produzidos com uvas viníferas que geram o vinho fino, aumentou 34% em relação ao ano anterior. Isso se refletiu nos vinhos produzidos no Nordeste, em especial em Pernambuco, estado que vem […]

Por Patrícia Raposo

O vinho nacional está num de seus melhores momentos. Em 2021, o consumo do vinho brasileiro por brasileiros, em especificamente aqueles produzidos com uvas viníferas que geram o vinho fino, aumentou 34% em relação ao ano anterior.

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Os vinhos produzidos no Vale são totalmente absorvidos pelo mercado nacional/Foto: divulgação

Isso se refletiu nos vinhos produzidos no Nordeste, em especial em Pernambuco, estado que vem se destacando como uma das zonas produtoras nacionais. Na região do Vale do São Francisco, a produção dos vinhos calmos (brancos, tintos e roses) cresceu 15% entre 2020 e 2021.

E não são apenas os brasileiros que estão consumindo o produto nacional. As exportações deram um salto: a alta foi de 83,25% em relação o ano anterior. Isso significa que nada menos do que 10,8 milhões de garrafas de vinho foram enviadas do Brasil para o exterior.

Os dados da Associação Brasileiras de Sommeliers (ABS) revelam ainda que essas garrafas alcançaram 53 países. As maiores remessas foram para o Paraguai, Haiti, Rússia, China e Estados Unidos.

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Pelo menos dois fatores contribuíram para isso: pandemia do novo coronavírus e a alta do dólar.  Se por um lado o isolamento trazido pela pandemia estimulou o consumo doméstico dos vinhos calmos, por outro o dólar elevado levou as pessoas a trocarem o produto importado pelo nacional.

“Isso acabou levando às pessoas a descobrirem vários rótulos nacionais de qualidade”, reflete Agostinho Lopes, diretor da seccional da ABS em Pernambuco.

Produção de uvas no Vale do São Francisco/Foto: divulgação

O boom começou em 2020. Naquele ano, o consumo de rótulos finos nacionais cresceu 66,4% no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período de 2019, segundo dados compilados pela ABS-RS. Somente entre abril e junho — período mais agudo da pandemia —, a alta foi de 86,4%. Em comparação, vinhos finos importados registraram alta de bem menor, de 8% nos seis primeiros meses de 2020, em relação ao primeiro semestre do ano passado.

Vale do São Francisco

No Vale do São Francisco, apesar de provocar alta na produção dos vinhos calmos, a pandemia, porém, afetou duramente o carro-chefe da região: os espumantes. Eles tiveram queda acentuada.

Cerca de 70% da produção do Vale do São Francisco é voltada aos vinhos borbulhantes, que sofreram principalmente com a suspensão das festas de casamento, de 15 anos e de formaturas.

“A queda na venda de espumantes foi expressiva, mas variou de empresa para empresa. Na fazenda Milano, foi da ordem de 40%”, explica ”, explica José Gualberto, presidente do Instituto do Vinho do Vale do São Francisco e proprietário da fazenda Milano, que produz o vinho Botticelli, um dos pioneiros no Vale.

Segundo ele, o setor ainda não recuperou os patamares de vendas de 2019, apesar do cenário de crescimento. As perdas só não foram maiores porque as fazendas direcionaram as uvas usadas para os espumantes para o consumo de mesa.

Novos investimentos

Mas, a expectativa do setor é positiva, com novas empresas investindo na região. A paranaense Campo Largo e a gaúcha Hugo Pietro, maiores empresas produtoras de suco de uva e vinho de mesa do país, são as mais novas operações da região. A Pietro já começou a engarrafar, numa parceria com a Fazenda Garziera, outra marca antiga no Vale.

Atualmente, as empresas do São Francisco movimentam juntas 15 milhões de litros de vinho por ano, algo em torno de R$ 300 milhões. A maior parte das vendas ainda é voltada ao mercado interno, porque a demanda absorve a produção.

Mas, no Vale, a alta do dólar alto não estimulou as vendas externas. “E nem deixou o vinho do vale tão competitivo. Concorremos diretamente com vinhos argentinos e chilenos, que recebem subsídios internos e ainda são beneficiados pelos acordos internacionais do Mercosul”, explica Gualberto, para quem, no entanto, a exportação é uma questão de tempo. “Nossos espumantes têm pleno potencial para ser trabalhado no mercado externo”, explica.

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