Enchentes podem causar perda estimada em R$ 100 bi no RS

Desafio é transformar crise do RS em oportunidade, alertam economistas
Catástrofes se sucedem no Brasil em velocidade cada vez maior, sem políticas de prevenção e enfrentamento
Enchente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Foto: Bruno Zilio/Arquivo Pessoal

As águas que inundaram o Rio Grande do Sul ainda não baixaram. A quarta maior economia do País, a do Rio Grande do Sul começou a parar, desde o último dia 27 de abril, por causa de evento climático extremo. “Na hipótese de a economia estadual não registrar crescimento em 2024, podemos estar diante de uma perda que supere o patamar de R$ 100 bilhões em termos de geração de riqueza”, estima o sócio e CEO da renomada Ceplan Consultoria, Paulo Guimarães.

Na estimativa realizada, o economista levou em conta os municípios atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que até o momento, respondem por 95% do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho. O PIB mede a geração de riqueza num determinado lugar. Em 2023, o PIB do Rio Grande do Sul ficou em aproximadamente R$ 640 bilhões. Na projeção, também foi levada em consideração a taxa prevista para o crescimento do PIB daquele Estado, que no início de 2024, era de um incremento de 2,9%.

O Rio Grande do Sul é um dos grandes produtores brasileiros de soja, arroz e produtos de origem animal. O comportamento da economia gaúcha vai depender da velocidade que a água baixar. Depois disso, vão começar os trabalhos de reconstrução dos municípios com a recuperação da infraestrutura, do setor produtivo – que também teve suas instalações e equipamentos atingidos pela enchentes etc.

Segundo Paulo Guimarães e o também sócio da Ceplan Consultoria, Ademilson Saraiva, a expectativa é de que, nos próximos dois quadrimestres, em grande parte do Rio Grande do Sul, o esforço possivelmente será concentrado na reconstrução de infraestruturas, recomposição imobiliária e retomada das atividades produtivas. Isso significa, na opinião deles, que a normalidade pode ser comprometida em mais de 2/3 da atividade econômica em 2024.

“O aporte de recursos sinalizado até o momento, apenas do governo federal, é de R$ 60 bilhões, cerca de 9% do PIB gaúcho realizado em 2023. É um valor significativo para iniciar a reconstrução das áreas afetadas e retomar a normalidade social e econômica do Estado, mas há de se considerar que a execução e os efeitos desses recursos não são imediatos”, afirma Ademilson Saraiva.

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Os economistas lembram também que, nos últimos quatro anos, dois foram de uma forte queda no PIB gaúcho. Em 2020, primeiro ano da pandemia, aconteceu uma retração de 7,2% no PIB do Rio Grande, enquanto no país o recuo ficou em 3,3%. Em 2021, houve uma recuperação do PIB gaúcho com uma alta de 9,3%. Em 2022, uma estiagem provocou resultados péssimos para a agropecuária, contribuindo para uma queda de 5,4%. E, no ano passado, foi registrado um crescimento modesto de 1,7%, quando o Estado registrou pelo menos três enchentes que trouxeram transtornos à população.

Nesta quinta-feira (16), o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que ainda falta ao governo “um conjunto de grandes informações” para avaliar o impacto das enchentes do Rio Grande do Sul sobre as atividades econômicas. A SPE deve divulgar no boletim macrofiscal de julho o impacto da tragédia numa estimativa do PIB.

As enchentes e o arroz do Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul produz cerca de 70% do arroz que é consumido no Brasil. “Mais de 80% da colheita do arroz já foi feita no Rio Grande do Sul. E os empresários do agronegócio estão dizendo que não vai precisar importar o grão”, comenta o economista e sócio-diretor da Ceplan Consultoria, Jorge Jatobá.

Em alguns supermercados do Grande Recife e Maceió, há menos arroz nas prateleiras, mas isso não tem nada a ver com o desabastecimento. Segundo a superintendente da Associação Pernambucana de Supermercados (APES), Silvana Buarque, os supermercados estão tranquilos com o abastecimento de arroz até o momento e alguns estabelecimentos tomaram a iniciativa de controlar a venda por cliente para evitar que uma parte da população estoque o produto e aí ocorram momentos de faltas pontuais nas prateleiras”.

O produto diminuiu porque algumas pessoas já compararam a mais. A APES não recomenda os consumidores estocarem o produto. “A nossa região é abastecida por via marítima. Não depende das estradas. Não recomendamos o estoque porque isso pode contribuir para a falta do produto nas prateleiras”, comenta Silvana. Ela argumenta também que se aumentar muito a procura pelo arroz, corre o risco de elevar o preço do grão. “Tá achando o produto caro, substitua por outro”, aconselha Silvana ao consumidor.

Oportunidade na reconstrução

Embora o primeiro momento das inundações tenham provocado muitas perdas, o momento depois da catástrofe pode se transformar em “oportunidade”, segundo Jatobá. “A economia gaúcha vai crescer acima dos outros Estados, quando for ocorrer a reconstrução da infraestrutura e do setor produtivo”, resume Jatobá, acrescentando que serão empregados uma grande quantidade de recursos. “Isso não será no curto prazo, mas o fluxo da economia será restabelecido”, comenta.

Para ele, o evento climático extremo mostrou que a sustentabilidade não pode ser tratada como um fato isolado. “Negar o aquecimento global, virou uma doutrina ideológica. As perturbações climáticas estão desencadeando eventos extremos. Isso é um alerta para as autoridades do planeta trabalharem na prevenção e adotarem medidas para reduzirem a temperatura do globo. Devem ser cumpridas as metas do Acordo de Paris”, argumenta o economista.

Muitas das metas do Acordo de Paris previam a redução da emissão de CO2 entre outras medidas que vão contribuir para frear o aquecimento global.

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