“Se a tarifa for removida, vão privilegiar o álcool estrangeiro de inferior qualidade ao nosso “, diz presidente da Novabio
Por Etiene Ramos
A falta de chuvas nas regiões Sul e Sudeste reduziu a safra de cana de açúcar e, consequentemente, a produção do etanol que está mais caro em todo o Brasil. Já se fala em importação do combustível para suprir o mercado interno onde o preço do litro na bomba está cada vez mais próximo ao da gasolina.
Mas o início da safra da cana de açúcar no Norte Nordeste, em setembro, pode equilibrar o mercado, sem necessidade de importação. A informação é de Renato Cunha, presidente da Novabio, associação que reúne 40 usinas produtoras de açúcar e álcool das duas regiões que, segundo a entidade, deverão processar 54,2 milhões de toneladas de cana, um aumento de 4,2% em comparação com a safra passada. A produção de etanol hidratado pelo Norte e o Nordeste é estimada em algo acima de 1,1 bilhão de litros, o que significa um pequeno crescimento sobre a safra passada.
Segundo Cunha, a importação seria um pleito das distribuidoras e postos de combustíveis que esperam contar com a isenção da tarifa de importação de 20%. Mas ele alerta para os problemas que isso pode trazer ao setor. “Se a tarifa for removida, vão privilegiar o álcool estrangeiro de inferior qualidade ao nosso, que é oriundo da cana-de-açúcar, favorecendo o álcool de milho, já subsidiado na origem (os Estados Unidos). Isso irá causar desemprego de mais de 900 mil pessoas que trabalham desde o início da safra Norte e Nordeste”, alerta Renato Cunha, que também presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindicaçúcar-PE). “A importação vai criar oportunidades para grandes prejuízos ao país com uma renúncia fiscal desnecessária”, completa.
Para Renato Cunha, o Brasil agiu com responsabilidade ao priorizar a produção do etanol anidro que, por não conter água, é o ideal para a mistura com a gasolina. Apesar da seca no Centro-Sul, a produção do etanol para o mercado interno não teria sido comprometida, o que não justifica a importação do produto a fim de, com maior volume no mercado, baratear o preço do combustível na bomba. “Essas importações episódicas nunca baixaram os preços para o consumidor. Perdem sentido na lógica da continuidade de suprimento. O abastecimento ‘não especulativo’ e não episódico é com os produtores, que têm uma performance indelegável e própria de quem tem compromisso com o equilíbrio socioeconômico do país”, afirma o presidente da Novabio.