Etiene Ramos
Os bons resultados da avicultura nacional no primeiro trimestre deste ano, divulgados anteontem pelo IBGE, passam longe da realidade da avicultura de Pernambuco. Estabelecimentos fechando, preços defasados e falta de solução do governo federal aos pleitos do segmento fazem parte do cenário de cerca de 400 empresas ativas no Estado que geram 200 mil empregos.
A alta do dólar repercutiu de imediato nos preços dos principais insumos, o milho e o farelo de soja que representam cerca de 70% dos custos, enquanto a queda no consumo das famílias vem matando o equilíbrio dos negócios. De acordo com o vice-presidente de Frangos de Corte da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe), Carlos Henrique Albuquerque, antes da pandemia a saca de milho de 60 kg custava entre R$ 50,00 e R$ 60,00 mas há dois meses chegou a R$110,00. Em junho baixou para R$ 95,00, refletindo um recuo do dólar. Já a tonelada do farelo de soja passou de R$ 600,00 para R$1.800,00 de um ano para o outro.
Os custos só não estão maiores porque Pernambuco compra grãos para alimentar suas aves da região do Matopiba, que agrega os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e consegue preços de frete mais baixos do que antes, quando já precisou importar até 80% dos insumos do Mato Grosso, pagando mais caro. “Nossa produção caiu 5% em relação ao ano passado e estamos tentando cobrir os custos. Com o desemprego e a pandemia, as parcelas do auxílio emergencial foram fundamentais para manter a situação social sob controle, para que a fome não aparecesse mais claramente. Mas a suspensão do auxílio no primeiro trimestre deste ano reforçou a redução do consumo que voltou a melhorar, um pouco, em abril passado depois que o benefício voltou a ser pago”, avalia Albuquerque.
Os consumidores, segundo ele, já amargam um aumento de 20% nos preços e o índice pode chegar a 30% porque os produtores ainda não conseguem fechar as contas. ”As grandes redes de supermercados têm resistência em aumentar os preços, mas a realidade é que eles subiram e ainda não pararam de subir”, completa, revelando que sua empresa, a Frango Formoso, em Paulista, reduziu a produção em 5%, caindo para 1,8 toneladas. Sem demitir pessoal, Carlos Henrique espera a volta do consumo no segundo semestre que, em Pernambuco, é sempre mais forte do que no primeiro.
RISCO DE QUEBRA
Os produtores de ovos também lamentam os prejuízos e vêem ainda mais de perto o risco de quebra de suas empresas. Vice-presidente de Abastecimento da Avipe, Josimário Florêncio, afirma que no primeiro semestre do ano passado, Pernambuco registrou um aumento de 20% na produção de ovos e fechou 2020 ano produzindo 12 milhões de ovos diários, 2 milhões a mais do que em 2019. Este ano já está em 14 milhões de ovos diários mas, praticando preços de 2018 e com queda no consumo, as empresas vêm enfrentando um prejuízo de cerca de 25% ao mês. “Vivemos uma redução drástica do consumo no primeiro semestre e nossos custos de produção que já tinham aumentado 50% entre 2019 e 2020 subiram mais 50% entre 2020 e 2021”, calcula o empresário, dono da Ovo Novo, em Caruaru.
Para tentar equilibrar as contas e não fechar, a saída está sendo reduzir os alojamentos de aves de postura que já se encontram com uma defasagem de 20% na produção entre janeiro e abril deste ano. “Foi preciso também antecipar o abate das aves que acontecia quando elas atingiam 100 semanas. Agora abatermos com 80 semanas”, explica Florêncio, adiantando que a oferta de ovos deverá cair 30% em função da carência financeira dos produtores.
O efeito socioeconômico do desemprego e da redução do valor do auxílio emergencial, deixando as pessoas sem renda, na sua avaliação, ressalta o risco de segurança alimentar para a população. “Acredito que hoje 40% da população não consegue mais comer como comia antes da pandemia”, lamenta.
Sem a ajuda do governo federal, que vem sendo pleiteada pela Avipe desde novembro passado, o cenário é nebuloso. Entre os pleitos levados aos Ministérios da Agricultura e da Economia, estão a redução do imposto de importação para que seja possível comprar insumos mais baratos dos Estados Unidos e Argentina; a inclusão do ovo na cesta básica e o estabelecimento de reserva de estoque de milho e farelo de soja para o mercado interno. “O Brasil continua exportando muito e com o alto custo de produção sem compensação, o setor avícola vai quebrar”, prevê Josimário Florêncio.