Por Juliana Albuquerque
Mesmo com a retomada do setor, bares, restaurantes, cafés e lanchonetes de todo o país ainda enfrentam muitas dificuldades para retomar o perfil de faturamento do período anterior à pandemia. Foi o que apontou nova pesquisa da série Covid-19, realizada pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR), a consultoria Galunion e o Instituto Foodservice Brasil (IFB).
De acordo com o levantamento, 63% das empresas ainda não recuperaram as vendas em relação à pré-pandemia e 48% dos estabelecimentos pesquisados, mais de 15 mil no total, estão endividados, 78% deles com dívidas junto aos bancos pelos próximos três anos.
Para Fernando Blower, diretor executivo da ANR, a pesquisa revela que a recuperação está apenas no início e o setor ainda tem um longo caminho a percorrer para um crescimento consistente. “A pesquisa retrata que o processo de recuperação deverá ser longo”, afirma Blower, que vê com apreensão o avanço do aumento de casos de Covid-19 na Europa e a chegada da nova variante ômicron ao Brasil.
O presidente da seccional pernambucana da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PE), André Araújo, não ficou surpreso com o recorte da pesquisa da ANR. Segundo ele, sondagens realizadas pela associação com estabelecimentos associados em todo o Brasil revelam números similares. “A pesquisa da ANR se aproxima muito com a realizada internamente pela Abrasel nacional, que apontou que cerca de 60% do setor está com dificuldades de recuperação”, afirma.
De acordo com Araújo, embora o setor esteja funcionando em sua plenitude, cerca de 60% das empresas tiveram que se endividar para se manter durante o período mais intenso da pandemia. “A demora da aprovação do Refis e o temor dos estabelecimentos serem desenquadrados do Simples Nacional, impossibilitando o parcelamento dos impostos atrasados, dificulta uma recuperação plena”, afirma.
Além do endividamento, segundo André Araújo e Fernando Blower, outro grande desafio para o setor é a inflação. “O setor certamente terá que se equilibrar no ano que vem entre esses desafios de seguir a retomada, crescer e ainda ter que lidar com a inflação crescente. Seguiremos em um cenário de incertezas, tanto em relação à política como na macroeconomia. Mas há indicadores muito claros já sobre inflação e crescimento do país abaixo das expectativas em 2021 com o qual teremos que lidar”, afirma Blower.
“Até agora conseguimos resgatar 600 mil empregos, praticamente metade do que desmobilizamos no ano passado, quando perdemos 40% do setor durante a fase mais grave da pandemia. Em função das dívidas acumuladas, estamos com dificuldades de turbinar o faturamento, que não está dos piores, mas se mostra insuficiente com o aumento exorbitante do impacto da inflação nos insumos”, avalia André Araújo, que diverge quanto ao tempo de recuperação do setor apontado na pesquisa da ANR.
“Acredito que temos um longo caminho a percorrer em 2022 para suprir os desafios impostos pela alta inflação e endividamento. Contudo, esperamos que em 2023 possamos começar a respirar mais aliviados”, pontua o presidente da Abrasel-PE.