
Nos últimos anos, a matriz elétrica brasileira passou a ter uma participação maior da geração eólica e da solar, mas bastou chover um pouco menos no Sudeste/Centro-Oeste do País, no começo deste ano, para o preço da energia subir no mercado de curto prazo, saindo de uma média de R$ 90 o megawatt-hora (em fevereiro) para uma média de R$ 340 na primeira semana de março.
A redução das chuvas ocorreu no Sudeste/Centro-Oeste, região que detém mais de 70% da água utilizada para gerar energia no Brasil. “São vários fatores que estão contribuindo para a subida do preço, mas o principal fator foi a redução das chuvas. Quanto mais água tem nos reservatórios e melhor é a previsão de chuvas, mais baixo fica o preço da energia no mercado de curto prazo”, explica o gerente comercial da Elétron Energy, Weliton Pedroso. E acrescenta: “a base da matriz hidrelétrica brasileira é a hidrelétrica”.
O gerente de Planejamento e Inteligência de Mercado na consultoria PSR, Celso Dall’Orto, afirma que “neste mês de março, as hidrelétricas das regiões Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Nordeste devem receber um volume de água muito abaixo da média histórica. Apenas a região Norte tem previsão de vazões próxima da normalidade. Ao mesmo tempo, a demanda por eletricidade está alta, impulsionada pelas temperaturas elevadas e pela falta de chuvas em grande parte do país. Essa combinação (menos água para as hidrelétricas e maior consumo de energia) explica em grande parte a recente alta do preço de curto prazo de energia elétrica.”
Esta alta não deve alterar nada para o consumidor cativo – aquele que compra a energia somente de uma distribuidora – , por enquanto. Geralmente, as distribuidoras compram energia no mercado de longo prazo por um preço diferente do mercado de curto prazo. “Se continuar com redução das chuvas, é possível que entre uma bandeira para cobrar um pouco mais na conta de energia de todos os consumidores”, conta Weliton. E justifica: “um dos gatilhos que faz o governo federal acionar as bandeiras é a alta do preço da energia no mercado de curto prazo”.
As bandeiras tarifárias foram criadas para compensar o aumento do custo de produção de energia, quando fica mais caro fazer a geração. “Geralmente, quando o PLD (o preço no mercado de curto prazo sobe, o custo de produção está mais alto”, argumenta Weliton.

Vai pagar mais quem está sem contrato de energia
“Quem está no mercado livre e não tem energia contratada para 2025, terá um impacto grande no custo da compra de energia”, argumenta Weliton. Ele aconselha a esperar um pouco o consumidor que precisa contratar a energia a partir de 2026 e anos seguintes. O consumidor do mercado livre escolhe a empresa a qual vai comprar energia.
A situação não é preocupante para o consumidor em geral. Weliton lembra que os reservatórios das hidrelétricas estão com um bom nível de armazenamento de água. No último dia 16, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Sul estavam, respectivamente, com 67,72%; 78,86% e 44,69%, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). O Brasil passou por um racionamento de energia em 2001 por causa de uma estiagem que atingiu os principais reservatórios das hidrelétricas do País, principalmente o subsistema Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste.
De acordo com Weliton, também ocorreu uma mudança nos parâmetros usados para fazer o cálculo do PLD, o preço da energia no mercado de curto prazo. Ele diz que com a modificação, quando se detecta uma redução nas perspectivas de chuvas, há uma indicação que há menos água disponível para a geração de energia e que a mesma deve ser economizada para um momento futuro.
A modificação é importante porque o Brasil já chegou a gastar a água das hidrelétricas, pelo menos em dois governos diferentes, mesmo sabendo que estava passando por uma estiagem, para não aumentar a conta de energia e provocar desgaste político.
Quando diminui muito o armazenamento de água nos reservatórios das principais hidrelétricas, a energia fica mais cara para todos os brasileiros, porque parte da energia que consumimos passa a ser produzida pelas térmicas – movidas a óleo diesel ou a gás natural -, que produzem uma energia mais cara do que as usinas hidrelétricas, solares ou eólicas.
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