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A escassez como desafio central: que o Padre Lebret nos ilumine!

No panorama global, a escassez de atenção às mudanças climáticas, à IA, às tensões globais, entre outros temas, podem ter consequências são alarmantes
Francisco Cunha
Francisco Cunha/Foto: divulgação

Francisco Cunha*

O ano de 2025 trará consigo uma série de desafios que clamam por atenção global. No debate sobre a Escassez: crise imediata e soluções que precisamos encontrar, tema que trouxemos na última apresentação do evento Agenda TGI | Painel 2025, do qual junto com meu sócio, o consultor Fábio Menezes, fiz a exposição de questões cruciais que, se não forem enfrentadas com urgência e seriedade, podem agravar crises já existentes em diversos níveis, no mundo, no Brasil, no Nordeste, em Pernambuco e no Recife. Entre elas destaco quatro principais: as mudanças climáticas, a disrupção digital, intolerância geopolítica e o crescimento do crime organizado.

No panorama global, a escassez de atenção às mudanças climáticas e suas consequências são alarmantes. A transição de uma era de aquecimento para uma de ebulição global, como já alertado pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, reflete-se em ondas de calor recordes, incêndios devastadores e enchentes frequentes. Apesar dos dados e evidências, a humanidade permanece praticamente inerte, alimentando os extremos climáticos com ações negligentes, como recentemente visto na COP 29 no Azerbaijão.

Outro ponto crítico é a disrupção digital. A Inteligência Artificial e a automação prometem transformar profundamente a economia, as relações sociais e o mercado de trabalho. Mas, em vez de debates proativos, testemunhamos uma escassez de políticas e regulações que assegurem uma transição justa e inclusiva.

Ademais, o mundo encara tensões geopolíticas perigosas, como os conflitos no Oriente Médio e os possíveis impactos do resultado das eleições presidenciais americanas. Esses fatores revelam a fragilidade de um sistema global interconectado e a necessidade de cooperação internacional cujo atual modelo de governança multilateral dá mostras de esgotamento já há bastante tempo.

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No Brasil, as crises climáticas se manifestam em enchentes, queimadas e temperaturas extremas. O país, que será sede da COP 30 em 2025, tem a oportunidade de liderar as discussões globais sobre sustentabilidade, mas enfrenta a escassez de ações internas robustas para mitigar seus próprios problemas ambientais.

“Narcoestado”

Outro desafio é o avanço do crime organizado, que ameaça transformar o País num “narcoestado” se nada de realmente estruturante for feito. Essa realidade transcende fronteiras estaduais, requerendo uma mobilização nacional com políticas integradas e inovadoras. A falta de uma ação imediata diante dessa crise agrava a falta de segurança pública e compromete a confiança de investidores internacionais.

Já a região Nordeste enfrenta a expansão da região semiárida, a mais populosa do mundo, afetando a segurança hídrica e agrícola. Mas, por outro lado, devemos retomar a atenção para essa região, que muito tem a ensinar e necessita de investimentos em pesquisa. A academia precisa fortalecer esse olhar já que trata-se de uma região há milênios convive com os males que agora assolam o planeta como um todo: temperaturas altas e menos água onde ela é mais necessária.

Em Pernambuco, é preciso repensar o modelo de desenvolvimento. Pesquisas que a TGI vem desenvolvendo há mais de 30 anos, como “Pernambuco Afortunado”, “Pernambuco Competitivo” e “Pernambuco Desafiado”, forneceram subsídios importantes para o atual projeto “Pernambuco em Perspectiva”, levando a um entendimento mais profundo da realidade do Estado.

O modelo de desenvolvimento de Pernambuco, esboçado em meados do Século XX pela Comissão de Desenvolvimento de Pernambuco (Codepe, precursora do Condepe e da própria Sudene) pelo lendário Padre Lebret, após todos esses anos, mostra-se esgotado, mesmo com a criação de Suape, uma espécie de “cereja do bolo” deste modelo esgotado o qual poderíamos chamar de “industrial-portuário”. A única “perna” deste modelo esgotado que, de fato, ficou faltando foi o trecho pernambucano da ferrovia Transnordestina para fazer o porto de Suape ter, plenamente, a sua função e interligar os grandes centros regionais, nacionais e mundiais. Sem uma ferrovia que dê suporte ao porto, na retaguarda, não existe função para ele além do âmbito regional. Todos os grandes portos no mundo contam com uma malha ferroviária a seu serviço.

Os extremos discutidos em âmbito mundial, nacional, regional e estadual pesam ainda no município. Pelo Recife, o nosso olhar é para projetos como o Parque Capibaribe e a pesquisa em andamento Recife Cidade Parque, que sinalizam para o futuro da cidade, mais estruturada para enfrentar, por exemplo, o aumento do nível do mar, controlar as enchentes e enfrentar os eventos extremos do clima pela via das soluções baseadas na natureza nas bacias dos seus principais rios (Capibaribe, Beberibe e Tejipió).

A crise que se desenha em 2025, em especial a modelar relativa a Pernambuco, não é apenas um problema de governos ou instituições, mas de toda a sociedade. Só conseguiremos avançar se houver comprometimento coletivo em priorizar o que realmente importa: o futuro sustentável, tanto do ponto de vista ambiental, quanto econômico e social. E, para isso, precisamos desenhar um novo modelo de desenvolvimento/competitividade que seja capaz de dar conta dos desafios dos tempos atuais. Que o espírito do Padre Lebret nos ilumine!

*Francisco Cunha, consultor e sócio fundador da TGI Consultoria

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