Por Gustavo Delgado*
Infelizmente, como temos acompanhado, o Brasil está em chamas. Algumas fontes informam que 38% do que foi queimado aconteceu em área da agropecuária brasileira. Não entrarei no mérito político, se com ou sem culpa, se com ou sem dolo; vou me ater às consequências, ou as possíveis consequências, e, obviamente, na minha área de conhecimento e de interesse. Muitos me perguntam: qual o impacto no comércio exterior brasileiro?
Divido minha resposta em duas partes: primeira parte, as possíveis repercussões internacionais das queimadas no Brasil, até porque, como já falei em outro momento, o mundo não espera que algo realmente aconteça, não se espera que de fato falte algo para que haja uma reação. É preciso dirimir o risco e, diante de uma possível interrupção de fornecimento de algum produto, é necessário já partir para um plano B. Ou seja, mesmo que as queimadas ainda não estejam ou não tenham atingido áreas importantes das plantações brasileiras, o mundo, por ainda não saber ou por ter receio de que atinjam, já pode e deve estar se movimentando para buscar novas fontes. E isto já pode e deve começar a repercutir nos preços, afinal de contas o Brasil é o celeiro do mundo!
Um segundo olhar é não mais nas possibilidades, mas nos fatos. Observando os números de exportação de 2024, e olhando os 6 principais itens do agronegócio de exportação: Soja, Açúcar, Café, Milho e Algodão, nesta ordem (dados do ComexStat), não se observa ainda impacto algum no volume exportado. De todos, comparando com 2023, apenas o milho teve redução em seu volume exportado. Portanto, as queimadas ainda não impactaram no volume de exportação de nossas commodities. E vamos torcer para que nosso comércio exterior não sofra também com as queimadas, além do que já sofreu com a imagem internacional que tem repercutido mundialmente.
Mas é provável que ainda estejamos entregando o que já havia sido colhido e, portanto, ainda não afetado pelo fogo, tão agressivo e vasto que estamos tendo aqui no Brasil. Lembro ainda que quando falamos de comércio exterior, estamos falando em negociações a longo prazo, de fornecimento, e não de vendas “spot”, ao menos não no geral. Portanto, há uma busca forte pela manutenção dos contratos, exceto quando não houver o produto, óbvio.
É preciso aguardar para ver, mas é difícil imaginar que os incêndios, que já atingiram 38% das áreas relacionadas ao agronegócio, não terão impacto significativo na capacidade de exportação do Brasil. Esse cenário pode resultar em uma queda na oferta global de nossos principais produtos, o que, inevitavelmente, pressionará os preços no mercado internacional. O mundo está atento e qualquer interrupção no fornecimento trará consequências não só para o Brasil, mas para a economia global. Infelizmente, essa é a realidade que devemos nos preparar para enfrentar..
*Gustavo Delgado é Consultor de comércio exterior de internacionalização de empresas, Diretor de OCCA, Diretor de inovação da ABDAEX, Coordenador de MBA em Comércio exterior, Coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e Mestre em Economia
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