Depois de um 2023 marcado pela forte dependência em relação ao agronegócio, o PIB da Bahia – que cresceu apenas 1,1% ano passado, abaixo dos 2,9% do Brasil – tem um desafio em 2024: terá que contar com os setores industrial e de serviços.
Isso porque a previsão é de quebra de safra das principais commodities do agro baiano em virtude de diversos fatores, entre eles o fenômeno climático El Niño (aquecimento das água do Oceano Pacífico que provoca estiagem no Nordeste).
O problema é que a performance da área fabril do estado ainda é incerta para este ano, refletindo diversos fatores, entre eles dificuldades nas exportações. Em fevereiro passado, por exemplo, a Bahia teve um baque de 20,5% na receita de produtos exportados, liderado pela indústria de transformação (-53,2%).
No caso do agro, a projeção mais recente do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) – realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – sinaliza para uma redução de 6,8% na safra de grãos 2024 na Bahia em relação a 2023.
Se confirmados estes números, o estrago será considerável, já que, no ano passado, o conjunto dos produtos pesquisados no estado teve colheita record na série histórica do levantamento e o agro, com expansão de 5,2%, salvou o PIB baiano, diante de um crescimento de 1,9% em serviços e recuo de 1,7% na indústria.
Para 2024, com base nos dados de fevereiro, o LPSA estima uma produção, pelos agricultores baianos, de 11,3 milhões de toneladas de cereais, oleaginosas e leguminosas. Atual carro-chefe da economia estadual, a soja aparece no levantamento com projeção de redução de 2,8%.
No milho, a queda deve ser bem mais acentuada (-21,7%). O algodão (crescimento de 2,4%) deve ser o ponto fora da curva entre os três produtos mais importantes do setor de grãos na Bahia.
O que diz a SEI sobre o PIB da Bahia em 2024?
Sem adiantar números, a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI) – ligada ao governo da Bahia – avalia que, de acordo com as previsões atuais, “a atividade econômica baiana será determinada, em 2024, por um leve crescimento da indústria e de serviços“.
O cenário integra as projeções para a economia estadual este ano, contidas num estudo que acaba de ser divulgado pela instituição. A análise também aponta que a “agropecuária do estado vem sendo impactada pelo El Niño desde o final de 2023”.
“De janeiro para fevereiro, houve uma melhora, principalmente na soja, que tinha previsão de queda de 5,9%. Em fevereiro, as chuvas foram acima da média do período e favoreceram o milho. Mas, de acordo com os especialistas, as condições do El Niño vão se manter até maio”, afirma Carla Nascimento, economista da superintendência.
“Esse impacto deve se enfraquecer gradualmente com a transição para neutralidade até junho. Então, talvez essas adversidades climáticas venham a se atenuar. Por enquanto, o panorama é de uma colheita menor”, ressalta.
PIB da Bahia começou 2024 com reação da indústria
Em contraste com o agro, a área fabril da Bahia começou o ano com uma reação na produção industrial, aferida pelo IBGE na PIM-PF. O setor teve um crescimento de 2,1% em janeiro passado comparado a dezembro de 2023. A alta chegou a 8% no comparativo com o mesmo período do ano passado.
Mas, num recorte mais amplo, o panorama atual é próximo da estabilidade. No acumulado de 12 meses até janeiro, a indústria baiana aparece na pesquisa com uma retração discreta (-0,4%), depois de registrar desaceleração em 2023. É um quadro preocupante, com a possibilidade do setor sequer conseguir se recuperar da queda no ano passado.
Na análise por segmentos, a SEI prevê um bom desempenho na produção de alguns ramos industriais no estado, como os de bebidas, borracha e plásticos, calçados e extrativo-mineral.
No entanto, em combustíveis e produtos petroquímicos – setores com peso expressivo na produção física e nas exportações baianas – o cenário se mantém nebuloso.
Isso porque os impactos na economia global e no mercado de petróleo e derivados gerados por uma conjuntura mundial marcada por duas guerras – Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas – tendem a persistir já que os dois conflitos não têm previsão, no momento, de acabar.
Construção pode surpreender no PIB da Bahia
A indústria da construção, entre todos os segmentos da cadeia fabril estadual, é um dos que têm maior potencial para supreender no PIB da Bahia em 2024, após um resultado negativo em 2023 (-0,7%).
A expectativa dos técnicos da SEI é de que a área seja alavancada pelos investimentos em infraestrutura do PAC 3 (e também privados) e pela implantação da BYD, que está investindo R$ 5,5 bilhões num polo automobilístico em Camaçari. Recentemente, a greentech chinesa anunciou também a construção de cinco condomínios residenciais para os empregados, o que anima as construtoras.
Os empreendimentos ficarão localizados a 3,5 km do complexo da companhia, em uma área total de aproximadamente 81 mil m², onde deverão morar 4,2 mil pessoas.
Terciário está em situação mais favorável
Na perspectiva dos três setores macro da economia – agropecuária, indústria e de serviços – o terciário é o que aparece em situação mais confortável para de fato impactar o PIB da Bahia em 2024.
O comércio, por exemplo, vem se recuperando no estado, estimulado pela queda na taxa de juros, desaceleração do desemprego, ganho real do salário mínimo de 5,7% e redução do envidamento das famílias graças ao Desenrola Brasil.
Na edição mais recente da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, o estado aparece com um crescimento de 6,2% no comparativo entre janeiro de 2024 e o mesmo período de 2023. Nos últimos 12 meses, as vendas cresceram 5,5%, o que aponta para uma tendência positiva.
“A geração de empregos deságua naturalmente em aquecimento de serviços e no comércio. Isso junto com inflação caindo, recuperação salarial e a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física para até dois salários mínimos compõe um quadro propício para o terciário, o que pode resultar em crescimento”, diz o economista Luiz Mário Vieira, da área de Acompanhamento Conjuntural da SEI.
Leia mais sobre PIB da Bahia:
PIB do Nordeste: BA e CE crescem abaixo do Brasil em 2023
Entenda o crescimento de 3,2% da produção industrial no Nordeste, puxado pela BA