O mercado de gás de residencial de Pernambuco está se redesenhando. Anúncios bilionários feitos na semana passada, que concorrem entre si, confirmam isso. O primeiro foi a esperada aprovação pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) da joint venture entre as empresas Oiltanking, Queiroz Participações e Copa Energia para construção de um terminal de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) em Suape.
O segundo foi uma negociação envolvendo a Copergás (Companhia Pernambucana de Gás) e sua sócia, a Mitsui. Num novo entendimento, a empresa japonesa concordou em reduzir a retirada de dividendos para que a distribuidora pernambucana possa contar com mais recursos para expandir a distribuição de Gás Natural Liquefeito (GNL) em Pernambuco. Isso gerou um caixa para investimentos de R$ 986 milhões.
O projeto aprovado pelo Cade envolve investimentos de R$ 1,2 bilhão no porto pernambucano e fará com que a capacidade de armazenamento de GLP em Suape, o popular gás de cozinha, suba de 101 mil m³ para 120 mil m³. Atualmente, é possível armazenar no atracadouro 13.000 m³ em terra e outros 88.000 m³ a bordo de um navio cisterna, conhecido como Floating Storage Unit (FSU), que é operado pela Petrobras.
De acordo com Rinaldo Lira, diretor de Desenvolvimento e Gestão Portuária de Suape, o negócio traz um ganho para o mercado de gás regional, que ainda não dispõe de uma infraestrutura de armazenagem onshore capaz de suportar todo o volume de GLP disponível para ser distribuído na região.
Potencial do NE
Com a joint venture, Suape passa a contar com um terminal moderno e refrigerado. O equipamento amplia de forma considerável o potencial de abastecimento de GLP para o Nordeste, que depende de importação das refinarias situadas no Sul e no Sudeste.
É através do Porto de Suape, que são realizadas entregas do gás de cozinha às distribuidoras com atuação na região. Em 2023, de acordo com a Agencia Nacional de Petróleo (ANP), o consumo de gás no Brasil foi de 7.413 milhões toneladas. O Nordeste é o segundo maior consumidor nacional de GLP, respondendo por 24% do mercado, com 1.785 milhões de toneladas, atrás do Sudeste, que lidera o consumo com 3.193 milhões de toneladas (43%).
Disputa pelo gás
Mas o investimento em GLP acirra a concorrência com o gás natural distribuído pela Copergás. A negociação com a Mitsui foi um passo importante para expansão do GNL no estado e ajudará nos planos da Copergás de aumentar a oferta para fornecimento doméstico.
A distribuidora pernambucana está muito atenta aos potenciais mercados. Anunciou recentemente que levará gás ao Polo Gesseiro do Sertão do Araripe, onde o consumo pode alcançar 320 mil metros cúbicos de gás natural/dia, encerrando um triste capítulo de destruição da Caatinga, cuja lenha é usada nos fornos da região. Mas olha igualmente para o mercado habitacional, com a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), do governo federal.
Neste sentido, a distribuidora já tem preferência no programa Morar Bem Pernambuco, do governo estadual, que subsidia a verba de entrada para o MCMV, segundo o presidente da Copergás Felipe Valença. A Copergás tem interesse em ser fornecedora de GNL a essas residências. O gás natural oferece uma economia de 50% sobre o GLP e essa economia não pode ser desprezada num programa de moradia popular.
Novos capítulos
Mas ainda há pelo menos mais dois capítulos pela frente neste mercado. Um envolve a instalação de um Terminal de Regaseificação em Suape, empreendimento a ser executado pela OnCorp em parceria com a Shell, ao custo de R$ 2 bilhões, que deve entrar em operação em 2025.
O outro é o início da distribuição de biometano pela Coperás, previsto para o último trimestre deste ano. O biometano não é de origem fóssil e é produzido a partir de resíduos orgânicos. E tem amplo mercado no cenário da descarbonização. O que vai entrar nos dutos da Copergás vai sair do Eco Parque da Muribeca e poderá chegar até a 8% de todo o gás distribuído pela empresa.
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