Nesta terça-feira (13), o Dia Nacional da Cachaça, a bebida tem muito a comemorar. As exportações de cachaça cresceram 62,49% nos oito primeiros meses deste ano, comparando com o mesmo período do ano passado, segundo informações da Comex Stat, do Ministério da Economia. A bebida é exportada para 66 países e, no exterior, os maiores consumidores são os Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Itália. As vendas ao exterior alcançaram US$ 13,10 milhões e tiveram um aumento de 26,84% em volume, chegando a vender 5,9 milhões de litros ao exterior no período citado.
Ainda na mesma base de comparação, foram exportados o equivalente a US$ 8,066 milhões em valor e exportados 4,7 milhões de litros em volume, também na mesma base de comparação. “Os números precisam ser comemorados e a perspectiva do setor – tanto no mercado externo, quanto interno – é fechar o ano com dados superiores a 2021. Mas é importante alertar que as perdas enfrentadas durante a pandemia foram significativas, em especial no mercado interno. Esperamos que o cenário positivo continue”, diz o diretor Executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), Carlos Lima.
Durante a fase mais crítica da pandemia do novo coronavírus, o fechamento de bares e restaurantes, e outras restrições ao consumo de bebidas alcoólicas, afetou diretamente o mercado da Cachaça, que apresentou uma retração.
Também ocorreu aumento no mercado interno de 30% no valor comercializado da bebida (atualmente, um mercado de R$ 15,55 bilhões) e de 18% do volume produzido, de acordo com os números do relatório anual de bebidas alcóolicas da Euromonitor International, comparando 2021 e 2020. No ano passado, o volume produzido chegou a 469,7 milhões de litros no País.
Pitú, marca que virou sinônimo de cachaça
Em Pernambuco, uma das maiores e mais antigas fabricantes de cachaça é a Pitú. A empresa produz a bebida há 84 anos. Atualmente, a produção média é de cerca de 100 milhões de litros por ano. A Pitú aumentou em 12% o volume de cachaça exportada no primeiro semestre deste ano, comparando com o mesmo período do ano passado. E as vendas no mercado interno cresceram em volume 9% na mesma comparação. “A gente esperava este movimento de retomada com a reabertura dos bares, restaurantes, as festas voltando a acontecer. O mundo retomou a vida praticamente ao normal”, resume a gerente de marketing da Pitú, Maria Eduarda Férrer.
“O Dia da Cachaça está, a cada ano, mais popular. É uma bebida símbolo do País. E a cachaça só pode ser feita no Brasil. E a capirinha também tornou-se mais conhecida”, resume Maria Eduarda. A própria Pitú teve a sua contribuição nessa denominação de origem, quando uma de suas executivas, Maria das Vitórias, participou de várias articulações para a cachaça ser reconhecida somente como bebida de origem brasileira. O IBRAC também abraçou essa causa.
Maria Eduarda argumenta que a bebida foi, por muito tempo, estigmatizada. “No entanto, o surgimento das cachaças premium e extra premium estão quebrando essas barreiras”, diz. Na Pitú, mais de 90% da cachaça comercializa é a tradicional branquinha, a mais simples.
Em 2021, a empresa sentiu uma retração no mercado. A pandemia do novo coronavírus fechou bares, restaurantes e deixaram de ser realizadas festas para evitar a transmissão do vírus. Isso se refletiu em queda do consumo. Depois dessa fase mais crítica, a empresa ainda convive com algumas consequências. “Aumentaram os custos de logística”, afirma Maria Eduarda, acrescentando que essa é uma despesa a mais que a companhia terá que conviver.
A revolta por causa da cachaça
O Dia Nacional da Cachaça é uma iniciativa do IBRAC, e já vem sendo comemorado desde 2009 pelo setor produtivo. A cachaça já era consumida e produzida no Brasil em 1516, segundo o estudioso da bebida Jairo Martins no livro “Cachaça – O mais brasileiro dos prazeres”. Em 1635, os portugueses perceberam o consumo crescente da cachaça brasileira que concorria, na época, com a bagaceira, bebida produzida pelos portugueses a partir do bagaço da uva, o que fez o Rei de Portugal proibir a produção e comercialização da cachaça. Os portugueses pretendiam vender mais bagaceira aos brasileiros.
A proibição da cachaça chegou a incluir ameaças de deportação aos produtores locais e também a destruição dos alambiques instalados no País. A insatisfação dos produtores brasileiros e pernambucanos foi num crescente até que em 13 de setembro de 1661 ocorreu a famosa rebelião dos produtores brasileiros de cachaça, o que abriu caminho para a legalização da bebida no Brasil. Na época, a cachaça se tornou um símbolo contra a colonização portuguesa.
“A Cachaça é símbolo da resistência do povo brasileiro, pois enfrentou preconceitos desde a época do Brasil colônia, período no qual teve sua comercialização proibida por várias vezes”, afirma Carlos Lima. O IBRAC representa as micro, pequenas, médias e grandes empresas do setor, que respondem por cerca de 80% do volume de cachaça produzida formalmente no Brasil.