Após ter sua dragagem concluída, o Porto do Recife começa a receber navios de maiores calados. Nesta terça-feira (17) o navio Avocet Arrow chega com 22.800 toneladas de barrilha. Há mais duas embarcações previstas para esta semana: o Ben Rinnes, com 5.800 toneladas de malte, que aporta nesta quarta-feira (18), e o BC Lara, que atraca na sexta-feira (20), com 20 mil toneladas de trigo.
Essas movimentações estão sendo possível porque a Capitania dos Portos de Pernambuco enviou ao Porto do Recife duas resoluções extraordinárias liberando a atracação de navios de maiores calados nos berços 00, 03, 04 e 05 por 45 dias. Elas atendem a demandas de importadores e exportadores do ancoradouro recifense.
“A Capitania dos Portos tem sido uma boa parceira do Porto do Recife. Se dentro do prazo de 45 dias chegarem outros navios, as operações já estarão previamente autorizadas”, explica José Lindoso, presidente do Porto do Recife. Ele acrescenta os trâmites envolvendo as liberações após dragagens levam até 90 dias diante do envio do estudo da batimetria para a aprovação da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro.
Aumento na movimentação
Agora, apto a receber navios maiores, o Porto do Recife espera um incremento em sua movimentação da ordem de 30% neste ano. Isso porque o atracadouro sai de uma profundidade que variava entre 7 e 8 metros para quase 11 metros – um aumento de quase 50%.
Para o setor sucroalcooleiro, por exemplo, isso faz muita diferença. Antes, era impossível embarcar toda carga de açúcar no Porto do Recife, já que os navios só conseguiam receber 40% do volume devido à limitação de profundidade do porto. Isso obrigava os produtores a enviar parte do adoçante produzindo em Pernambuco para o porto paraibano de Cabedelo, onde as operações de embarque eram finalizadas.
No último dia 24 de abril, também mediante autorização extraordinária da Capitania dos Portos, já foi possível ao navio panamenho Toros M embarcar cerca de 30.900 toneladas de açúcar. Nenhum volume precisou ir para Cabedelo. O Sindaçúcar, sindicato do setor sucroalcooleiro, é responsável pelo Terminal Açucareiro (TA) do Porto do Recife, que corresponde ao berço 00, agora com 9,20m de profundidade. Os navios de açúcar são os responsáveis por grandes movimentações no Porto do Recife.
Outro setor que vai se beneficiar com a dragagem é o de milho. “Antes, boa parte do grão entrava por Cabedelo (PB) e agora a tendência é se concentrar no Recife”, explica Lindoso. Isso impacta diretamente os negócios de avicultores do Agreste pernambucano, maior produtor de frangos do Nordeste, que devem experimentar redução de custos com transporte para o grão.
O malte também deve sofrer alterações em sua logística regional graças a essa obra de dragagem no Porto do Recife. O atracadouro recifense deve centralizar na região todo recebimento do malte com destino à Ambev. A empresa, inclusive, que já vem trabalhando em uma área para armazenar essa carga no porto recifense. Já foi realizado um estudo de viabilidade e dentro de oito meses esse projeto estará concretizado.
Trigo e fertilizantes
Com o cenário mundial conturbado por pandemia e guerra e diante dos altos custos para fretamento, importadores de fertilizantes e trigo estão preferindo trazer maiores quantidades de produto numa única viagem, por isso a demanda para operar com um calado mais profundo. Essas empresas foram as solicitantes da liberação para os berços 03, 04 e 05, que serão destinados às operações de granéis. Isso visa atender, principalmente, ao desembarque de fertilizantes, cuja movimentação cresceu bastante nos últimos meses.
A obra de desassoreamento do Porto do Recife teve início no dia 22 de janeiro e dragou 1.050.221,5 metros cúbicos de sedimentos do cais acostável, canal interno e bacia de evolução. A draga Lelystad deixou o ancoradouro recifense no dia 1 de março, quando finalizou a operação de dragagem. Em seguida dois rebocadores equipados com arado iniciaram o nivelamento do fundo da bacia do Porto, para planar e corrigir possíveis falhas no caminho.
“No dia 4 de abril, o arado foi concluído, finalizando todas as etapas do trabalho de campo da dragagem. O Porto do Recife inicia uma nova era, com mais competitividade, abrindo portas para novos negócios”, comemora Lindoso.
O relatório da batimetria após a obra indicou que as cotas de dragagem atingidas foram: do berço 00 ao 01, chegou aos 10 metros; do berço 02 ao 06, atingiu os 11 metros; e do trecho do berço 07 ao 09 chegou aos 8 metros. Os trechos mencionados poderão chegar às profundidades máximas, na maré alta, de 12,60m, 13,60m e 10,6m respectivamente.
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