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Turismo tem novo perfil do viajante e valorização dos destinos regionais

Convenção Schultz destaca novas tendências para o viajante em 2025: regionalização, imersão cultural, roteiros de nicho e maior permanência nos destinos
Paulo Goethe
Paulo Goethe
De Recife paulo.goethe@movimentoeconomico.com.br
Pôr do sol em Curitiba Paraná destino viajante
Pôr do sol em Curitiba: a capital paranaense se coloca na disputa para atrair o viajante nacional ou estrangeiro. Foto: Cadu Nickel/Divulgação

CURITIBA – A forma de viajar está mudando. As tendências que emergiram após a pandemia de Covid-19 consolidaram um novo comportamento entre os turistas brasileiros: preferência por experiências autênticas, maior permanência nos destinos, deslocamentos reduzidos e roteiros que valorizam o conteúdo local. Essa mudança de comportamento redefine o que significa viajar bem — menos deslocamento e mais profundidade, menos quantidade e mais relevância —, moldando uma nova era para o turismo brasileiro e internacional.

Durante a 17ª Convenção Schultz, realizada na última semana, em Curitiba (PR), operadores, especialistas e autoridades do setor apresentaram dados e relatos que confirmam essa virada de chave no turismo. Ao todo, 450 agentes de viagens de 145 cidades do país tiveram, durante quatro dias, a oportunidade de conhecer novos destinos e se tornarem, eles próprios, turistas na capital paranaense. O Movimento Econômico participou do evento como um dos veículos de comunicação convidados a conhecer, em primeira mão, as tendências e lançamentos do setor.

As transformações recentes no comportamento dos turistas, aceleradas por mudanças sociais, econômicas e tecnológicas, têm provocado uma reconfiguração profunda na indústria do turismo. Durante o evento, profissionais do setor debateram as novas tendências para o turismo mundial e nacional em 2025, com destaque para experiências mais imersivas, valorização de destinos regionais e mudanças na lógica de deslocamento.

Aroldo Schultz, presidente da Schultz operadora convenção turismo Paraná
Para Aroldo Schultz, a nova lógica do viajante favorece a permanência mais longa em destinos únicos. Foto: Cadu Nickel/Divulgação

O empresário Aroldo Schultz, presidente do Grupo Schultz, abriu a convenção destacando que os roteiros hoje precisam se adaptar a um novo perfil de consumidor. “O passageiro está mais exigente e prefere ficar cinco noites em um lugar só, aproveitar a estrutura do hotel, da cidade, do entorno, e fazer tours a partir dali. O turista está menos disposto a dormir em uma cama diferente a cada noite. Isso muda completamente a forma como a gente pensa o produto”, afirmou. Segundo ele, a nova lógica favorece a permanência mais longa em destinos únicos, o que estimula o turismo local e amplia o tempo médio de permanência nos roteiros regionais e internacionais.

Aroldo também enfatizou que a relação entre operadora, agente e cliente exige mais preparo, diálogo e especialização. “O passageiro hoje quer ser bem atendido, quer alguém que conheça o destino. E se você não conhece, perde venda”, disse. “A responsabilidade de atender bem é nossa. Por isso, precisamos cada vez mais de agências sérias, de profissionais capacitados e de operadoras que deem suporte completo.”

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 Cleib Filho, diretor da operadora 100 Limites, especializada em roteiros personalizados e expedições com sede em Palmas (TO)
Cleib Filho, diretor da operadora 100 Limites, especializada em roteiros personalizados e expedições com sede em Palmas (TO), destaca a ampliação de roteiros incluindo o Maranhão. Foto: Cadu Nickel/Divulgação

Novas rotas e destinos em expansão para o viajante nordestino

Para os viajantes nordestinos — que representam uma parcela crescente da demanda nacional e internacional — o mercado apresenta uma ampliação significativa de roteiros e possibilidades de personalização. Além dos destinos tradicionais como Natal, Porto de Galinhas e Salvador, a 17ª Convenção Schultz trouxe novidades relevantes no segmento de turismo de natureza e aventura, com foco na inclusão da cidade de Carolina (MA), na região da Chapada das Mesas, como novo destino de comercialização.

Segundo Cleib Filho, diretor da operadora 100 Limites, especializada em roteiros personalizados e expedições com sede em Palmas (TO), o Maranhão entra com força nos pacotes voltados ao público nordestino. “Estamos colocando Carolina nas rotas junto com Lençóis Maranhenses, Jalapão e Chapada Diamantina. É um destino com alto potencial de crescimento, com cachoeiras, trilhas, paredões rochosos, esportes de aventura e gastronomia local forte. O passageiro nordestino tem buscado justamente esse tipo de experiência fora do óbvio, e com mais conexão com a natureza e a cultura do lugar”, disse.

Ele reforçou também o crescimento de roteiros com curadoria regional e propostas diferenciadas de deslocamento, como as expedições em 4×4 ou veículos adaptados. “O tempo da viagem não pode ser um sofrimento. As pessoas estão valorizando mais o trajeto, o conforto, a segurança e o conteúdo da viagem, e menos a ideia de fazer 10 cidades em 10 dias”, completou.

Alejandro de la Osa, CEO da Europamundo Vacaciones
Para Alejandro de la Osa, da Europamundo Vacaciones, a Ásia deve registrar forte crescimento. Foto: Cadu Nickel/Divulgação

Europa e Ásia atraem viajantes com desejo de imersão cultural

No segmento internacional, Alejandro de la Osa, CEO da Europamundo Vacaciones, destacou o crescimento de destinos menos explorados da Europa e a consolidação de circuitos asiáticos com roteiros mais longos. “O passageiro quer tempo para se conectar ao lugar. Ele quer experimentar a comida local, andar pelas ruas com calma, visitar mercados e não só museus. Isso exige circuitos mais adaptados à realidade de quem quer aproveitar com profundidade, não só fazer ‘checklist’ de cidades”, afirmou.

Alejandro destacou o aumento do interesse por regiões como os Bálcãs, Leste Europeu, Eslovênia, Croácia, Albânia e Polônia, além de novos roteiros em Portugal, norte da Espanha e sul da Itália. Segundo ele, a Ásia deve registrar forte crescimento com destaque para Japão, Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia e Tailândia, especialmente por atrair viajantes mais jovens e casais em lua de mel.

“Hoje, 30% das nossas reservas vêm da América Latina, e o Brasil é um dos mercados que mais cresce em volume e em qualidade. Os brasileiros estão viajando mais e melhor. Sabem o que querem, pesquisam, comparam e valorizam o papel do agente de viagens na construção de uma experiência memorável”, declarou.

Molga Freire, diretora da Emprotur (Empresa Potiguar de Promoção Turística)
Molga Freire, diretora da Emprotur, divulgou os destinos do Rio Grande do Norte destacando novas experiências com segurança. Foto: Cadu Nickel/Divulgação

Regionalização, natureza e cultura em alta no Brasil

Dentro do mercado nacional, os roteiros regionalizados e destinos alternativos ganham força entre agências e operadoras. Molga Freire, diretora da Emprotur (Empresa Potiguar de Promoção Turística), apresentou um panorama das novas experiências no Rio Grande do Norte, indo além das praias de Natal. “O turista não quer só praia. Ele quer gastronomia, cultura, trilhas, dunas, vilarejos, festivais e interação. Queremos que cada visitante descubra que o Rio Grande do Norte é um mundo de possibilidades”, disse.

Molga destacou que destinos como São Miguel do Gostoso, Galinhos, Maracajaú, Pipa, Baía Formosa, Lagoa da Coca-Cola e as serras do interior estão preparados para receber turistas com estrutura, segurança e diversidade de atrações. “São lugares que oferecem o ar mais puro das Américas, experiências gastronômicas com pratos como camarão e ginga com tapioca, e acesso fácil a partir de Natal. Além disso, temos um litoral com mais de 400 km de extensão, e mais de 300 dias de sol por ano”, explicou.

Ela também destacou o crescimento do turismo religioso, com destaque para Santa Cruz (RN), que abriga a maior estátua católica do mundo, com 56 metros de altura: “Essa é uma rota que combina fé, cultura e interiorização do turismo, valorizando municípios que antes não recebiam turistas em escala”.

Jonas Lunkes, diretor da MMC Turismo
Jonas Lunkes, diretor da MMC Turismo, explicou como Gramado (RS) sempre se reinventa para continuar sendo relevante no cenário turístico nacional. Foto: Cadu Nickel/Divulgação

Gramado e Canela como exemplo de experiência integrada e regionalizada

Durante a Convenção, Jonas Lunkes, diretor da MMC Turismo, com sede em Foz do Iguaçu e filial em Gramado (RS), apresentou a ampliação de roteiros no Rio Grande do Sul com foco em experiências culturais, gastronômicas e de natureza. Os destinos de Gramado, Canela, Nova Petrópolis e Bento Gonçalves aparecem entre os mais procurados, com destaque para passeios como o tour Raízes Coloniais, Maria Fumaça, noite alemã e italiana, visita a vinícolas e parques naturais como o Sky Glass.

Jonas destacou que o passageiro está cada vez mais em busca de vivências completas, não apenas de deslocamentos. “O cliente quer valorizar o tempo no destino, conhecer a história local, comer bem, viver a cultura. Um pacote de R$ 2 mil pode se transformar em R$ 3,5 mil com a venda de experiências agregadas — jantares, shows, ingressos, visitas guiadas”, afirmou.

Ele reforçou que o modelo de receptivo adotado pela MMC inclui agendamento de mesas, transfers porta a porta, atendimento personalizado e infraestrutura local para garantir conforto e segurança. “Temos que vender mais do que viagem. Vendemos memória, cuidado e autenticidade. E o passageiro valoriza quando percebe que tudo foi pensado para ele”, concluiu.

Profissionalização e novos comportamentos do consumidor

Um dos pontos centrais da convenção foi o reposicionamento do agente de viagens como especialista e consultor. A demanda atual exige conhecimento técnico, sensibilidade para o perfil do passageiro e atualização constante. “Não basta conhecer o destino. É preciso saber quando vender, para quem vender e com qual roteiro vender. Isso é o que faz a diferença entre fechar a venda e perder o cliente para a internet”, afirmou Aroldo Schultz.

Durante o evento, a Schultz também lançou novos treinamentos, capacitações e ferramentas para apoiar os agentes em todo o país, com foco em segmentação de público, construção de roteiro, gestão de vendas e uso de tecnologia.

Viagem de trem Morretes-Curitiba Paraná
Passeio de trem Morretes-Curitiba: exemplo de experiência de viagem que consegue atrair turistas para destinos ainda não tão procurados. Foto: Cadu Nickel/Divulgação

Outras tendências que moldam o novo turismo

Além dos temas amplamente discutidos ao longo da Convenção, outros movimentos complementares também foram identificados como indícios claros da transformação estrutural do setor. Um deles é o crescimento do turismo de nicho, impulsionado pela demanda por experiências personalizadas e roteiros temáticos, como viagens gastronômicas, religiosas, de aventura ou imersivas em comunidades locais.

“O passageiro está buscando aquilo que o conecta com o lugar e com ele mesmo”, disse Ana Maria Santana, diretora-geral das Empresas Schultz no Brasil, durante um dos painéis. “É uma nova relação entre quem vende e quem viaja.”

Outro destaque é a necessidade crescente de formação continuada para os agentes de viagens, que passam a atuar não apenas como vendedores de pacotes, mas como consultores especializados.

A curadoria de produtos, o domínio de ferramentas digitais, o entendimento profundo do perfil do cliente e a capacidade de oferecer experiências autênticas tornam-se elementos indispensáveis na rotina profissional. “A venda responsável começa na planilha”, afirmou Ana. “É preciso saber dizer não quando a conta não fecha — para o cliente, para o fornecedor e para o agente.”

A sustentabilidade também ganha centralidade, tanto na operação dos roteiros quanto na formulação de políticas públicas e no uso de tecnologias. Operadoras e destinos buscam soluções que reduzam impactos ambientais, valorizem economias locais e promovam práticas responsáveis de turismo, o que também atende à crescente exigência dos consumidores por coerência entre discurso e prática ambiental.

A convenção apontou a consolidação de novos padrões de consumo turístico, especialmente entre jovens, famílias e viajantes das gerações millennial e Z, que priorizam conexões emocionais, tempo de qualidade e experiências com menor impacto ambiental.

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