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A matemática superestimada do Carnaval do Recife e Olinda

Recife e Olinda, juntos, anunciaram um público de 7,5 milhões de pessoas durante o Carnaval. Número é duas vezes a população da RMR
O domingo de Carnaval registrou o maior público no Marco Zero, com número estimado em 200 mil Foto: Edson Holanda/PCR
Domingo de Carnaval registrou o maior público no Marco Zero, estimado em 200 mil pessoas Foto: Edson Holanda/PCR

Pernambucano é conhecido pela sua mania de grandeza. Tudo é superlativo, tudo é o maior do mundo. Na Rua da Aurora, por exemplo, há uma placa em que anuncia: “Aqui nasce o Oceano Atlântico”. Reza a lenda que esse gigantismo pernambucano foi levado ao extremo pelo jornalista Francisco José, nos anos de 1980, quando anunciou pela primeira vez mais de um milhão de foliões no Galo da Madrugada. Era uma resposta ao colega baiano José Raimundo, que vaticinava ser o encontro de trios na Praça Castro Alves a maior manifestação do período de Momo. Esses números fantásticos chegaram às duas principais festas de Pernambuco. Sem qualquer base física, na qual dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, Olinda e Recife anunciaram que, juntos, receberam 7,5 milhões de foliões, o que representa o dobro da população de toda a Região Metropolitana do Recife, que tem 3,727 milhões e quase o total de Pernambuco, que tem 9.539.029 habitantes.

Na manhã da Quarta-Feira de Cinzas (5), o prefeito do Recife, João Campos, reuniu a imprensa para divulgar o balanço da festa. Nos seis dias de folia, que começou na quinta-feira (27/2) e só acabou na terça-feira (4/3), de acordo com os números oficiais, 3,5 milhões de pessoas participaram de algum evento ligado ao Carnaval, quer seja no Galo da Madrugada ou em algum dos 50 polos de folia, movimentando R$ 2,7 bilhões. A capital pernambucana tem 1.488.920 habitantes. Para chegar ao público total divulgado, seria necessário 2,3 a população do Recife. Impossível, não. Improvável, sim. 

Considerado um dos maiores públicos do Marco Zero, em 2016 cerca de 300 mil pessoas passaram pelo Marco Zero e arredores durante os shows de Nação Zumbi, Jota Quest e O Rappa. Considerando as seis noites do Carnaval 2025 com esse público chegaria à marca de 1,8 milhão de pessoas. Somado ao Galo e a outros polos, chegaria ao público anunciado. Acontece que o maior show do Carnaval foi o do grupo de pagode Menos é Mais, com um plateia estimada em 200 mil pessoas. Mesmo somando o Galo da Madrugada e os outros polos, a conta não fecha. Até porque este ano, Olinda teve uma programação noturna forte, dividindo o público com o Recife.

Sítio Histórico de Olinda ficou cheio no Carnaval mas número de 4 milhões de foliões e muito alto Foto: Instagram

As contas do Carnaval de Olinda

Se a matemática coloca em xeque os números da capital pernambucana, ela destrói os números apresentados por Olinda. De acordo com a Prefeitura, quatro milhões de foliões passaram pelas ladeiras do Sítio Histórico nos sete dias de folia – começou na quinta (27) e foi até a Quarta-feira de Cinzas (5). O número é enorme, levando em conta que a cidade tem 350 mil habitantes. Ou seja, de acordo com a prefeitura, Olinda recebeu um público 11,4 vezes o total de moradores. 

E mais, dividindo o público total pelos sete dias de folia, chegasse a 571.428 pessoas por dia, ou seja, seria 1,6 vezes maior do tamanho da população do município. Todos os dias. Para transportar todo esse pessoal até a cidade, seria necessário, diariamente, 15 mil ônibus, ou 114.285 carros. Ou, ainda, 285.714 motos.

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Mas parte dessas pessoas alugam alguma das 1500 casas do Sítio Histórico, é certo. Se todas as casas estivessem ocupadas, com 30 pessoas em cada uma delas, chegaria a um número de 45 mil foliões ‘residentes’. Ainda assim, a cidade teria que receber mais de 500 mil pessoas todos os dias –  mesmo na quinta-feira pré-carnaval, que só teve movimento à noite, e na esvaziada Quarta-Feira de Cinzas – para fechar a conta.

É praxe inflar números para mostrar o sucesso da festa. Mas, por vezes, esses malabarismos esbarram na realidade dos fatos. Para chegar a contas tão positivas, Recife e Olinda precisavam contar com ajuda externa, para obter números mais robustos. Mas os próprios números divulgados pelo Governo do Estado depõem contra. Em coletiva na última quinta-feira (6), a gestão estadual afirmou que o Aeroporto do Recife registrou “mais de 374 mil passageiros”, 5% do que eles garantem ter recebido.

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