Um “terreninho safado”, uma bicicleta, um corsa, um veículo de luxo de R$ 200 mil, cavalo, pesquisa, casas, dinheiro, muito dinheiro… Isoladas, essas palavras não fazem sentido. Mas no período eleitoral ganham um contexto que vai além das paixões partidárias. Na última terça-feira (17), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou, por unanimidade, uma resolução que proíbe apostas com o resultado das eleições, as chamadas “bets eleitorais”. Muito longe do aparato tecnológico dessas casas de palpites virtuais, fazer a fezinha em seu candidato preferido já é uma realidade há muitas eleições em Pernambuco. E em 2024 não é diferente. As apostas são à moda antiga.
Não é nada formalizado. Mas também está muito longe de ser bagunçado. Pelo contrário, a cada disputa, os apostadores vão agregando novas ferramentas para afastar a possibilidade de um resultado indesejado. A principal delas, as pesquisas eleitorais, são procuradas a peso de ouro. Nas últimas eleições municipais teve um apostador em Santa Cruz do Capibaribe que estava pagando R$ 40 mil numa pesquisa na semana da votação. E não conseguiu encontrar um instituto que realizasse o levantamento. Sim, os contratantes pedem que as pesquisas sejam feitas faltando “três ou quatro dias para a eleição, para o resultado refletir fielmente o que pensam os eleitores”.
A região do Polo de Confecções do Agreste é famosa pelas apostas eleitorais. Corre a boca miúda em Santa Cruz do Capibaribe que, na última disputa, teve um apostador que, no total, investiu R$ 4 milhões. No entanto, este ano o movimento tá fraco por lá. Com uma gestão muito bem avaliada, o prefeito Fábio Aragão (PSD) desistiu de disputar a reeleição e indicou seu vice, Helinho (PSD), como candidato. A avaliação da gestão espelhou nos resultados das pesquisas, dando larga vantagem ao aliado do prefeito.
Mercado das apostas desaquecido
Sem disputa, poucos se interessam em apostar e o mercado está desaquecido. Situação similar acontece no município vizinho de Brejo da Madre de Deus, onde o prefeito e candidato à reeleição, Roberto Asfora (PP), caminha para uma vitória sem aperreio.
Em casos desses tipos, para não perder o costume, as pessoas apostam na diferença entre os candidatos, mas os valores são infinitamente menores.
No município de São Joaquim do Monte, também no Agreste, há quatro anos os moradores chegaram a apostar casas (no plural mesmo), com registro no cartório e tudo. Neste ano, nem mesmo na diferença entre os candidatos anima o mercado de apostas. O prefeito Duguinha Lins (PSDB) aparece com mais de 85% das intenções de voto, deixando tudo parado.
Ainda no Agreste, um caso curioso aconteceu em Gravatá nesta eleição. Descrente da força eleitoral do amigo, avaliando que ele não terá 450 votos, um cidadão propôs “casar” “um terreninho safado e uma bicicleta” contra um carro “Corsa”, da Chevrolet. O candidato não aceitou, mas um primo dele, sim. E a aposta tá valendo.
No entanto, as eleições mais disputadas ainda rendem boas apostas. Na Zona da Mata, um entusiasta de um candidato a prefeito apostou um carro no valor de R$ 200 mil como o seu aliado será eleito. O confronto está valendo. Na mesma região, há casos de apostas de cavalos e casas.
Aposta feita, aposta paga
Apesar da informalidade das apostas, não se tem notícia de que qualquer delas não tenha sido paga. Quando é feita em dinheiro, as duas partes entregam o valor apostado a uma terceira pessoa de confiança. Quando é um bem, há registro no cartório da aposta. Quando é um objeto, chama-se uma testemunha, para que acompanhe o juramento dos envolvidos.
Tudo dentro da lei dos apostadores. Para que as bets, se há a palavra empenhada?
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