Disputar a reeleição a um cargo executivo sentado na cadeira de gestor é o sonho de todo político, pelas benesses e a estrutura que o poder oferece. Não é garantia de vitória, mas ajuda bastante. Prova disso é que nas eleições municipais de 2020, mais de 63% dos prefeitos que tentaram a reeleição, conquistaram um novo mandato. Um outro sintoma da força de disputar no mandato é a avaliação do cientista político Antônio Lavareda. Ele afirma que dos 26 prefeitos de capitais que disputam a reeleição, 20 têm chances de vencer no primeiro turno ou, ao menos, avançar para o segundo.
Mas em uma dessas capitais esse sonho se tornou em um pesadelo persistente. A permanecer o que dizem as pesquisas, uma capital do Nordeste terá o prefeito e candidato à reeleição com o menor percentual de votos do País. De acordo com os levantamentos da Ipespe, Futura e Quaest, o prefeito de Teresina (PI), Dr. Pessoa (PRD), não passa dos 5% das intenções de voto. E em todos eles, a sua rejeição eleitoral oscila entre 67% e 79%.
Eleito em 2020 na onda dos outsiders e candidatos antissistema da política, apesar de já ter sido vereador de Teresina por quatro mandatos e deputado estadual, Dr. Pessoa entra para a galeria cada vez maior dos políticos que alguns classificam de autênticos, outros definem como folclóricos. Na capital piauiense há quem o compare ao ex-presidente Jânio Quadros, pela forma que age. A relação instável na política pode ser vista pela trajetória partidária. Foi eleito pelo MDB, Mudou para o Republicanos em 2022 e, neste ano, migrou para o PRD.
Um outro exemplo desse estilo fora dos padrões ocorreu no mês passado, durante debate organizado pela TV Bandeirantes, em 8 de agosto. O gestor e o candidato do PSOL, Francinaldo Leão, estavam no centro do palco e debatiam sobre a questão da saúde do município. Foi quando o prefeito começou a se aproximar e deu uma cabeçada no adversário. Separados por seguranças, Dr. Pessoa acusou o rival de ter cuspido nele, mas nada disso foi comprovado. Não bastassem os problemas de campanha, o candidato do PSOL deu parte na polícia e o gestor terá que responder pela sua atitude na esfera criminal.
Professor da Universidade Federal do Piauí, o cientista político Elton Gomes lembra que Dr. Pessoa chegou ao poder em “condições fortuitas”, aproveitando o fim do ciclo hegemônico do PSDB. Utilizando-se da sua personalidade peculiar foi apresentado como um voto de protesto, que quebrasse a ordem convencional.
“Mas à medida que a administração dele foi acontecendo, entenda, ele chegou ao poder no contexto pandêmico (da Covid), com muitos desafios, ele não conseguiu fazer as entregas de políticas públicas”, destacou o professor Elton.
E realmente a gestão foi e está sendo um dos principais adversário de Dr. Pessoa. Levantamento feito pelo Portal G1 aponta que o prefeito de Teresina cumpriu integralmente 15 das 75 promessas de campanha. Outras cinco foram cumpridas em parte e 55 não saíram do papel.
“Problemas crônicos da administração da cidade, como o transporte público, a questão daquilo que compete à prefeitura no campo da segurança pública, sobretudo infraestrutura guarda patrimonial, iluminação, situações associadas à personalidade do líder, o seu modo de ser e agir, o levaram a ser rejeitado massivamente. A rejeição dele na rua não é tão alta. Mas eleitoralmente, sim”, avaliou o professor Elton, acrescentando que ele acabou se transformando num Objeto Político não Identificado (OPNI).
Classificando os adversários de “engomadinhos”, Dr. Pessoa diz ser vítima de preconceito, mas não diz em relação a quê. Em uma sabatina, disse que nunca a Polícia Federal vai bater na sua porta, “a não ser se houver conchavo”.
“Agradeço a Deus, agradeço ao povo de Teresina por ter me dado a oportunidade de ser prefeito de Teresina e eu peço continuidade no serviço, o povo sendo prefeito de Teresina. Alguns engomadinhos têm preconceito com o Dr. Pessoa. Vários colegas sabem que eu vou enfrentar, com a graça de Deus, novamente, com cabeça erguida. A Polícia Federal não vai bater na minha porta. A não ser se foi um conchavo dos engomadinhos, dos poderosos”, disparou Dr. Pessoa, durante sabatina no Sindicato dos Médicos do Piauí.
Se o prefeito está mal na fita, isso abre a possibilidade para que os outros oito candidatos sonhem em conquistar a prefeitura.
Nove candidatos em Teresina
Estão no páreo, além de Dr. Pessoas (PRD), Fábio Novo (PT), Francinaldo Leão (PSOL), Geraldo Carvalho (PSTU), Lourdes Melo (PCO), Professor Tonny (Novo), Santiago Belizário (UP), Sílvio Mendes (União) e Telsírio Alencar (Mobiliza).
Apesar da multidão de candidatos, a disputa se afunila em dois: Sílvio Mendes, que foi prefeito de Teresina entre 2005 e 2010, à época pelo PSDB; e o petista Fábio Novo, deputado estadual e ex-secretário estadual de Cultura. Ele terá a missão de tentar levar o PT ao comando da Prefeitura de Teresina, algo que nunca ocorreu.
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