Márcio Didier
A sessão na Câmara dos Deputados que decidiu pela manutenção da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), nesta quarta-feira (11), acabou com um placar de 277 parlamentares a favor e 129 contra, a maioria da ala bolsonarista e entre eles quatro deputados pernambucano que integram o PL na Casa. Seguiram a orientação do comando da legenda e acabaram dentro de um assunto que não tem absolutamente nada com eles.
A votação sobre Brazão não tem nada a ver com mérito. Tem a ver com o corporativismo da Casa. Mas acabou sendo uma bandeira encampada pelo bolsonarismo como método de manter os seguidores ativos em áreas como as redes sociais. Mas entre ser do PL e se posicionar a favor das pautas e ser considerado efetivamente um bolsonarista é uma distância que vai muito além desse tipo de votação.
Muitos deputados que embarcaram na onda bolsonarista acreditam que os votos que receberam nas últimas eleições estão cristalizados a partir do apoio a posicionamentos defendidos na seara conservadora. Mas dos quatro deputados pernambucanos que votaram contra a manutenção da prisão – André Ferreira, Fernando Rodolfo, Meira e Pastor Eurico –, talvez apenas Meira seja considerado raiz entre os bolsonaristas de carteirinha. O Pastor Eurico pode até ser incluído nesse grupo, mas não recebe o carimbo efetivo do clube.
O deputado federal Fernando Rodolfo é pré-candidato a prefeito de Caruaru. No segundo mandato na Câmara, ele foi eleito pelo PL, mas demorou a encampar o bolsonarismo na campanha. No entanto, quando começou a mirar a disputa na Capital do Agreste vem fazendo vários movimentos para cravar que é o candidato do ex-presidente no município.
André Ferreira, por sua vez, foi muito hostilizado pelos seguidores do ex-presidente nas eleições de 2022, por causa de uma foto e um vídeo em que aparecia ao lado de candidatos apoiados pelo presidente Lula. Tenta recompor a relação com segmento. Mas a maioria dos bolsonaristas segue a máxima daquela música, que cristal quebrado não cola jamais.
São movimentos legítimos, em busca de um espaço no movimento conservador que cresceu muito em 2018, foi abalado em 2022 com a derrota de Jair Bolsonaro, e tenta se recompor, a partir de um eventual retorno ao poder do ex-presidente Donald Trump, no EUA, e movimentos coordenados em vários países.
Ala bolsonarista seletiva
É um eleitorado cativo no Brasil, mas também extremamente seletivo. Leva tempo para confiar num político que não esteja efetivamente orbitando ao redor de Jair Bolsonaro. E gestos são necessários para que esse grupo comece a ver com bons olhos os interessados a integrar as hostes bolsonaristas.
O problema é que essa pauta do assassinato de Marielle Franco já está contaminada demais pelos embates políticos. Tanto que Clarissa Tércio, considerada bolsonarista de primeira hora, marcou presença na sessão que analisou a questão da prisão de Brazão, mas na hora de votar se ausentou.
O risco nesse tipo de pauta é não atingir o objetivo de cair nas graças dos seguidores de Bolsonaro e ainda ser olhado de banda pelas pessoas que defendem que o acusado pelo crime permaneça na prisão. Usando a linguagem armamentista do bolsonarismo, o tiro pode sair pela culatra.
Sobre Brazão
O deputado Chiquinho Brazão é acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. Brazão foi preso por obstrução de Justiça no dia 24 de março, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A decisão foi confirmada por unanimidade pela Primeira Turma do STF, que também determinou a prisão do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão e do delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa. Os três são investigados por envolvimento no homicídio de Marielle e Anderson.
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