O então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu unidade para garantir a vitória contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no segundo turno nas últimas eleições presidenciais, sabendo que tudo tem um preço. O custo dos apoios políticos é sempre alto. É quase como assinar um pacto com o diabo. Afinal, após a consagração da vitória os apoiadores de toda hora, assim como os casuais, vão cobrar seus pleitos, demandas e posturas políticas a quem se elegeu.
Ao final da disputa mais acirrada desde a redemocratização, Lula teve 50,90% (60,3 milhões de votos), e Bolsonaro, com 49,10% (58,2 milhões de votos). O senso comum já dizia que, Bolsonaro perdeu, de fato, mas o bolsonarismo e adjacências não esmoreceria. Mais que isso, Lula sabia que não teria vida fácil no Congresso Nacional.
Nos primeiros meses de governo, Lula está reatando alianças internacionais, atraindo novamente antigos parceiros comerciais e tentando dar vida própria aos ministros. Como era de se esperar, o presidente trava, a cada dia, uma batalha junto ao Congresso e ao Mercado.
Além disso, ao ceder aos líderes e presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para atender às negociações com os parlamentares de centro e direita, Lula começa a ruir suas relações junto a aliados. Alguns destes, são ministros e ministras, que estão assistindo cair por terra as promessas de campanha que o presidente não está conseguindo atender devido a heterogeneidade do Congresso.
Em meio às discussões para finalmente aprovar o chamado ‘arcabouço fiscal’ ainda existe paralelamente as intermináveis negociações para que o Banco Central ainda baixe a taxa de juros dos atuais 13,75%. Nesta queda de braço, o Mercado é apontado como principal algoz para que o presidente consiga junto ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) chegar a um denominador que atinja necessidades de execução dos programas de governo.
Nos últimos dias, as tentativas de impulsionamento da Petrobras pelo governo federal estão ganhando notoriedade e evidenciando as crises políticas com aliados que estão dentro do governo Lula 3.
É o que acontece com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), que acompanha de mãos atadas o esvaziamento de sua pasta. Nesta semana, comissão mista da Câmara Federal seguiu o relatório encaminhado pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), alagoano como o presidente Arthur Lira, que retira do ministério de Marina Silva a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que passa para o Ministério de Integração e Desenvolvimento Nacional, comandado por Waldez Góes. A ministra também perde o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que vai para o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, da ministra Ester Dweck. Marina também perdeu o controle do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que foi para o Ministério das Cidades, de Jader Filho.
Não bastasse isso, Marina Silva ainda ficou no meio da polêmica envolvendo Ibama, que nega licença para exploração de petróleo para Petrobras na foz do Rio Amazonas. Essa briga custou a Marina a desfiliação do senador e líder governista no Congresso, Randolfe Rodrigues, da Rede Sustentabilidade.
O desmanche também chegou ao Ministério dos Povos Indígenas, de Sonia Guajajara, onde a demarcação de terras passa para o Ministério da Justiça. Esta última mudança ainda passará por votação na Câmara nos próximos dias. Mas, já rendeu severas críticas de Guajajara aos posicionamentos do governo federal.
Ou seja, as promessas de campanha estão perdendo sustentação em nome da governabilidade. Das reconhecidas práticas ligadas a ‘antiga política’. O presidente tem um passado a seu favor quando superou momentos turbulentos no seu longínquo primeiro governo, mas depois foi cedendo que conseguiu governar. Ainda assistiu a inabilidade política da ex-presidente Dilma Rousseff, hoje presidente do Brics, para negociar junto ao Congresso e posteriormente sucumbir diante de um impeachment.
Lula precisa mostrar que tem força junto aos seus aliados. Mesmo depois de muito criticar a desidratação do seu ministério, Marina Silva recuou e disse entender que “o momento é difícil”. Ela agradeceu ao presidente e ainda fez o gesto do “L” após discurso de posse do presidente do ICMBio, Mauro Pires.
Nesta sexta-feira, aliás, Lula deve se reunir com Marina e Guajajara numa tentativa de apagar incêndio político, que parece estar só começando. Antes, as duas ministras devem se encontrar com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que já se posicionou contra o que chamou de ‘agressão da Mata Atlântica”, numa referência ao MP1150, que enfraquece a proteção à Mata Atlântica. Provando, portanto, que esse tipo de posição existe no Congresso e mostra uma resistência de parlamentares que defendem ideologias bolsonaristas completamente divergentes das políticas públicas prometidas por Lula às duas ministras.
“Uma parte do Congresso, que é a maioria, quer impor ao governo eleito do presidente Lula o modelo de gestão do governo Bolsonaro”, disse Marina Silva.
A ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) também se pronunciou favoravelmente às suas colegas de ministério.
Ainda aqui, vale ressaltar que os ministérios prejudicados são dirigidos por mulheres.
É só o começo, mas que começo.
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