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Transição energética: pressa pode trazer mais prejuízos do que ganhos

Os chamados “apagões” avolumam-se e trazem prejuízos crescentes a todos os segmentos econômicos e sociais
Da Redação ME
Da Redação ME
redacao@movimentoeconomico.com.br
Arthur Lavieri
Arthur Lavieri/Foto: divulgação

Por Arthur Lavieri*

A transição energética é um anseio premente da sociedade que reconhece no processo uma ponte para um futuro mais promissor para as novas gerações. E é justamente por ser uma ponte entre duas realidades que a palavra “transição” se torna ainda mais importante.

Mas não é este o foco que tem sido dado à discussão. A defesa de interesses setoriais tem sobrepujado a análise mais equilibrada que o assunto merece.

Defendo aqui que a transição tem que ser debatida e construída como uma ponte, unindo interesses mais amplos da sociedade, utilizando o que há de melhor em recursos energéticos do país e zelando pela garantia de atendimento de uma necessidade ainda mais básica: a segurança energética. Com 246 localidades e 740 mil pessoas ainda aguardando a oportunidade de dispor de energia elétrica para avançar em seu desenvolvimento e bem-estar, torna-se clara a prioridade. Estas famílias clamam por energia, independentemente do tipo ou fonte.

Há que se ponderar também sobre deterioração da qualidade e disponibilidade de energia no Brasil. Os chamados “apagões” avolumam-se e trazem prejuízos crescentes a todos os segmentos econômicos e sociais. Desde 2021 a resiliência energética aparece como uma das 5 maiores preocupações de executivos, investidores e empresários.  Ao analisar os indicadores de duração e frequência de falhas internas às redes de distribuição do Brasil (os famosos DEC e FEC, mas isolados no nível da distribuição) constatamos uma deterioração superior a 80%.

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Transição energética sustentável

Mas, em detrimento destas constatações, grupos têm defendido de forma muito enfática a aceleração da transição da matriz energética com base em subsídios insustentáveis ou investimentos de bancos de fomento (cuja fonte é a mesma dos subsídios, ou seja, o bolso do consumidor final, pagador de impostos). E querem que isso aconteça da forma mais rápida possível.

Esta forma de condução já tem criado grandes problemas e o sinal amarelo está aceso. O crescimento acelerado da geração eólica que aumentou de 3 GW para 30 GW nos últimos 10 anos (grandes blocos de energia distantes dos centros consumidores e que pressionam os sistemas de transmissão de energia) e da geração solar que aumentou em 40 vezes a sua potência instalada no país, atingindo 52 GW em 2024 (adicionando geração distribuída em meio aos grandes centros consumidores em horários que não atendem a curva típica de consumo) trouxe desafios que não estavam mapeados na operação dos sistemas, incluindo a crescente dificuldade de tratar dos fluxos de potência e a intermitência das fontes, afetando os controles de tensão e frequênci das redes. Isso originou a crise dos “cortes de geração” ou “curtailments”, inaugurando uma fase de discussões acaloradas e ajuizamento de ações nas quais os investidores e associações exigem indenizações pela perda da receita enquanto a ANEEL defende que os cortes visam proteger este mesmo sistema. As estimativas atuais apontam para uma perda de receita em 2024 que varia entre R$ 1 a 1,6 Bilhão.

Tudo isto tem ocorrido em meio a fenômenos muito mais abrangentes e inevitáveis como o envelhecimento da infraestrutura, o aumento do consumo por energia (e que deve se acelerar com a instalação de mega Data Centers pelo Brasil) e os eventos climáticos cada vez mais instáveis e intensos, bastando relembrar o que tem acontecido em São Paulo, Rio de Janeiro, e Rio Grande do Sul nos últimos 12 meses.

Biomassa

O momento carece de equilíbrio e (re)abertura de discussões. Soluções técnicas e de várias escalas existem há muitos anos e precisam ser integradas ao sistema Brasileiro como a adoção de sistemas de baterias para estabilização das redes de transmissão e distribuição (permitindo melhor equilíbrio entre geração e consumo de energia), melhor aproveitamento da biomassa, aplicação de usinas reversíveis que usam energia “excedente” das redes para bombear água de volta a reservatórios, a promessa do produção de hidrogênio verde (através de fontes renováveis) e a hibridização de sistemas com a combinação de sistemas térmicos (biomassa ou gás ou Diesel) com baterias e fontes solares.

A vantagem destes últimos é a possibilidade de descentralização e implantação muito rápida de projetos de pequena e média escala, até 10 MW. Com a hibridização os consumidores contam com o melhor de cada fonte: as baterias acumulam energia solar e administram seu uso de forma inteligente enquanto as fontes térmicas, como gás ou biomassa ou Diesel, entram em momento de garantia da segurança de suprimento ou como complemento de fornecimento, reduzindo a emissão de carbono em até 75%. São soluções que unem segurança energética e descarbonização. Não há sentido em abrir mão de uma por outra.

E as possibilidades são enormes. O Brasil é a potência mundial da biomassa. Com 18 GW de potência instalada ou outorgada (quase 9% da matriz), existe ainda enorme potencial de crescimento e contribuição à descarbonização da matriz. Plantas que contam com cogeração de energia são ativos energéticos preparados – naturalmente – para atender a demanda de energia de final de tarde, quando a solar sai de cena, por exemplo. Podem servir como apoio na geração de energia especialmente nos sistemas do Sudeste, que detém a maior carga e que receberam as maiores quantidades de geração descentralizada (GD) nas redes de distribuição, estando mais sensíveis aos problemas de tensão e frequência.

O assunto é vasto. Cabe agora ao poder público, entes de mercado, associações e reguladores ampliar os debates e permitir que soluções que melhor atendam os anseios da sociedade tenham seu merecido espaço.  A transição energética tem quer vista como uma ponte que atenda muitos e não um foguete que atenda apenas alguns.

*Arthur Lavieri é CEO da Tecnogera, empresa brasileira especializada no fornecimento de soluções de energia temporária e inovação na segurança no trabalho em altura

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