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A inovação da cana celulose rumo à sustentabilidade global

Cana celulose destaca-se como uma inovação de grande impacto econômico e ambiental
Pedro Menezes de Carvalho
Pedro Menezes de Carvalho é advogado e professor de Direito Econômico

Pedro de Menezes Carvalho *

A Cana celulose surge como uma revolução no panorama energético e industrial do Brasil. Esta nova abordagem no cultivo da cana-de-açúcar não apenas perpetua a tradição do país como líder mundial no setor, mas também abre novos horizontes alinhados com a crescente demanda por fontes de energia renovável e materiais sustentáveis.

O Brasil, já renomado como um dos maiores produtores de etanol, assume uma posição ainda mais proeminente ao associar esse biocombustível ao hidrogênio, vislumbrando uma expansão na matriz energética nacional. Essa sinergia entre o etanol e o hidrogênio apresenta-se como uma oportunidade estratégica única, promovendo não apenas a diversificação das fontes energéticas, mas também o fortalecimento da posição brasileira no mercado global de energia.

Além disso, outro ponto relevante é a possibilidade de utilização econômica da cana-de-açúcar para outros fins. A diversificação de aplicações, que vai além da produção de etanol e açúcar, abre novas oportunidades para o setor sucroenergético, contribuindo para a maximização do valor agregado e a sustentabilidade financeira das usinas.

Paralelamente, o Brasil conquistou o título de maior produtor e exportador de celulose do mundo em 2022, impulsionado por sua atividade florestal robusta. Marcas históricas foram alcançadas, gerando uma receita anual significativa de R$ 250 bilhões. O país testemunhou um crescimento notável na produção de fibra de madeira, atingindo 25 milhões de toneladas, e um aumento expressivo nas exportações, que alcançaram 19,1 milhões de toneladas.

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cana-de-açúcar - produção -Pixabay
Cana-de-açúcar: potencial natural do Brasil/ Foto: Pixabay

Esses feitos são reflexo não apenas do potencial natural do Brasil, mas também de seu contínuo investimento em pesquisa e desenvolvimento, resultando em uma eficiência produtiva incomparável. Com um custo de produção reduzido em comparação com outras fontes, como o eucalipto, e uma eficiência superior na produção de etanol, fibra para celulose e até mesmo açúcar, a Cana celulose destaca-se como uma inovação de grande impacto econômico e ambiental.

O Brasil se destaca como um gigante na produção de celulose, com o menor custo global e um notável avanço no cultivo, particularmente nas espécies utilizadas. Comparado a outras nações, o Brasil exibe uma eficiência notável, impulsionada por seu clima favorável e vasta extensão de terras propícias ao plantio.

Um exemplo emblemático desse avanço é a comparação entre o eucalipto e o pinho, duas espécies amplamente utilizadas na produção de celulose. Enquanto o tempo médio de crescimento do eucalipto varia de 5,5 a 7 anos, representando uma redução expressiva em relação ao pinho, que demanda cerca de 25 anos para atingir a maturidade. Essa diferença substancial no ciclo de crescimento reflete diretamente na eficiência e competitividade da indústria brasileira de celulose.

Além disso, a fibra proveniente da cana-de-açúcar apresenta uma semelhança notável com a do eucalipto, o que amplia ainda mais as possibilidades de produção e utilização. A similaridade entre essas fibras permite uma transição mais suave para a nova modalidade de cultivo, conhecida como Cana celulose.

Essa nova abordagem na produção de celulose oferece vantagens significativas em termos de produtividade e rendimento. A Cana celulose detém o potencial de produzir até três vezes mais etanol por hectare em comparação com o eucalipto, além de oferecer um aumento de 2,2 vezes na produção de fibra para celulose. Essa eficiência notável não se limita apenas ao etanol e à celulose, pois também se estende à produção de açúcar, com um aumento de 80% em relação aos métodos convencionais.

Esses avanços representam um marco significativo na indústria sucroenergética brasileira, posicionando o país como um líder global na produção de celulose e seus derivados. Além dos benefícios econômicos, a Cana celulose também promove uma abordagem mais sustentável e ambientalmente responsável, ao otimizar o uso dos recursos naturais e reduzir os impactos ambientais associados à produção tradicional de celulose.

No cenário dinâmico da indústria sucroenergética brasileira, a Cana celulose desponta como um divisor de águas, oferecendo uma nova abordagem para a produção de energia e materiais derivados da cana-de-açúcar. Uma das principais vantagens desse novo método de cultivo é a flexibilidade que oferece às usinas, permitindo-lhes optar por uma maior produção de etanol em detrimento do açúcar, devido às características intrínsecas da planta que favorecem essa mudança.

Essa capacidade de adaptação é fundamental em um mercado tão volátil como o sucroenergético, onde as flutuações na demanda e nos preços dos produtos podem influenciar significativamente a lucratividade das usinas. A Cana celulose proporciona uma resposta eficaz a essas mudanças, permitindo que as usinas ajustem sua produção de acordo com as condições do mercado e as necessidades dos consumidores.

Outro aspecto importante a ser considerado é o aproveitamento do bagaço da cana-de-açúcar, que se revela como uma fonte versátil e rentável de energia e materiais. A empresa BRX apresentou dados promissores em reuniões estratégicas, demonstrando o potencial econômico do bagaço em diferentes aplicações. Desde a produção de energia, com um custo de apenas $7 dólares por tonelada, até sua utilização como matéria-prima para a produção de celulose, com um valor estimado de $600 dólares por tonelada, o bagaço da cana-de-açúcar mostra-se como um recurso valioso e multifuncional.

Além disso, a possibilidade de utilizar o bagaço como substituto do plástico, com um valor estimado de $1000 dólares por tonelada, abre novas perspectivas para a indústria de plásticos, oferecendo uma alternativa sustentável e renovável aos materiais convencionais.

Esses números são extremamente animadores para o setor sucroenergético nacional, colocando o país em uma posição central no cenário global tanto no que diz respeito ao setor energético quanto à produção de papel e plástico. Para se ter uma idéia, no cenário global da produção de cana-de-açúcar, o Brasil se destaca como o principal protagonista, liderando o pódio com uma impressionante quantidade de toneladas anualmente. Com mais de 768 milhões de toneladas, o país supera de longe seus concorrentes mais próximos, como a Índia, que produz cerca de 348 milhões de toneladas, e a China, com 123 milhões de toneladas anuais.

Essa posição de liderança não é apenas uma questão de números, mas também reflete a expertise e a eficiência da indústria sucroenergética brasileira. Ao produzir açúcar e álcool, a cana-de-açúcar gera subprodutos importantes, como o bagaço e a palha. Para cada tonelada de cana-de-açúcar processada, são gerados aproximadamente 280 kg de bagaço e 280 kg de palha.

O bagaço da cana-de-açúcar, obtido na saída do último terno de moendas, desempenha um papel crucial nas usinas e outras unidades industriais como insumo energético. Historicamente, o bagaço tem sido aproveitado para a produção de vapor e eletricidade, mediante a queima em caldeiras. Esse processo não apenas fornece energia para as próprias operações das usinas, mas também possibilita a geração de excedentes que podem ser comercializados ou utilizados para alimentar a rede elétrica.

É dentro desse contexto que a Cana celulose pode trazer uma abordagem inovadora que busca maximizar o potencial da cana-de-açúcar não apenas como fonte de energia, mas também como matéria-prima para a produção de celulose e seus derivados. A Cana celulose aproveita todas as partes da planta, incluindo o bagaço e a palha, para produzir uma ampla gama de produtos, desde etanol até plásticos biodegradáveis.

Essa nova modalidade de cultivo representa não apenas uma evolução na indústria nacional, mas também uma resposta aos desafios globais de sustentabilidade e segurança energética. Ao otimizar o uso dos recursos naturais e diversificar as aplicações da cana-de-açúcar, a Cana celulose posiciona o Brasil como um líder na transição para uma economia mais verde e circular.


*Pedro Menezes de Carvalho é advogado e professor universitário com mestrado em Direito pela UFPE. Especializado em Contratos pela Harvard University e em Negociação pela University of Michigan. Possui certificações em Sustentabilidade, Governança e Compliance pela Fundação Getúlio Vargas. Além disso, detém um MBA em Direito Marítimo pela Maritime Law Academy. Atua como Sócio do renomado escritório Carvalho, Machado e Timm Advogados, liderando a área de Regulação, Infraestrutura, Energia e Sustentabilidade. Destaca-se por sua vasta experiência como docente, ministrando aulas em instituições de prestígio como UNICAP, IBMEC e PUCMinas.

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