Estamos a caminho da era da criptoeconomia?

Os governos criaram frentes de estudos e ambientes de SandBox para validarem novos formatos de negócios advindos da tecnologia.
Daniel Constantino
Daniel Constantino

Por Daniel Constantino*

Que a tecnologia impactou o mercado financeiro, não é novidade. Desde de 1990, com o surgimento e rápido crescimento da internet, o mercado financeiro passou por grandes mudanças, desde o surgimento de novos produtos, até novas formas de se relacionar com o cliente e novos modelos de negócios.

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O surgimento das Fintechs foi um grande marco no mercado, startups surgiram, segmentando dores do mercado, solucionando de forma eficiente e expandindo em ritmo exponencial. As grandes instituições precisaram se remodelar, aprender, de certo modo, com esses novos negócios e se adaptar.

Mas o jogo da tecnologia é dinâmico, mutável e ágil. Uma máxima importante, é que não se aposta contra a evolução tecnológica, eu sempre digo, depois que surgiu o Uber, quem quer voltar a ficar em filas para pegar ônibus?

Em 2008, após a polêmica crise do mercado financeiro global, protagonizada pelo sistema financeiro americano, surge uma nova tecnologia, para ser mais preciso, a tecnologia já havia sido explorada no passado, todavia, em 2008 a mesma foi amadurecida e houve efetividade em sua aplicação. Essa tecnologia permitiu o surgimento de uma nova moeda, proposta por Satashi Nakamoto, estamos falando do Bitcoin.

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O Bitcoin surgiu para ser uma alternativa ao sistema financeiro regulado pelos bancos centrais, sistema esse que notoriamente cometeu falhas evidenciadas pela crise. Em resumo, graças a tecnologia por trás do Bitcoin, foi solucionado o problema do gasto duplo. Isto é, a troca de documentos, arquivos e valores fiduciários por meio da internet, se tornou possível, sem que o mesmo seja duplicado, ou seja, antes se eu enviasse por exemplo, uma planilha por e-mail para alguém, ambos teriam a mesma planilha, mas qual seria a original? Quem seria o real proprietário? Com a tecnologia, permitiu-se ter a transferência de propriedade de forma prática e efetiva pela internet.

Mas não para por aí. Graças a essa tecnologia, além da questão do gasto duplo, foi possível também transitar valores entre pessoas, de maneira on-line, transparente e muito segura, com isso, transações financeiras, passaram a ser possíveis de se realizarem sem a necessidade de um ente validador, isto é, um banco propriamente.

A grande inovação por trás disso é a Blockchain. Não vou entrar nos detalhes técnicos do que é a Blockchain, mas como destacado, foi por essa inovação que se permitiu adotar essa nova moeda, e a partir disso, surgiram novas aplicações para Blockchain, especialmente no mercado financeiro.

Os grupos de aplicações que surgiram estão revolucionando a maneira como as coisas acontecem na internet. Essa nova era da internet é conhecida como Web3, a terceira geração da internet.

Poderia aprofundar no tema, destacando como essas inovações estão gerando impacto em diversas indústrias, mas abaixo quero destacar especialmente o impacto no mercado financeiro.

Blockchain, web3 e mercado financeiro

Após o surgimento e ampla adoção do Bitcoin, ficou evidente para o mercado o potencial da Blockchain. Em 2013, com o surgimento da rede Ethereum, uma Blockchain alternativa da utilizada pelo Bitcoin, as possibilidades de aplicação da tecnologia expandiram-se e novos modelos de negócios surgiram, gerando ainda mais impacto para o mercado financeiro. Destacarei abaixo algumas verticais e impactos.

Tokenização de ativos

A tokenização de ativos nada mais é do que a criação de uma versão digital para ativos reais, essa versão tem as características de imutabilidade, pode ser transitada de maneira on-line (on-chain, pela Blockchain) sem gasto duplo e de maneira transparente e confiável.

Com a tokenização, novos produtos estão surgindo e sendo negociados por plataformas específicas. Players tradicionais do mercado financeiro já estão avaliando adoção de produtos de ativos tokenizados. Entre os produtos de ativos tokenizados, destaco tokenização de recebíveis, de dívida(debêntures), real State, ações (equity), etc. Além de trazer produtos atrativos do ponto de vista de investimentos, é notório a viabilidade em termos de custos e transparência.

DEFI

O termo DeFi se refere a Finanças Descentralizadas, em suma, surgiram plataformas que viabilizam operações financeiras entre pessoas, estabelecendo critérios claros, condições e garantias, tirando a necessidade de intermediários para essa natureza de operações. Operações como empréstimos, aplicações em ativos digitais, troca de criptoativos, etc, são realizadas nessas plataformas e assim como tokenização de ativos, este modelo vem como uma forte narrativa e tendência em termos de ecossistema de produtos financeiros.

CEFI

O termo Cefi refere-se às plataformas de finanças centralizadas. Este termo é bastante utilizado para fazer menção a plataformas que tem um agente centralizador, como bancos, por exemplo. A adoção da infraestrutura blockchain tem permitido instituições tradicionais entrarem nesse mercado e trazerem produtos tokenizados e também negociação de criptoativos. Nesse período, surgiram também muitas corretoras, conhecidas como Exchanges, que trazem uma gama de produtos, como tokens, criptomoedas, NFT’s. Essa vertical está em processo de maturação, especialmente em aspectos de regulação, mas sem dúvida trouxe uma variedade de produtos e possibilidades ao mercado.

NFT’s

Non Fungible Token (NFT) é também outra inovação advinda da tecnologia. O NFT garante uma identidade digital única e está sendo aplicado em alguns ativos, como, por exemplo, obras de artes, composições, tickets e até passagens aéreas. Mas não para por aí. Já existem plataformas que permitem utilizar o NFT como garantia para operações de empréstimos.

CBD’Cs

Os CBD’Cs é uma versão digital do dinheiro, precisamente o dinheiro tokenizado. No Brasil, foi instituído o DREX, que se trata do Real Digital. Esse ambiente do dinheiro estar tokenizado vai viabilizar que até mesmo produtos financeiros tradicionais tenham uma “versão” tokenizada. Combinado a estrutura de CBD’Cs com DEFi, surgem uma combinação interessante de produtos.

Este ano completam-se 15 anos do surgimento do Bitcoin. Embora a tecnologia seja relativamente nova, já existem milhares de empresas que fizeram adoção de alguma forma do Blockchain.

Os governos criaram frentes de estudos e ambientes de SandBox para validarem novos formatos de negócios advindos da tecnologia. A regulação está avançando em diversos países e, por último, vale citar que grandes instituições bancárias brasileiras e globais já criaram unidades de negócios na área de ativos digitais. Em minha visão, estamos caminhando para um futuro não tão distante: a era da criptoeconomia.

*Daniel Constantino é founder da Web3Valley e investidor de startups web3

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