Por Paulo Guimarães*
Reconhecido como um dos principais parques tecnológicos da América Latina, localizado no Brasil, especificamente na cidade de Recife, o Porto Digital registrou um aumento de 29% em 2022 e superou a quantidade de 350 empresa instaladas no território, que abrigaram cerca de 17 mil profissionais e faturaram R$ 4,75 bilhões naquele ano.
Ainda em 2022, o Porto Digital iniciou o projeto de internacionalização através da implantação de um hub de inovação na cidade de Aveiro em Portugal. A iniciativa faz parte da estratégia de expansão territorial e ampliação do mercado, com Portugal funcionando como porta de entrada na Europa.
De acordo com a direção do parque tecnológico, a escolha por Aveiro está relacionada à presença de uma Universidade de referência em inovação e tecnologia no município, à boa cooperação da instituição de ensino e pesquisa com o tecido empresarial, e à localização da cidade entre os dois principais polos econômicos do País, Lisboa e Porto.
Alguns aspectos chamam atenção na iniciativa do Porto Digital, sendo o primeiro a ampliação das relações entre os dois Países, instrumentalizada inclusive por protocolos e acordos bilaterais que favorecem às relações econômicas e sociais. Um segundo aspecto está relacionado ao momento propício de Portugal e do continente, no que se refere a políticas públicas de estímulo aos processos de digitalização e inovação produtiva. Sobre esse ponto, é importante sublinhar a disponibilidade de instrumentos financeiros, com destaque para os fundos nacionais e europeus, que disponibilizam recursos em condições bastante atrativas.
No âmbito brasileiro, iniciativas como a do Porto Digital encontram apoio na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), através do Programa de Expansão Internacional, que fornece ferramentas de inteligência de mercado, qualificação empresarial e promoção comercial, etapas fundamentais no processo de abertura de operações no exterior.
Nesse contexto, vale salientar que a competitividade das commodities brasileiras, principalmente através do agronegócio, já é conhecida e consolidada, e, portanto, se faz necessário ampliar o apoio a outros setores econômicos, com possibilidade de conquistar mercados e investimentos estrangeiros. Esse é um terceiro aspeto que torna o projeto do Porto Digital em Portugal inovador, e uma oportunidade para o Brasil inserir empresas, produtos e serviços de base tecnológica, no mercado internacional. Tarefa hercúlia, mas possível a partir de parcerias e articulações como as que se pretende no projeto de Aveiro.
É importante registrar que o Porto Digital não é um caso isolado no Brasil, e está acompanhado de outros parques relevantes espalhados pelas regiões do País, como o Sapiens de Florianópolis, o TecnoPuc em Porto Alegre, o Samambaia em Goiânia, o Rio no Rio de Janeiro, o Guamá em Belém e o São José dos Campos em São Paulo. Cada um desses polos tecnológicos tem suas especificidades, sua ambientação, suas especialidades, por vezes até complementares.
A reconhecida criatividade e diversidade brasileira permite aflorar um conjunto de oportunidades nesses ambientes, com potencial de articulação e expansão internacional, principalmente a partir do apoio institucional e estratégico da ApexBrasil, através por exemplo, do anunciado escritório da Agência em Lisboa. De forma inovadora e ousada, o Porto Digital abre caminho a se pensar em um programa específico e estruturado para um setor de alto valor agregado e conectado com o futuro.
* CEO e Sócio-Fundador da CEPLAN Consultoria. Doutorando em Gestão Pública pela Universidade de Lisboa
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