Por Eduardo Fischer*
Basta olhar em volta: as pessoas estão amadurecendo a consciência sobre seu papel no mundo e seu legado para o futuro. Por que com as corporações seria diferente? Empresas têm enorme potencial para impactar positivamente não só em aspectos macroeconômicos, mas na sociedade como um todo, especialmente nas comunidades com que se relacionam. Indicadores ambientais, sociais e de governança estão em evidência. E isso é fruto de um processo histórico que as corporações vivenciam: a evolução do paradigma de resultados, para além dos indicadores financeiros e cada vez mais conectado, também, à ideia de relevância.
Não se trata de mudança de foco – afinal, empresas são empresas. Viabilidade econômica é um fundamento da sua própria existência. Mas a sustentabilidade do negócio hoje é indissociável da maximização do capital social e de uma postura concreta sintetizada em uma expressão simples – fazer a diferença.
No encontro desses objetivos se estabelece a noção de empreendedorismo social. Nessa evolução de paradigma, conceitos como a capacidade de gerar empregos, a valorização e os benefícios aos colaboradores, ou o estímulo a elementos da cadeia produtiva são só o começo.
São esforços positivos que, claro, beneficiam a sociedade – e que têm sua raiz na performance do negócio. Que tal agora ir mais longe? Que tal pensar também em performance social? Falo aqui de legado. De transformação. De impactos potencialmente ainda mais perenes, para que empresas e líderes olhem para trás e saibam que fizeram diferença para o mundo e para muito mais pessoas além de seus quadros, parceiros ou consumidores. O economista indiano Subramanian Rangan, PhD em Economia Política pela Harvard University, sugere uma reflexão fundamental: a escolha entre minimizar riscos ou arrependimentos.
Acredito que ela indica bem o ponto de inflexão em que nos encontramos, em que lideranças e empresas nascidas em “outros tempos” precisam ampliar a visão de resultados e traduzi-la em práticas; em outras palavras, incorporar o empreendedorismo social à realidade das organizações, para construir um futuro em que o passado nos orgulhará, também, pela relevância e pelo alcance de nossas ações.
Podemos nos inspirar na atuação de corporações em iniciativas de alto impacto social – como a Rede Gerando Falcões, de Eduardo Lyra, que aplica o conhecimento e o apoio de grandes organizações para transformar a vida de moradores e líderes das favelas, com capacitação, acesso ao trabalho e a tecnologias; a Escola de Impacto, que transforma jovens em futuros protagonistas sociais, criadores de projetos inovadores, a partir de habilidades socioemocionais e despertando o DNA empreendedor; o Instituto MRV, cujo projeto Educar para Transformar (hoje na oitava edição) seleciona em chamada pública e coloca em prática projetos sociais transformadores na área da educação, com aporte financeiro, capacitações em gestão e mentoria de líderes da MRV. Diferentes modelos, todos atravessados pelo eixo da educação e instrumentalização das pessoas, em uma perspectiva possível.
Ações que materializam a integração entre performance de negócios e performance social, uma sintonia antes de tudo necessária. Afinal, em um mundo mais consciente do valor da capacidade de contribuir para o exercício do empreendedorismo social, a inércia das corporações gera prejuízos – para elas mesmas, para a sociedade e para o Brasil no novo cenário global.
O paradigma de resultados evolui em um caminho, felizmente, sem volta. Trilhá-lo depende de fatores culturais, organizacionais e também pessoais; pela minha própria experiência, um processo de aprimoramento constante. Por isso mesmo, impulsionar o empreendedorismo social é um movimento estratégico e inteligente rumo a uma nova visão de performance, que redefine o que é sucesso – nos negócios e na vida. Vamos?
*Eduardo Fischer é CEO da MRV, empresa do grupo MRV&CO, uma plataforma habitacional composta por marcas que oferecem a solução de moradia adequada para cada necessidade e momento de vida.
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