No último dia 8 de junho foi aprovado pelo Parlamento Europeu a proibição da venda de todos os veículos com motor a combustão em 2035. Não foi um tema fácil de avançar, a proposta levou um ano para ser debatida e aprovada pelos 27 países da União Europeia, significando que a partir de 2035 vai ser proibido comercializar veículos equipados com motores a combustão, sejam eles a gasolina, diesel, GLP ou gás natural. O objetivo é eliminar 100% das emissões de automóveis de passageiros ou veículos comerciais de pequeno porte movidos a combustíveis fósseis.
Ainda que o rumo em direção aos carros elétricos esteja traçado, há uma série de obstáculos que podem ditar o ritmo da substituição como, por exemplo, a montagem de rede de recarga rápida de forma mais pulverizada possível, além do fornecimento de metais para baterias e o próprio preço desse componente.
A Alemanha, maior economia da Europa, tem argumentado sobre as dificuldades de atingir as metas estabelecidas para 2035, mas continua avançando na substituição da frota, ultrapassando em 2021 a marca de 1 milhão de carros elétricos. Nesse mesmo período, a Comissão Econômica da ONU para Europa (Unece), revelou que as vendas de carros elétricos no continente já representam 10% da fatia do mercado. É importante destacar que a maioria dos países do velho continente tem políticas de
incentivos fiscais e financeiros para estimular a mencionada transição.
O fato é que independentemente dos prazos e das metas, essa é uma tendência já em curso na Europa, América do Norte e parte da Ásia, ou seja, regiões que abrigam as sedes dos principais grupos automotivos do mundo. E como fica o Brasil nesse tema? País continental e com matriz de transporte predominantemente rodoviária.
O que se percebe é que ao seu tempo a política de descarbonização da indústria automobilística avançará também na América do Sul. No caso brasileiro, deve-se destacar a possiblidade de inclusão do etanol nesse processo, somando-se a opção de um combustível renovável e de tecnologia já conhecida.
De qualquer forma, é de fundamental importância que a transição para os carros elétricos e o processo de descarbonização seja analisado e planejado no que se refere ao impacto na cadeia produtiva automobilística brasileira.
Não seria o caso de se retomar o debate, por vezes polêmico, sobre a política industrial do País? Qual seria o efeito nos médio e longo prazos de uma mudança tão significativa na extensa cadeia automotiva no Brasil? Alguns especialistas destacam, por exemplo, que as plantas industrias dos modelos elétricos são mais enxutas e a manutenção dos veículos demandam uma quantidade menor de peças e serviços
automotivos.
Para se ter uma noção inicial do ambiente que será afetado direta e indiretamente no Brasil, a tabela a seguir apresenta os dados da RAIS 1 do Ministério do Trabalho e Previdência, que indicavam que em 2020 existiam mais de 340 mil empresas na cadeia automobilística, gerando cerca de 1,28 milhões de postos de trabalho. Vale sublinhar que essas informações são de empresas e empregos formais.
É de fato um dos mais extensos segmentos da indústria, que deverá passar por mudanças estruturantes envolvendo investimentos em inovação, adaptação das plantas industrias e dos prestadores de serviços, e capacitação de mão-de-obra.
Desafios que envolverão os grandes grupos automobilísticos, com maior capacidade de adaptação, mas também as pequenas industrias e prestadores de serviços, cuja as mudanças podem ser bem mais desafiantes.
*Paulo Guimarães é economista, doutorando pela Universidade de Lisboa e Sócio Diretor da Ceplan Consultoria Econômica
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