Ademilson Saraiva: Investimentos e empregos em Tecnologia sentem impacto da elevação dos juros

O economista Ademilson Saraiva analisa as turbulências no mercado mundial de tecnologia, puxada pela alta dos juros
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

Embora a pandemia tenha lançado holofotes sobre a emergência do investimento em tecnologia da informação e, especialmente, da necessidade de mão de obra com formação profissional tecnológica para atender a demanda crescente de startups e de transformações em grandes empresas, não há apenas dois anos que o mercado de empresas com base tecnológica vive um pump em aporte de capitais de risco visando o crescimento acelerado das ações.

Economista fecomércio-PE
Economista, Ademilson Saraiva. Foto: Maker Mídia

Desde 2009, em um ambiente mundial de juros baixos, investidores de altos riscos viram em empresas de tecnologia como Uber, Airbnb e WeWork, a oportunidade de auferir rápidos e elevados retornos desse mercado em franca expansão, esperando que elas emulassem, com o tempo, o patamar de empresas com modelos de negócio igualmente disruptivos, como a Alphabet (Google), a Amazon e o Facebook.

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Nos Estados Unidos, foram anos em que o Federal Reserve manteve a federal funds rate (equivalente à Selic no Brasil) oscilando entre 0,00% e 0,25% ao ano, para dar fôlego à economia após a crise financeira internacional de 2008. No Brasil, a Selic, que oscilara bruscamente de 13,75% a 7,25% ao ano entre 2009 e 2013 e ultrapassaria, após 10 anos, a barreira dos 14,0% a.a. em 2016, em meio à crise política e econômica, seguiu em uma queda vertiginosa nos anos seguintes enquanto a economia patinava em baixo crescimento, até atingir o piso histórico de 2,0% em meados de 2020, durante a pandemia.

O baixo custo do capital, com taxas de juros pouco atrativas ao longo da última década, foi fator imprescindível para estimular o investimento em negócios de tecnologia. Mesmo quando os EUA experimentaram um período de elevação da taxa básica de juros entre 2015 e 2019, outro fator colaborou para que os investimentos nas startups se mantivessem aquecidos: o Vision Fund, fundo de investimentos da SoftBank, corporação japonesa da área de telecomunicações. Em 2017, o Vision passou a investir bilhões de dólares em negócios baseados, especialmente, em aplicações de inteligência artificial que revolucionassem indústrias e serviços tradicionais, em áreas como logística, saúde, educação e transações imobiliárias.

Os aportes da SoftBank influenciaram desde então o crescimento dos negócios em TI no mundo todo, com destaque inclusive para o Brasil, que detém mais que a metade do volume de investimentos da multinacional na América Latina. Investimentos importantes, que viabilizaram o sucesso de startups e do mercado de trabalho em tecnologia, levando a uma busca crescente por cursos nas áreas de desenvolvimento de software, ciência de dados e inteligência artificial, tendo em visto a oportunidade de bons salários e benefícios no setor.

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Agora, em um cenário de inflação global ascendente, com o essencial (alimentos e energia) ficando cada vez mais caro, depois de uma pandemia que mexeu com as cadeias de suprimentos e uma guerra que afeta as matrizes energéticas e o mercado de comodities, o aperto monetário dos Bancos Centrais pelo mundo tem impactado sobremaneira a continuidade de investimentos como os da SoftBank. Isso porque, com taxas de juros mais altas e o aumento de incertezas em nível mundial, os investimentos em títulos públicos ou outras aplicações indexadas são mais atraentes que os investimentos produtivos, como as startups, de mais alto risco.

O reflexo imediato tem sido no mercado de trabalho do setor de tecnologia. É crescente a lista de relatos de demissões em massa em função da debandada de investidores que vem afetando empresas como QuintoAndar, Loft, Facily, Olist e Mercado Bitcoin.

Os profissionais da área já convivem há algum tempo com a expectativa de que a bolha tech no mercado de trabalho venha a estourar. Não se sabe ao certo se esse momento chegou ou se chegará de fato. É importante constatar que, a despeito da fase ruim para as startups, o talento dos profissionais das áreas de tecnologia da informação para o desenvolvimento de negócios é bastante cobiçado entre empresas mais tradicionais, especialmente no Brasil, que ainda é carente de inovação em diversas regiões e em muitos setores, como no agronegócio e nos setores de energia e logística, que podem ajudar a estabilizar a empregabilidade da área no médio prazo, a depender de um ambiente mais propício para investimentos no país.

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