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A política de equiparação tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afetou diretamente o etanol, mas não deve provocar grande abalo nas exportações do biocombustível produzido no Nordeste. De janeiro a dezembro de 2024, o Brasil exportou 2,7 bilhões de litros de etanol, dos 35 bilhões produzidos. Desse total, 41,8% foram adquiridos pela Coreia do Sul, maior compradora do produto brasileiro. Os Estados Unidos consumiram 16,3%, ficando em segundo lugar, seguidos pela Holanda, com 8%.
As exportações do Nordeste não chegam a 0,5% da produção. A região gera cerca de 2,4 bilhões de litros por ano e, em alguns períodos, chega a exportar 1 bilhão, grande parte para países asiáticos.
Na hipótese de uma queda no número de compradores norte-americanos, o Brasil seguirá vendendo a países como Nigéria, Filipinas, Singapura, Japão, Índia, Gana e Camarões, entre outros, que já compram o produto brasileiro, podendo abrir novos mercados.
A Renewable Fuels Association (RFA), principal entidade representativa do setor de biocombustíveis nos Estados Unidos, avalia que a medida restabelece uma relação comercial justa e recíproca no setor de etanol com o Brasil. O presidente da RFA, Geoff Cooper, é um crítico da política comercial brasileira. Ele reclama que, enquanto o etanol brasileiro tem acesso praticamente livre de tarifas ao mercado americano desde 2012, o Brasil passou a impor tarifas e barreiras comerciais ao etanol dos EUA a partir de 2017, reduzindo drasticamente as exportações americanas. Elas caíram de 489 milhões de galões em 2018, com valor de US$ 761 milhões, para apenas 28 milhões de galões em 2024, totalizando US$ 53 milhões.
Mas, nessa conta, Geoff precisa considerar a desvalorização do real, que exerceu forte influência nas exportações norte-americanas. “Os números não refletem a realidade histórica dos últimos cinco anos. Quando o real está valorizado, os EUA tendem a aumentar ainda mais suas exportações para o Brasil”, diz o presidente do Sindicato do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha.
Pegada de carbono
Para entidades do setor sucroalcooleiro brasileiro, não há injustiça tarifária, já que o etanol nacional tem um diferencial ambiental reconhecido internacionalmente. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e a Bioenergia Brasil se posicionaram, em nota, ressaltando que esse diferencial precisa ser considerado. As entidades entendem que a medida de Trump coloca no mesmo patamar o etanol do Brasil e dos Estados Unidos.
Produzido a partir da cana-de-açúcar, o etanol brasileiro tem uma pegada de carbono muito menor que o etanol de milho americano – que, em alguns casos, chega a usar diesel em seu processo produtivo.
“Os EUA falam em tarifa recíproca, mas o etanol de cana é considerado um produto avançado, devido ao seu diferencial ambiental. Portanto, não se pode falar em reciprocidade. Eles exportam etanol de milho para cá, enquanto nós enviamos o de cana para lá, que é inclusive certificado por eles como um biocombustível avançado em termos ambientais”, ressalta Cunha.
O presidente do Sindaçúcar acrescenta que os Estados Unidos têm ainda um programa de subsídios que não encontra paralelo no Brasil e é sustentado pela Farm Bill, lei que protege a agricultura norte-americana. “Eles têm uma visão protecionista que não foca na questão ambiental. Tanto é que o governo dos EUA está fora da COP-30. Eles também não seguem plenamente as diretrizes da OMC, que estabelece regras para minimizar distorções no comércio internacional devido a subsídios”, sustenta Cunha, que também é vice-presidente da Bioenergia Brasil.
![Renato Cunha](https://movimentoeconomico.com.br/wp-content/uploads/2023/10/hidrogenio-verde-renato-cunha-novabio.jpeg)
Os norte-americanos podem argumentar que o Brasil tem o RenovaBio, mas os propósitos são bem diferentes. O RenovaBio é a Política Nacional de Biocombustíveis do Brasil, criada para incentivar a produção e o consumo de biocombustíveis, como etanol e biodiesel, com foco na redução das emissões de carbono. Instituído pela Lei 13.576/2017, o programa busca garantir previsibilidade para o setor de biocombustíveis e ajudar o Brasil a cumprir seus compromissos no Acordo de Paris.
O RenovaBio é uma política de mercado baseada em incentivos ambientais, enquanto a Farm Bill oferece subsídios diretos ao setor agrícola, incluindo produtores de etanol de milho. Por isso, enquanto o Brasil enfatiza que seu modelo valoriza a sustentabilidade, os EUA argumentam que sua política protege o setor agrícola nacional.
Etanol dos EUA para o Nordeste
Antes da forte desvalorização do real, os EUA chegaram a exportar mais de 1 bilhão de litros para o Brasil, com mais de 90% desse volume destinado ao Nordeste. “O etanol deles chega em plena safra da região, prejudicando os negócios no setor e gerando desemprego. Eles não se dispõem a programar esse abastecimento, o que é danoso para a produção nordestina”, reclama Cunha.
O envio de etanol norte-americano excedente ao Nordeste em plena safra reflete a falta de uma política para o biocombustível. “A produção poderia ser facilmente absorvida pelo mercado norte-americano se o etanol fosse incorporado à gasolina, como se faz aqui no Brasil”, diz o presidente do Sindaçúcar.
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