A região Nordeste concentra 23% do total de mulheres empreendedoras do Brasil. É a segunda região com o maior índice de donas de negócio, atrás somente do Sudeste, com índice de 44%. Mas, as mulheres dessa região, em comparação com as das outras partes do País, tendem a ter negócios menores, menos formais e com níveis mais baixos de bem-estar.
Empreendedoras do Nordeste têm ainda menor renda média e maior dificuldade de acesso a crédito em comparação com outras regiões, o que aponta para a necessidade de políticas públicas específicas para os estados da área.
Os dados são do Panorama do empreendedorismo feminino no Brasil, uma produção feita em parceria pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), publicada em agosto deste ano.
Neste 19 de novembro é comemorado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para destacar quem lidera empreendimentos, gera empregos e ajuda a promover a transformação social.
Empreendedorismo feminino
Mais do que necessidade ou oportunidade, no Nordeste, as mulheres começam a ser levadas para o universo do empreendedorismo “justamente através de programas de assistência social que buscam tirá-las de uma condição de vulnerabilidade e transformá-las em empreendedoras”, explica Priscila Lapa, gerente de políticas públicas do Sebrae Pernambuco.
Geralmente, são pessoas que buscam uma formação específica mais tarde. Elas primeiro desenvolvem a habilidade em uma atividade laboral — seja fazer um bolo, trabalhar na área de culinária ou beleza —, adquirindo uma habilidade técnica antes de se tornarem empreendedoras. “Por isso, o processo formativo dessas empreendedoras acaba trazendo resultados para o negócio, mas nem sempre está ligado diretamente à escolaridade formal.”
Em comparação com os homens, mulheres empreendem mais por necessidade do que por oportunidade com índices de 34% e 45,3% , respectivamente, como mostra o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) por sexo de 2023. Por outro lado, a diferença de mais de dez pontos porcentuais também está presente na evolução da proporção da taxa de oportunidade para empreendedores iniciais do sexo feminino mais recente.
Enquanto para os homens o último aumento foi de 5,4%, para as mulheres, o crescimento foi de 11,1%. “Quando surge uma segunda chance, a mulher vai em busca daquilo que ela gosta, do que lhe dá prazer, ou da oportunidade que aparecer”, explica Cleyson Monteiro, psicólogo clínico especializado em atendimento a mulheres e sofrimento psíquico feminino.
“Se analisarmos dados do Ministério do Trabalho sobre empreendedorismo e abertura de MEIs (Microeempreendedores individuais), veremos que as mulheres estão à frente. Elas abrem mais empresas e têm maior longevidade nos negócios do que os homens, porque estudam mais”, explica Monteiro.
A observação é corroborada pela analista do Sebrae, que enfatiza a necessidade do oferecimento de “soluções mais simples, que se adaptem ao horário disponível dessas mulheres para que participarem de programas de capacitação, e proporcione maior acesso (à qualificação).”
Setores e desafios para o crescimento
Mesmo que, em todo o Brasil, o empreendedorismo feminino seja majoritariamente (57,6%) ligado aos setores de alimentos, moda e beleza, outras áreas também fazem parte do dia a dia dessas empresárias. No entanto, no Nordeste, mulheres são menos presentes em setores como ciência, tecnologia e saúde.
Essa “sub-representação” é entendida no relatório do Governo Federal como uma “desigualdades regionais” que é “consequência da discriminação”.
A principal característica do empreendedorismo feminino atual, por outro lado, é a “constante evolução e desenvolvimento da mulher, que busca seu espaço e fazer o que gosta”, detalha Monteiro.
O empreendedorismo, logo, explica Priscila, é sua via das mulheres para “contribuírem para a geração de riqueza e, assim, alcançarem uma renda melhor e uma condição de vida mais digna.”
“Entendemos que, ao promover essa transformação na base e trazer essas pessoas para um universo que é sustentável, onde possam exercer sua criatividade e se desenvolver como seres humanos, estamos não apenas praticando políticas públicas de desenvolvimento, mas também promovendo justiça social.”
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