Era para ser uma mera formalidade a aprovação pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) da indicação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, para receber a Medalha Antirracista Marta Almeida de 2024. No entanto, por pouco, a homenagem não foi negada nesta terça-feira (19), justamente no dia anterior à celebração do Dia da Consciência Negra. Nos momentos seguintes à votação, discursos inflamados dos deputados defendendo as suas posições a favor e contra a honraria, num debate que espelha a polarização da política brasileira.
O placar marcava a presença de 30 deputados, mas apenas 27 votaram. Para que a homenagem fosse aprovada, 25 parlamentares precisavam votar “sim”. Mas a votação teve início e o placar empacou em 24 favoráveis, 3 contra (Abimael Santos, Joel da Harpa e Renato Antunes, todos do PL). O tempo foi passando e a sensação de constrangimento foi tomando conta do plenário.
Autora da proposição, a deputada Rosa Amorim procurava mais um deputado para aprovar a concessão da medalha. Quando estava quase encerrada a votação, ela conseguiu convencer o deputado Abimael Santos a mudar o voto, conquistando, assim, o número mínimo necessário para que a proposta fosse aprovada.
Assim que a votação acabou, a deputada Dani Portela (PSOL) foi ao microfone e lamentou a atitude dos deputados que votaram contra.
Para ela, a postura representava a “pequenez” dos deputados “às vésperas do Dia da Consciência Negra”. “O racismo institucional precisa ser combatido aqui e o combate começa neste Plenário. Quero registrar meu voto favorável e dizer da vergonha que senti aqui hoje de alguns colegas desta Casa”, enfatizou
Autora da homenagem, a deputada Rosa Amorim (PT) criticou o posicionamento dos colegas. “Parte da bancada do PL, da bancada bolsonarista, vota contra uma medalha muito importante para o avanço da pauta racial no Estado de Pernambuco, e vota contra um símbolo muito importante dessa luta nacional, que é Anielle Franco. Que isso fique registrado”, ressaltou.
Deputado questiona ação de Anielle no Estado
Já Renato Antunes (PL) afirmou não ser contra a Medalha Antirracista e reforçou que votou favorável a todas as demais indicações. Ele ressaltou que, de acordo com a norma que disciplina prêmios e medalhas na Alepe, a honraria é destinada a pessoas que tenham reconhecida atuação de luta antirracista no Estado.
“A senhora Anielle Franco não tem nenhum serviço relevante prestado para Pernambuco, conforme prevê o nosso regimento, e por isso o meu voto contrário”, justificou.
Em seu discurso, Dani Portela lembrou que a ministra Anielle Franco esteve em Pernambuco neste mês para assinar, com a governadora Raquel Lyra, o Plano Juventude Negra Viva, um programa federal para reduzir a vulnerabilidades e ampliar direitos para jovens negros no Brasil.
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