Estradas em PE: demora para solucionar gargalos afeta a economia

Estradas como a BR-101, no Grande Recife, a BR-104, no Agreste, e a PE-60, no Litoral Sul, têm gargalos que prejudicam atividades econômicas e põem em risco a população
estradas
BR-101 tem vários gargalos ao longo dos 30 quilômetros em que corta o Grande Recife. Foto: DNIT

Com uma malha rodoviária reconhecida como obsoleta pelos principais porta-vozes da engenharia civil, Pernambuco ainda caminha a passos lentos para reverter esse cenário. E em rodovias estratégicas para setores produtivos, a situação é ainda mais dramática porque tem levado, já agora, à perda de recursos financeiros para empresas, com dificuldades para escoar a produção, e para o próprio poder público, quando gasta com a assistência à saúde de pessoas acidentadas em regiões densamente povoadas. O assunto foi abordado na terça-feira (23) em audiência pública na Assembleia Legislativa (Alepe).

Na ocasião, um caso emblemático citado foi o da BR-101, repleta de gargalos ao longo dos 30 quilômetros em que corta a Região Metropolitana do Recife. Quando segue em direção ao Porto de Suape, por exemplo, a produção do Polo Automotivo de Goiana precisa passar pelo trânsito pesado da rodovia no município de Abreu e Lima, em meio ao comércio popular e a engarrafamentos gerados pela baixa velocidade e às travessias de pedestres. O que mais preocupa os especialistas é que o problema não será resolvido mesmo se o Arco Metropolitano, pensado para desafogar a BR-101, sair do papel.

- Publicidade -

“Abreu e Lima ainda era distrito de Paulista em 1975, quando trabalhamos na duplicação da BR-101, e já constatávamos que era preciso um traçado que livrasse a travessia por ali. É um tráfego pesado que passa por lá e que, além de afetar a economia, leva a muitos acidentes, porque é uma rodovia federal passando por uma área densamente povoada. O Arco Metropolitano não atenderá aquela região. O Miniarco resolve essa questão e precisa voltar à pauta”, defendeu o engenheiro Maurício Pina, que participou da audiência representando o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea).

Arco Metropolitano: após anos de atraso, obra deve iniciar até dezembro

O Miniarco foi lançado pelo Governo de Pernambuco em 2016 como alternativa temporária ao Arco Metropolitano, que já naquela época enfrentava entraves burocráticos para sair do papel. As obras previam a implantação de um novo traçado de 14,4 quilômetros entre o entroncamento com a PE-35, na entrada da Ilha de Itamaracá, e a intersecção com a PE-15, na altura do Hospital Miguel Arraes, desafogando o trecho da BR-101 em Abreu e Lima, por onde passam 46 mil veículos por dia. O projeto teria orçamento de R$ 160 milhões e envolveria a concessão à iniciativa privada, mas, até agora, não avançou.

Na audiência pública, porém, o Governo de Pernambuco demonstrou que, em vez do Miniarco, a aposta mesmo é no Arco Metropolitano, graças à relação com o Governo Federal. Segundo o presidente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Rivaldo Melo, após anos de atraso, o projeto executivo do trecho sul, entre a BR-101 Sul, na altura do Cabo de Santo Agostinho, e a BR-232, já está sendo finalizado. A previsão é de que a gestão estadual execute essa parte. Já ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) caberia a etapa final desse trecho, entre a BR-232 e a BR-408, na altura de Paudalho.

- Publicidade -
estradas
Arco Metropolitano é alternativa para desafogar a BR-101, mas enfrenta anos de atraso. Foto: DNIT

“Já estamos finalizando o projeto executivo do Arco Metropolitano. A ideia é licitar e começar essa obra ainda este ano, pelo trecho sul”, disse o presidente do DER, em referência ao Lote 2 da obra, que terá 27 quilômetros e deve custar R$ 600 milhões.

Não há definição, porém, sobre o Lote 1, entre a BR-101 Norte e a BR-408, ligando Goiana a Paudalho e com um traçado que passa pela Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia-Beberibe, o que vem gerando protestos de pessoas ligadas ao movimento ambiental. “Temos uma superintendência de Meio Ambiente no DER porque há muitos gargalos. Tudo que a gente vislumbra que pode ser um impacto na obra está sendo tratado previamente para que a gente tenha o mínimo de interferência nessa execução, para que ela de fato aconteça”, completou Melo.

Estradas: gargalo afeta indústrias em Jaboatão e no Cabo

O Arco Metropolitano como um todo deve ter 65 quilômetros e será uma alternativa para o setor produtivo em relação à BR-101, que, segundo o presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis em Pernambuco (Abenc-PE), Stenio Cuentro, já não comporta há muito tempo a operação que tem recebido. “Em 1975, quando a BR-101 foi duplicada naquele trecho, era uma rodovia. Hoje é uma via urbana e ela precisa ser operada nessa condição. Caso contrário, por mais que se faça obras no rolamento, vai se degradar e causar muitos acidentes e mortes”, avaliou o especialista, que já atuou na diretoria do DER.

Para Cuentro, outra prova de que a rodovia já não suporta o tráfego que tem é outro gargalo, este situado ao sul da Região Metropolitana, na altura da fábrica da Vitarella, em Jaboatão dos Guararapes. No local, há um entroncamento com o antigo traçado da rodovia, que segue por Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho. Com tempo perdido nas estradas e mais suscetível a acidentes na operação, o setor produtivo perde eficiência e acumula prejuízos, o que, naquele trecho, afeta o complexo industrial de Jaboatão dos Guararapes e do Cabo de Santo Agostinho e também quem segue para Suape.

“Isso passa pela questão de não haver o modal ferroviário para transporte de carga de longas distâncias e para transporte de passageiros. As pessoas vão para o carro e geram todo aquele gargalo ali e em outros pontos da rodovia”, afirmou Cuentro.

O problema incomoda tanto o setor produtivo que, na semana passada, o Movimento Atitude, formado por empresários pernambucanos, anunciou ter firmado um acordo de cooperação técnica com o DNIT para elaborar os projetos básico e executivo para a implantação de soluções viárias na altura do quilômetro 84 da BR-101, onde há a intersecção problemática. A solução ainda será definida, mas pode ser uma grande rotatória ou mesmo viadutos para aliviar o gargalo na localidade.

“O DNIT estabeleceu esse acordo para que o grupo assuma a contratação de uma empresa de engenharia para fazer o projeto, com entrega daqui a seis meses. Estamos muito sensíveis à necessidade de obras que melhorem a circulação viária naquela região”, afirmou o superintendente do DNIT em Pernambuco, Bruno Bittencourt.

Estradas
Duplicação da BR-104, no Agreste de Pernambuco, foi retomada em 2023, mas gargalo em Toritama não tem solução prevista. Foto: Semobi-PE

Problemas no acesso às praias e ao Polo de Confecções

Outro polo com problemas no acesso viário é o do turismo no Litoral Sul de Pernambuco. A PE-60, que começa no Cabo de Santo Agostinho e vai até São José da Coroa Grande, está degradada sem que haja previsão de melhorias. Na audiência, representantes da engenharia civil citaram com preocupação o fato de o traçado dessa rodovia, que continua em Alagoas com o nome de AL-101, a partir de Maragogi, estar em duplicação sem que uma reação similar aconteça em Pernambuco.

“A AL-101 está sendo duplicada e aqui a gente precisa de uma ação semelhante com nossa PE-60, que é a rodovia litorânea de Pernambuco, que dá acesso às praias do Litoral Sul e tem grande fluxo de turistas e de moradores daqueles municípios”, afirmou o engenheiro Maurício Pina, do Crea.

Já no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco, a espera é pelo término da duplicação da BR-104, retomada em 2023 após a resolução de entraves burocráticos entre o Governo de Pernambuco e o Governo Federal. Um primeiro trecho de cinco quilômetros entre Toritama e o distrito de Pão de Açúcar foi entregue no ano passado de um total de 13 que ainda precisam de conclusão. O maior gargalo, porém, é o perímetro urbano de Toritama, para o qual se defende um novo traçado.

“A gente fala da Transnordestina, da duplicação da BR-232 depois de São Caetano e de melhorias na BR-101. A obra da BR-104 é outra grande intervenção estruturadora para o Polo de Confecções e para que Pernambuco possa retomar seu lugar de destaque e galgar outras posições, haja vista a importância do estado”, defendeu o deputado Edson Vieira (União Brasil), ex-prefeito de Santa Cruz do Capibaribe, principal cidade do Polo de Confecções do Agreste, e presidente da audiência pública.

Bruno Bittencourt, do DNIT, prometeu que a obra da BR-104 será concluída até o fim do ano e que, mesmo sem a variante do perímetro urbano de Toritama, a melhoria do estado do pavimento já vai dar mais velocidade ao tráfego na região. “A obra da BR-104 foi retomada e é um momento importante para Pernambuco. Esse projeto vai ser concluído até o fim do ano”, garantiu.

Leia também: Empresários e deputado pedem recuperação de estradas a Raquel Lyra

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -