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30 anos do Plano Real que mudou o Brasil

O Plano Real conseguiu acabar com a inflação descontrolada que trazia muitos prejuízos ao País
Tãnia Bacelar
A economista Tânia Bacelar considera o Plano Real “um modelo ousado, inovador e eficaz”. Foto: Divulgação

Há 30 anos, era anunciado o Plano Real, que mudou definitivamente a economia brasileira, trazendo ativos até então desconhecidos na memória recente dos brasileiros: previsibilidade e estabilidade. “ A grande novidade foi a criação da Unidade Real de Valor (URV) e sua troca por uma nova moeda (o Real), indexada ao dólar – moeda da maior economia do mundo, que ostentava inflação controlada e tem ampla aceitação no mercado mundial -”, explica a sócia diretora da Consultoria Ceplan, a economista Tânia Bacelar.

“A URV valia R$ 647,50 ao ser criada em 1º de março e R$ 2.750,00 no dia de sua extinção e substituição pelo Real, em 1º de julho. Portanto, os preços mais que triplicaram em três meses”, lembra Tânia. O Plano Real contou com três fases. Primeiro, o planejamento iniciado em 1993, tendo à frente o então ministro Fernando Henrique Cardoso (FHC), economistas como Edmar Bacha, Pérsio Arida, entre outros ligados ao PSDB, às universidades PUC, do Rio de Janeiro, e a UNB, de Brasília.

Quando foi anunciado, os brasileiros passaram a conviver com a URV, que era “a moeda da conta”. O Banco Central atualizava, diariamente, a URV, em cruzeiros reais, a “moeda do pagamento”, classificação dada pelo próprio Banco Central (BC). Em 1º de julho de 1994, a URV foi igualada a um Real 1 e desapareceu, como já contou Tânia, que considera o Plano Real um modelo “ousado, inovador e eficaz”. 

Plano Real FHC
Fernando Henrique Cardoso era o então ministro da Fazenda/Foto: Divulgação /PSDB

A principal vitória do Plano Real, segundo Tânia, foi “romper com a hiperinflação e sobretudo com sua ‘irmã siamesa’: a inercia inflacionária, que só impulsionava para cima os preços…  O que nenhum outro plano havia conseguido…  Quem não experimentou a hiperinflação (novas gerações) não tem a mínima ideia do quanto ela era nefasta”.

Na época em que o plano surgiu, a classe média e os ricos tinham alguns mecanismos que protegiam a sua renda, como o gatilho salarial – uma espécie de correção –  e a correção também feita na conta bancária. “O fim da inflação foi um ganho para o cidadão mais pobre. A proporção de pobres saiu de 38% em julho de 1994 para 29% em janeiro de 1996, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É importante para a sociedade como ganho social”, resume o economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit), Edgard Leonardo. Ele considera que os principais legados do plano foram controlar a inflação e reduzir a miséria. 

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Presidente do Sistema Fecomércio-PE, Bernardo Peixoto, elenca como principal legado do Plano Real, a previsibilidade. “Deu oportunidade para as classes C,D, e E comprarem as coisas de forma parcelada. Inseriu milhões de brasileiros no mercado consumidor. O que eles perdiam de salário por causa da inflação, entrou para o consumo. Foi sensacional. Fez muita gente crescer. O comércio deu um pulo grande, principalmente na área de bens semi-duráveis”, resume Bernardo.

Para Bernardo, o controle da inflação beneficiou diretamente os pequenos e médios empresários e os trabalhadores de baixa renda. Eles sempre foram maioria no País.  

Depois de domada a inflação, o consumo das famílias passou a ter impacto maior no crescimento do PIB, ajudando a puxar o crescimento da economia. Somente como exemplo, o consumo das famílias registrou um crescimento de 8,6% em 1995, o primeiro ano depois  do Plano Real, segundo o estudo 28 anos da Economia Brasileira, de autoria de Gerson Gomes e Carlos Antonio Silva da Cruz, lançado pelo Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI em maio de 2023. Este estudo também mostra que a previsibilidade da economia também trouxe impacto em  vários outros indicadores,  como crescimento do PIB, exportações de bens e até um maior percentual de abertura comercial, comparando com o total do PIB do Brasil. 

Lançado no governo Itamar Franco (MDB), o Plano Real também trouxe consequências políticas. Ajudou a eleger o presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que governou o País de 1995 a 2002. Em 1994, FHC foi eleito em 1º turno com 55% dos votos. 

Jorge Jatobá
O economista Jorge Jatobá diz que o Plano Real é algo pra se comemorar até hoje. Foto: Divulgação

O dragão da inflação que corroía tudo

Em junho de 1994, a inflação acumulada dos 12 meses alcançou 4.992%.  Em 1995, a inflação ficou em 22%. E depois disso, um dos índices que mede a inflação oficial do Brasil, o IPCA passou de 9% ao ano poucas vezes, segundo informações do Banco Central. A inflação atualmente está em 4,81% ao ano. 

 “O maior legado do Plano Real foi sobretudo a estabilidade monetária. Foi a bem mais sucedida política macroeconômica que o País já teve”, lembra o sócio diretor da Ceplan Consultoria, o economista Jorge Jatobá, acrescentando que o País teve várias tentativas neste sentido no começo dos anos 90, como o Plano Cruzado, o Plano Collor.

E, para quem pensa que é possível conviver com uma inflação descontrolada, Jatobá explica que ela é “inaceitável”, porque destrói qualquer economia, retirando a previsibilidade dos agentes econômicos. “A alta da inflação tira a previsibilidade da economia e o planejamento do setor público e das empresas. O sistema de preços entra em colapso. Em 1926, na Alemanha, uma pessoa saía com um carro cheio  de dinheiro e voltava com metade do carro em mercadoria”, comenta Jatobá. 

Ele também cita que foi importante estabelecer metas para a inflação e que o Plano Real dotou o Banco Central de instrumentos mais poderosos para combater a inflação. A adoção do regime de metas para a inflação ocorreu em 1999. 

Jatobá, Tânia e Edgard Leonardo criticaram o fato do Plano Real  equiparar a moeda brasileira com o dólar norte-americano, o que ocorreu em julho de 1994. Depois, as autoridades brasileiras flexibilizaram o câmbio e ocorreram desvalorizações da moeda nacional.

“Nos últimos 40 anos, um dos marcos do Brasil foi o sucesso do Plano Real, de forma criativa e inovadora. É algo pra se comemorar até hoje”, conclui Jatobá. 

Mesa redonda sobre o Plano Real

O Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) realiza terça-feira (27) uma mesa-redonda, aberta ao público, sobre o Plano Real, às 19h, no auditório da instituição de ensino, localizada na Imbiribeira, ao lado do Geraldão. No evento, será apresentado um documentário e, em seguida, haverá uma roda de conversa sobre o assunto.

O economista Edgard Leonardo será um dos palestrantes. O debate também vai contar com a participação do professor universitário Paulo Alencar e do economista e sócio fundador da Tríade Capital André Morais.

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