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Embora com presença crescente, 9 entre 10 mulheres reclamam de machismo no agro

União feminina apareceu na pesquisa como uma grande força para avanço rumo à equidade de gênero no agro.
mulheres no agro
No agro, as mulheres se sustentam na união feminina/Foto: reprodução UMA

Novo levantamento do AgTech Garage, braço da rede PwC, sobre a presença feminina no agronegócio, mostra que apesar de se fazerem presentes em toda a cadeia do agro e terem alto nível de qualificação, as profissionais ainda enfrentam um cenário machista e desafios para se fazerem ouvidas e respeitadas no setor.

A segunda edição de 2023 da pesquisa #MulheresQueInovamOAgro revela que 9 em cada 10 mulheres entrevistadas relataram já terem passado por situações de machismo ou constrangimento no ambiente de trabalho.

“Estamos falando de uma amostra de 838 respondentes em todo Brasil que atuam inovando o agro antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira. Um sinal de que a tecnologia tem contribuído para criar novas oportunidades de carreiras, atrair e reter talentos femininos no setor”, diz Dalana Matos, Estrategista de Inovação do AgTech Garage (PwC).

Entre as situações machistas enfrentadas peloas mulheres estão interrupção masculina em uma conversa, a chamada Manterrupting. E 53,7% já passaram por isso. A pouca representação em eventos e reuniões atinge 50,4% delas. Receber explicação de algo óbvio por pessoas do sexo masculino é comum para 47,5% das entrevistadas.

Outro pontos merecem destaques

Entre as entrevistadas, 45,3% revelam que não são chamadas para contribuir em assuntos que dominam; 37,7%, dizem que já tiveram suas ideias apropriação (Bropriating); 37,7% foram vítimas de dominação da conversa ou sequestro de assunto por homens (Manologue); 36,7% costuma ouvir a repetição da explicação dada anteriormente (Hepeating) e 30,9% percebem a elevação do tom da voz de um terceiro para provar seu ponto de vista.

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A anulação em uma discussão (26,5%); violência psicológica com distorção da realidade (23,2%); julgamento pela maneira como estava se vestindo (18,3%); xingamentos ou comunicação desrespeitosa (11,3%) também são praticas relatadas pelas entrevistadas. Apenas 12,6% responderam não ter sido impactadas por nenhuma dessas situações.

Ambiguidade no Agro

Por outro lado, quando perguntadas se encontram acolhimento trabalhando no agronegócio, 76,7% disseram que sim, versus não (13,3%) e não sei dizer (10%). Para Dalana, esta ambiguidade demonstra o quão complexo é o cenário.

“Ao mesmo tempo em que 9 em cada 10 mulheres enfrentam situações de machismo ou constrangimento no ambiente de trabalho, 8 em cada 10 afirmam se sentir acolhidas trabalhando no agronegócio. A união feminina apareceu na pesquisa como uma grande força para seguirmos avançando rumo à equidade de gênero e acredito que ajude a explicar essa ambiguidade”, observa.

É possível constar isso em números. Quando o assunto é a origem da transformação no cenário em que vivemos hoje, a esmagadora maioria credita os avanços recentes à mudança no comportamento das mulheres, com maior independência (84,4%) e à maior união entre as elas (54,1%).

Outros 40,7% são atribuídos a ações de inclusão em empresas privadas; 24,2% à transformação social desde as escolas; 24% a políticas públicas de equidade de gênero e 22,7% ao apoio financeiro ao empreendedorismo feminino. Somente 13,7% das entrevistadas acreditam que a transformação em curso também tenha relação com a mudança no comportamento masculino.

Na pesquisa, as mulheres relataram se apoiar em cursos de capacitação (56,5%); grupos de mulheres (52,2%); apoio psicológico (36,9%); mentoria de carreira (36,3%); comitês de diversidade (17,5%); políticas de inclusão (13,4%) e canais de denúncia (6,4%) para suportarem o trabalho frente aos desafios do setor. “Não à toa, as mulheres entendem que a habilidade mais demandada delas no mercado do agronegócio pelas empresas é a inteligência emocional”, afirma Dalana de Matos.

Na lista de habilidades esperadas das profissionais do agro, a inteligência emocional aparece em primeiro lugar (67,5%), seguida da capacidade de resolver problemas (66,9%) e de liderar pessoas (58,8%). Já no ranking das habilidades em que elas mais se reconhecem, a inteligência emocional aparece na sexta posição (43,9%). Antes disso, elas se reconhecem primeiro: na capacidade de resolver problemas (79,1%), alta produtividade e eficiência (59,5%), liderança de pessoas (52,4%), habilidade de falar em público (46,2%) e capacidade analítica (45,7%) — todas “hard skills”, com perfil mais técnico do que comportamental.

Cenário de Inovação

Na visão das mulheres entrevistadas, o principal desafio para promover a inovação no agronegócio está na mudança cultural (69,8%) e na capacitação das pessoas (58,7%), estruturais para edificar o futuro do setor.

Em relação aos movimentos que terão maior impacto a longo prazo para o agronegócio, elas enxergam a tríade avanços tecnológicos (75,9%), mudanças climáticas (71,4%) e pessoas – com a mudança comportamental e geracional – (55%) direcionando os passos que serão percorridos nos próximos anos.

Nesse sentido, elas se veem contribuindo como agentes de mudança para as agendas que versam sobretudo a respeito da sustentabilidade e agricultura regenerativa (57,8%), educação no agronegócio (55,4%), gestão da mudança e cultura (53,9%), tecnologia no campo (49,6%), governança e gestão corporativa (47,4%), diversidade, pessoas e saúde mental (43,1%). “Mais do que nunca, as características que, por muito tempo, foram entendidas como sinais de fraqueza e incapacidade de uma gestão firme por parte das mulheres, hoje são vistas como forças que nos permitem olhar com sensibilidade e integridade para os desafios da humanidade. Não foi por acaso que o empoderamento das mulheres tornou-se um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”, lembra Dalana.

Na visão do AgTech Garage (PwC), a pesquisa de 2023 será fundamental para o ecossistema de inovação se aprofundar no contexto dessas mulheres que estão debruçadas profissionalmente no mercado do agro e poder propor ações afirmativas de mudança, em prol de uma maior equidade de gênero e valorização das profissionais do setor. “Uma das entrevistadas me disse: ‘Eu não respondi uma pesquisa, eu aprendi com esta pesquisa, que me ajudou a ganhar consciência das situações que eu vinha enfrentando e naturalizando”, conclui Dalana de Matos.

Quem são as mulheres que inovam  

As mulheres de 25 a 55 anos foram a maioria entre as entrevistadas, sendo 85,7% da amostra. Assim como as profissionais casadas (54,4%), autodeclaradas brancas (76,3%), que se identificam como cisgêneras (90,4%) e que não têm filhos (52,2%).

Como identificado na edição 2021 da pesquisa, as mulheres que inovam o agro são altamente instruídas e 64,5% delas têm, no mínimo, pós-graduação. Como área de formação, 35,6% vêm das Ciências Agrárias; 32,3% das Ciências Humanas; 19,1% das Ciências Exatas e 8,1% das Ciências Biológicas. Apenas 4,9% informaram não ter formação técnica. Além disso, 55,3% delas afirmam ter iniciado suas carreiras no setor, enquanto 44,7% fizeram transição de carreira.

Em relação à cadeia do agronegócio, elas se fazem presentes em todas as etapas produtivas. Das áreas administrativas do setor (37%) à prestação de serviços (34%), desenvolvimento de tecnologias (22,9%), produção agrícola (19%), P&D (18,6%), pecuária (12,9%), produção de insumos (11,9%), comercialização e distribuição (9,8%), agroindústrias (9,7%), tradings (4,4%) até o mercado consumidor (6%). E trabalham a partir de empresas de diversos portes: grandes (500+ colaboradores) 41,8%; médias (100 a 499 colaboradores) 13%; micro ou pequena empresa (até 99 colaboradores) 11,6%; propriedade rural 11,7%; startup 8,2%; consultoria 5,3%; academia ou instituto de pesquisa 1,4%; ONGs e terceiro setor 1,4%.

Entre as respondentes, há uma predominância ainda de mulheres em cargos de liderança e gestão. Quase um quarto delas se identifica como proprietária ou cofundadora de empresas (21,1%), gerente (18,9%) e especialista (16,8%). As coordenadoras (10,7%) e diretoras (6,6%) também têm representatividade na amostra. As estagiárias são 1,8% e as estudantes, 3,2%. As mulheres na operação somam 12,1% e 8,8% se identificam na categoria outros, como supervisoras, entre outras.

Entre as entrevistas, 47,1% residem no Estado de São Paulo, 14,2% em Minas Gerais, 6,6% em Mato Grosso, 5,7% no Paraná e 4,8% no Rio Grande do Sul. A pesquisa completa pode ser vista aqui: Pesquisa #MulheresQueInovamOAgro 2023 – AgTech Garage

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