Qual o futuro da indústria no Nordeste? Na visão dos líderes empresariais e economistas, essa resposta envolve a solução de, no mínimo, quatro gaps de competitividade da região. São eles: investimentos na transição energética, adaptação a mudanças na localização de operações de negócios (com a tendência ainda maior de inexistência de fronteiras entre os países), capacitação de capital humano altamente especializado e, claro, disponibilidade de ferrovias, portos, aeroportos e estradas modernas, entre outros equipamentos de infraestrutura.
Esse é o diagnóstico em meio a um cenário marcado pela melhoria na macroeconomia, com a taxa Selic iniciando ciclo de queda, inflação perdendo força e dólar abaixo de R$ 5,00. Um panorama que é marcado por outro fator positivo para o setor: a discussão, no Congresso Nacional, de uma reforma tributária em que o setor será um das mais beneficiados com redução de carga.
Apesar desses sinais promissores, empresários do setor e analistas estão, na maioria, cautelosos, com exceção das empresas paraibanas. Na Bahia e Pernambuco, por exemplo, o consenso é de que a mudança na trajetória dos juros, preços e moeda norte-americana, assim como a reforma tributária, vão beneficiar a indústria em todo o país. Até aí, tudo bem.
Rico x pobre
O problema é que as plantas instaladas no Nordeste terão que lidar com a competitividade mais baixa em relação às regiões mais ricas devido às variáveis elencadas como mais importantes.
Vale lembrar que, devido a suas fragilidades, a indústria regional, bastante beneficiada por incentivos fiscais, perde, num panorama em que a guerra fiscal tende a ser extinta gradativamente até 2032.
Portanto, o desafio que se impõe aos estados nordestinos, para a sonhada reindustrialização, é fazer um dever de casa bastante complexo. Além disso, a região vai precisar contar com políticas públicas do Governo Federal que contribuam de fato para a redução das desigualdades regionais, especialmente na competitividade.
Caminhos para retomada da indústria, segundo especialistas
Jorge Jatobá – Economista e sócio na Ceplan Consultoria
“O fato de a carga tributária ser menor (com a reforma tributária) para a indústria não vai favorecer a região. Será menor para o país como um todo, para todo o setor fabril. Também não vejo como a queda na taxa de juros básica e da inflação vai a favorecer de forma diferenciada ao Nordeste. Por outro lado, verifico que, após nove anos, os incentivos devem ser extintos. E acho que, nesse período que resta de incentivos, poucas empresas devem pleitear redução de impostos porque o prazo não é muito longo.
O que vai definir mesmo a atração de indústrias para a região não vai ser nem imposto, nem dólar, nem taxa de juros, e sim, fundamentalmente, os investimentos que os estados deverão fazer e precisarão fazer para melhorar a qualidade da infraestrutura econômica e do capital humano.
A questão que se coloca é se os estados nordestinos têm uma boa infraestrutura, portos, ferrovias, rodovias, aeroportos e mão-de-obra qualificada para as demandas da indústria.”
João Rogério Filho – Economista e sócio da PPK Consultoria
“Existe um diferencial competitivo para o Nordeste muito importante nas próximas duas décadas, que é a geração de energia. Esse sim, será o grande diferencial de atratividade para as indústrias se alocarem na região.
A questão da reforma tributária ou taxa de juros básica, dólar e inflação, na minha opinião, é de importância menor para a região, do ponto de vista da atratividade no país, a partir do momento em que esse efeito se distribui igualmente por todo o território nacional.
Acredito que a indústria, na região, seguirá, nos próximos quatro ou cinco anos, tendo os efeitos da retomada da economia e ainda com as particularidades das vantagens fiscais e algumas vantagens competitivas já detidas pelo Nordeste. A pergunta é o que virá depois?.”
Avelar Loureiro Filho – Presidente do Movimento Pró-Pernambuco (MPP) e empresário da indústria da construção civil
“A reforma tributária, de certa forma, é contrária à industrialização do Nordeste, porque não temos algumas vantagens competitivas de mão-de-obra qualificada em escala, o que o Sudeste, por exemplo, tem. Também não temos muita infraestrutura. Porém, o fundo regional que vai ser criado para compensar esses incentivos fiscais pode contribuir para equalizar essa relação desfavorável para os estados nordestinos.”
Carlos Henrique Passos – presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb)
O cenário de curto e médio prazos é promissor. Mas, há questões de médio e longo prazo que precisam ser trabalhadas pelo setor industrial na Bahia, assim como no Brasil. Caso o país deseje fazer a sua neoindustrialização, precisará investir na transição energética incentivada pelas principais economias mundiais.
E também acompanhar os movimentos globais de nearshoring (transferência de atividades de negócios para países vizinhos) e friendshoring (parcerias estratégicas entre empresas de países próximos). Para todas essas questões, vamos precisar investir maciçamente em educação e capital humano.
O Nordeste e a Bahia, nesse contexto, demandam uma visão mais estruturante que reduza os gaps advindos dos diferenciais competitivos que desfavorecem a indústria, como mão-de-obra e infraestrutura. Enquanto esses gaps não forem sanados, defendemos a necessidade de políticas de desenvolvimento regional que incluam benefícios fiscais para permitir uma maior competitividade da região.
Cézar Andrade – economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe)
“No contexto da globalização, a desvalorização do dólar frente ao real ajuda a desacelerar a inflação, já que as importações ficam mais baratas e isso impacta commodities como o petróleo que é refinado na Rnest (Refinaria Abreu e Lima). Isso beneficia a economia estadual como um todo.
É um cenário que pode estimular o crescimento e a expansão das empresas, impulsionar a geração de empregos e contribuir para um ambiente favorável ao investimento e desenvolvimento.
No caso da reforma tributária, com a redução da carga de impostos, é esperado que as indústrias instaladas no estado possam se tornar mais competitiva porque terão mais recursos para investir em tecnologia, inovação e capacitação de mão-de-obra. Outro impacto esperado é o aumento da produção industrial estadual, o que pode resultar em crescimento da oferta de produtos e serviços nos mercados interno e externo.
No entanto, para atrair novos investimentos no setor, Pernambuco dependerá de diversos fatores, além da redução da carga tributária e cenário macroeconômico nacional. É necessário que haja estabilidade política e jurídica, infraestrutura adequada, segurança pública, entre outros elementos que garantam a sustentabilidade e atratividade desses negócios.”
Paulo Perez – Empresário e sócio-diretor do Grupo BCI (Shineray do Brasil)
“A reforma tributária ainda é uma incógnita, uma vez que as alíquotas serão definidas em lei complementar. Afirmar que haverá redução na tributação, agora, é muito prematuro. Como existem exceções surgindo, podemos ter surpresas negativas. Particularmente, não acredito que esta reforma trará benefícios relevantes para o ambiente de negócios. A redução de 0,5% na taxa básica de juros é um excelente indicativo de que tempos melhores virão, mas o fato é que a redução da Selic em meio ponto percentual, isoladamente, ainda é muito pouco em relação ao peso dos juros sobre o setor produtivo.”
Paraíba
Francisco Gadelha – presidente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep) e vice da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
“Com o fim da guerra fiscal e um panorama econômico mais promissor, será a vez e a hora de estimular os investimentos locais, empresas nativas, o empreendedorismo local. Grandes e pequenas indústrias já instaladas na Paraíba serão estimuladas a gerarem mais emprego, num ambiente com menos impostos.
Além disso, esse panorama deverá atrair novos investidores para o estado, mesmo sem os incentivos. A Paraíba já tem atraído olhares de investidores nesse novo momento, com o horizonte do fim da guerra fiscal. Esperamos essa nova fase com grande expectativa, pois trará profundas transformações econômicas num estado com grande potencial de importação e exportação, como o nosso.”
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