Kleber Nunes
“Há vagas de emprego” é o anúncio que boa parte da população gostaria de ler, pelo menos os 10,6 milhões de desempregados, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por incrível que pareça, existe um outro Brasil onde existem oportunidades de sobra. É o setor de tecnologia da informação (TI) que tem visto as suas vagas encalharem e com isso o País está paulatinamente perdendo competitividade na área.
Só no Porto Digital, no Recife, calcula-se que há pelo menos 3.000 oportunidades de trabalho em empresas locais e estrangeiras que compõem o ecossistema do polo de tecnologia. Para os próximos dois anos, estimativas apontam que o país precisará de cerca de 800 mil profissionais para suprir a demanda do segmento de TI, que inclui funções como programador e engenheiro de software.
Embora o cenário seja de emergência para a economia brasileira, já que a área de TI em 2021 respondeu por 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com a Brasscom – Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais -, o investimento público na capacitação de profissionais é baixo.
“Infelizmente, o que vemos ao longo dos anos é pouco investimento na qualificação. É importantíssimo que se consiga financiar novos cursos superiores gratuitos na área de tecnologia, pois a formação universitária dá mais robustez para o profissional. Nós temos 120 mil formandos em direito por ano e apenas 10 mil nas graduações de computação, é claro o descompasso”, afirma a presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação em Pernambuco e na Paraíba (Assespro PE/PB), Laís Xavier.
Formação urgente em TI é o maior desafio
Formar profissionais é só uma das medidas urgentes para o País aproveitar todo potencial que tem no ambiente tecnológico, ações efetivas para melhorar a economia também precisam estar entre as prioridades. Laís explica que com a desvalorização do Real ante o Dólar os poucos profissionais que estão no mercado acabam migrando para as chamadas big techs.
“Um recém-formado hoje está ganhando, muitas vezes, o equivalente a R$ 7.500 como um funcionário júnior, isso é surreal e contribui para desmantelar o ambiente de negócios das empresas locais. É importante que nossas empresas se desenvolvam porque são elas que conseguem contribuir para mudar a realidade local, fazendo girar mais dinheiro e aumentando o poder aquisitivo naquele entorno”, defende a presidente da Assespro PE/PB.
Diante dos desafios, algumas ações têm sinalizado um caminho de mudança, mas ainda com impacto reduzido no setor de TI. Laís cita o programa Embarque Digital da Prefeitura do Recife, que oferta vagas para estudantes da rede pública de ensino cursarem o nível superior em tecnologia.
“Nós da Assespro, junto com a Softex Recife e a Seprope, lançamos este ano o Formação Acelerada em Programação (FAP). A primeira turma teve 250 alunos e vamos abrir mais para todo o estado. Há outras ações que têm levado o pensamento computacional para as crianças, esse é um investimento a longo prazo importante, mesmo que esse futuro adulto não siga a carreira na área de exatas”, diz Laís.
Na outra ponta, as empresas também têm buscado diminuir esse gargalo e investido elas mesmas na formação dos futuros profissionais de TI. É o caso da iniciativa Programadores do Amanhã, que tem o patrocínio da keeggo, parceira de companhias e startups, que trabalha na inclusão de estudantes negros e pardos concluintes do ensino médio em escolas públicas.
Os jovens aprendem programação e metodologias ágeis, recebem mentoria individual para desenvolver habilidades para o mercado de trabalho, além de acesso a curso de inglês e acompanhamento psicológico.
“Quando saem do ensino médio, muitos estudantes ainda não sabem o que vão fazer depois, a nossa ação traz condições dessas pessoas ingressarem em uma melhor posição no mercado de trabalho. Ao impactar esse aluno, impactamos também a família dele e outras pessoas da comunidade”, destaca a diretora de Cultura da keeggo, Amanda Diaz.
Debate para profissionais e empresas
Para debater essa situação do setor de TI, mas também orientar quem busca mudar de carreira ou estrear no mercado de trabalho nessa área, o Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) e o Porto Digital realizam um debate, na próxima segunda-feira (25), às 19h. O evento será gratuito e virtual pela plataforma Google Meet. Interessados podem se inscrever pelo link https://forms.gle/gP6MpW9FgdMutbSM8.
O encontro vai reunir a gerente de projetos do Porto Digital, Livia Bem, e o Pro-Reitor de Marketing, Vendas e Relacionamento de Unit-PE, Arthur Filgueiras. Os convidados também desmistificarão os caminhos para as empresas alcançarem a certificação e ingressarem no ecossistema do Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do país.
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