Por Samuel Santos
Nem só de belas praias vive o turismo no Nordeste. Ainda pouco explorados, os turismos criativo e de aventura estão perto de se consolidarem ainda mais na região. Em Pernambuco, o governo estadual lançou dois projetos para estimular viajantes a viverem novas experiências em municípios do interior, longe dos tradicionais roteiros do litoral. O estado segue como um dos mais bem-sucedidos no processo de retomada turística em meio a pandemia de Covid-19 e agora quer explorar ainda mais suas potencialidades e ganhar mais mercado nesse setor.
O Plano Estratégico para o turismo de aventura e a formação para o segmento de turismo criativo são ações que serão desenvolvidas em parceria com as prefeituras dos municípios. Os projetos ainda estão em fase embrionária, com a realização de levantamentos que vão nortear quais novos produtos serão trabalhados. A primeira fase, que inclui visitas técnicas e capacitações, já começou e deve ser concluída em junho de 2022.
“Precisamos explorar a capacidade turística de todas as regiões, fazendo a atividade acontecer no estado como um todo para diminuir as desigualdades regionais. A faixa litorânea sempre recebeu mais recursos e concentra boa parte da renda e do PIB local. Queremos mudar isso, pois o turismo também precisa ser uma ferramenta para gerar renda em outras regiões. Vamos fortalecer os destinos já conhecidos e descortinar novos”, afirma Rodrigo Novaes, secretário de turismo de Pernambuco.
O investimento para as capacitações, reconhecimento de campo e montagem das primeiras estruturas que vão passar a receber os visitantes em breve é de R$ 190 mil, dinheiro que será investido nos dois projetos, tocados em paralelo. Apesar do foco no interior, cidades da Região Metropolitana com menor participação nesses segmentos também serão contempladas.
Turismo de aventura
Desbravar roteiros e se jogar em atividades que exigem um contato mais íntimo com a natureza não é novidade para os viajantes que procuram Pernambuco como destino. No entanto, ainda são poucos os locais que oferecem um cardápio cheio de opções para o turismo de aventura. Experiências como rapel, voo livre, mergulho, trilhas, arvorismo e tirolesa podem ser vivenciadas em destinos como Bonito, Bezerros, Buíque, Gravatá, Recife, Fernando de Noronha, Petrolândia, Igarassu, Serra Talhada, Triunfo e Vicência, por exemplo.
Em parceria com a Adventure Travel Trade Association – ATTA, entidade internacional especializada no gênero, o governo estadual pretende ampliar a participação do estado nesse nicho, que cresceu bastante durante a pandemia.
“Vamos dar treinamento aos municípios, compartilhar informações sobre como o mercado enxerga o turismo de aventura e fazer viagens de reconhecimento nos destinos priorizados para estudar como Pernambuco pode ser competitivo. São mais de 30 atividades que podem ser combinadas para explorar os aspectos naturais e culturais de uma cidade ou região”, explica Gustavo Timo, vice-presidente da ATTA no Brasil.
Outro atrativo que pode fazer a diferença e impulsionar a economia local diz respeito ao perfil do turista de aventura. “O turista de aventura tem um gasto mais alto, investe mais por algo quase que exclusivo, diferente do turismo de massa. Do ponto de vista ecológico é mais sustentável, já que são pequenos grupos e há um controle maior. Para quem investe há um impacto positivo também, já que esse visitante costuma estar mais aberto a coisas mais simples. Ou seja, é possível investir menos, em negócios menores e com expectativa de bom retorno”, completa Timo.
Nessa fase serão contemplados 33 municípios. São eles: Alagoinha, Bezerros, Bonito, Buíque, Brejo da Madre de Deus, Carnaíba, Carnaubeira da Penha, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru, Fernando de Noronha, Gravatá, Goiana, Ibimirim, Igarassu, Ipojuca, Ilha de Itamaracá, Jaboatão dos Guararapes, Macaparana, Pedra, Petrolândia, Recife, Salgueiro, Santa Cruz do Capibaribe, São Benedito do Sul, São José da Coroa Grande, São José do Egito, Serra Talhada, Sirinhaém, Venturosa, Vicência,Tamandaré, Taquaritinga do Norte e Triunfo.
Turismo criativo
As ações de fortalecimento do turismo criativo vão ser feitas em conjunto com o Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano (IADH), que é ligada à Recria – Rede Nacional de Turismo Criativo. O primeiro passo é uma capacitação técnica que busca incentivar os empreenderes locais a criarem iniciativas, produtos e serviços e rotas integradas entre os destinos.
“A matéria prima do turismo criativo são os saberes, os costumes, a gastronomia… e o que a gente precisa é descobrir essas potencialidades, conectá-las e torná-las atrativas para esse viajante que chega no lugar com um desejo de mergulhar naquela região. Todo o estado tem um potencial inesgotável de turismo criativo. Recife já é reconhecido como polo indutor desse segmento no Brasil, então precisamos expandir isso ainda mais”, comenta Larissa Almeida, cofundadora da Recria.
Assim como no turismo de aventura, o capital inicial para colocar as ações relacionadas ao turismo criativo em prática é baixo e não requer grandes investimentos em infraestrutura. “O objetivo não é gerar apenas novos produtos, mas gerar no viajante um outro olhar sobre o turismo, voltado ao cuidado com a natureza e valorização das tradições, criando territórios mais vibrantes”, afirma Larissa Almeida.
O projeto de ampliação do turismo criativo vai se dar em quatro etapas: mapeamento cultural, atuação colaborativa, elaboração, testagem e estruturação de roteiros integrados entre os vários municípios e comercialização e promoção dos destinos. Os primeiros encontros virtuais com os municípios estão agendados para os dias18 de fevereiro e 14 de março.
Serão contempladas 28 cidades, divididas em quatro grupos. São eles: Grupo 1 (Lagoa do Carro, Vicência, Tracunhaém, Nazaré da Mata, Macaparana, Timbaúba e São Vicente Férrer); Grupo 2 (Sairé, Barra de Guabiraba, Bonito, Gravatá, Agrestina, Panelas e São Joaquim do Monte); Grupo 3 (Santa Cruz do Capibaribe, Taquaritinga do Norte, Toritama, Riacho das Almas, Jataúba e Brejo da Madre de Deus) e Grupo 4 (São José do Belmonte, Serra Talhada, Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde, Floresta, Belém do São Francisco, Petrolândia e Ibimirim).
Leia também – Proposta insere o turismo na Política Nacional dos Recursos Hídricos
