De Fortaleza*
As palavras mais ouvidas na abertura da 54ª Reunião Anual da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), nesta quarta-feira (15), na sede do Banco do Nordeste, em Fortaleza, foram: descarbonização e mudança climática.
Termos que não convergem. Um precisa ocupar mais espaço, para tirar o protagonismo do outro. Sem o avanço das energias limpas, as tragédias climáticas seguirão avançando.
Os representantes dos bancos de desenvolvimento olham para os danos causados ao Rio Grande do Sul e tentam dimensionar o tamanho do esforço que será necessário para recuperar a economia do estado, onde mais de 90% das indústrias estão debaixo d’água, conforme a Federação do setor no estado. A perda de empresas, empregos, renda e arrecadação dificulta ainda mais a reconstrução.
A tragédia gaúcha se tornou um símbolo dos eventos extremos que podem atingir qualquer país. E os bancos precisam estar prontos para agir quando o pior acontecer. Por isso, o presidente da Alide, Luis Antônio Ramirez, disse que as instituições financeiras estão empenhadas na troca de experiências para traçar estratégia conjunta e dar resposta aos danos climáticos. Algo a ser impresso na Declaração de Fortaleza, que será apresentada na sexta-feira, ao final do evento.
Bancos e descarbonização
Já o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que é vice-presidente da Alide, ressaltou a importância de descarbonização da produção, inclusive com incentivos. “Se não tivermos incentivos para o setor eólico, por exemplo, vamos perder parte da produção nacional de equipamentos”, exemplificou.
Apontado pela Bloomberg como o banco que mais financiou projetos de energia renovável no mundo, cerca de US$ 35 bilhões, o BNDES intensifica sua presença, segundo Mercadante, no financiamento da segunda geração desse tipo de energia, que é o hidrogênio verde (H2V).
O banco está atuando ainda sobre os setores aéreo e naval. Para o primeiro, que a partir de 2027 deverá adotar combustível renovável por determinação da ONU, o banco está financiando a produção de SAF, que é o combustível sustentável da aviação.
Grande também é o desafio no naval. “Cerca de 90% de todo o transporte de mercadorias do planeta são feitos por navios. Eles terão multas se não descarbonizarem o combustível. Mas isso traz oportunidades. No curto prazo, será preciso adaptar os navios e a melhor resposta é o etanol e o metanol, dos quais o Brasil é o segundo maior produtor. Para atender à demanda, será preciso dobrar a produção de etanol no Brasil”, disse.
Novos fundings
Sustentabilidade é a palavra da vez no Banco do Nordeste (BNB). O presidente Paulo Câmara disse que o BNB tem buscado ações integradas com bancos públicos, seja BNDES, Caixa ou Banco do Brasil, sempre com o olhar nesta direção. Ele defende planejamento de longo prazo e diz que novos fundings vão surgir para dar suporte ao desenvolvimento sustentável.
“A aprovação de uma nova legislação que traga incentivos ao setor eólico, por exemplo, vai dar oportunidade de avanços em captações a serem empregadas dentro desse conceito, que envolve o crescimento econômico, social e de energia renováveis com preservação do meio ambiente”, disse.
Nos últimos cinco anos, o BNB investiu mais de R$ 30 bilhões em energias renováveis no Nordeste. Só este ano, o banco deve destinar R$ 40 bilhões à região para atender aos arranjos produtivos e empresas de diversos portes. Cerca de 60% desses recursos serão destinados aos estados da Bahia, Ceará e Pernambuco. “As perspectivas são positivas”, disse Câmara.
*A jornalista viajou a convite do Banco do Nordetse
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