No ano passado, as vendas do setor editorial brasileiro tiveram um crescimento nominal, sem descontar a inflação, de 3% em comparação ao ano anterior, segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, divulgada nesta quinta-feira (18) pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), com apuração da Nielsen BookData.
Quando se considera a inflação do período, com a variação de 5,79% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o resultado de 2022 indica um recuo de 2,6% na produção e nas vendas das editoras.
Em entrevista à Agência Brasil, Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), disse que o resultado da pesquisa mostrou “que o comportamento do mercado editorial está acompanhando a situação do país e ainda depende que o Brasil supere obstáculos econômicos e sociais que permitam a expansão do hábito da leitura”.
Para Dante Cid, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), esse crescimento tímido já era esperado. “Isso vinha sendo mais ou menos sinalizado pelas pesquisas que temos em pontas de venda. Basicamente houve uma performance muito boa no primeiro quadrimestre e depois houve um declínio bastante forte, reflexo das condições macroeconômicas, especialmente da inflação, impactando no poder de compra das pessoas. O comparativo foi frente a um ano bastante forte que foi 2021, mas esperávamos que, pelo menos, pudéssemos empatar com a inflação em termos de crescimento”.
Segundo a presidente da CBL, o crescimento foi puxado principalmente pelos segmentos de livros didáticos, obras gerais e religiosas que apresentaram aumento nominal de 6%. Já o subsetor de livros Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP) apresentou queda. A pesquisa mostrou ainda que as feiras de livros e a Bienal do Livro foram um dos canais que mais impulsionaram a venda de obras gerais. “Em termos reais, os três subsetores empatam com a inflação. Não podemos esquecer também do trabalho das editoras e livrarias e da importância da volta das feiras literárias, que é um ótimo incentivo a leitura”, disse Sevani.
“Após a pandemia, a realização da Bienal do Livro de São Paulo mostrou que todos tinham uma sede muito grande de retornar ao convívio presencial, e isso se demonstrou nas vendas do setor. E esperamos muito que isso também se reflita na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que acontece neste ano, em setembro”, acrescentou Dante Cid.
Ainda segundo a pesquisa, as livrarias exclusivamente virtuais foram o canal com maior participação no faturamento das editoras, somando 35,2% em 2022. Essa foi a primeira vez que as livrarias exclusivamente virtuais superaram as livrarias físicas. “É a primeira vez que observamos esse resultado das livrarias virtuais. Resultados como esses são positivos tanto para o mercado digital, como para o físico. As operações são cada vez mais complementares, mostrando também a importância das livrarias físicas, que continuam sendo muito procuradas na hora de conhecer os títulos e ter indicações ou sugestões de novas obras e autores”, explicou Sevani.
De acordo com Dante, esse crescimento das livrarias virtuais foi um reflexo da pandemia do novo coronavírus. “Isso foi um reflexo originado e iniciado durante a pandemia. O brasileiro foi se acostumando mais a comprar online. Mas isso não deixou de permitir que houvesse um crescimento do número de livrarias físicas, que aconteceu em 2022”.
Digital
Já a pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro mostrou que o faturamento total com conteúdo digital teve um crescimento nominal de 35% no ano passado. “O conteúdo digital vem crescendo. O faturamento total com conteúdo digital apresentou crescimento nominal de 35%, o que significa um crescimento real [descontada a inflação] da ordem de 28%. Há uma tendência de expansão desse segmento. No entanto, quando olhamos o faturamento, o mercado digital ainda representa apenas 6%. O conteúdo impresso ainda é de 94% do faturamento total do setor”, explicou Sevani.
“Foi um crescimento significativo para uma base pequena. Não chegou a alterar significativamente a fatia do digital perante o impresso. Mas também é um pouco do reflexo do hábito das pessoas a esse acesso digital ter crescido durante a pandemia”, acrescentou o presidente do Snel.
Para este ano, o setor ainda não projeta crescimento. “Por enquanto está sendo um ano difícil, mas esperamos redução da inflação e melhora do poder de compra das pessoas e que isso se reflita positivamente nas vendas de livros ao longo do ano”, disse Cid.
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