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Conflito tarifário global cria janela estratégica para exportadores

O setor têxtil é um dos que pode se beneficiar com o regime tarifário de Donald Trump
Ângela Fernanda Belfort
Ângela Fernanda Belfort
De Recife angela.belfort@movimentoeconomico.com.br
uvas
Uvas estão no segundo lugar dos produtos mais exportados por Pernambuco aos Estados Unidos. Foto: Tony Oliveira

O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode trazer “oportunidades estratégicas” às exportações pernambucanas em vários setores, com destaque para o têxtil – beneficiado por uma lacuna deixa pela China. Segundo análise feita pelo economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Cezar Andrade, a fruticultura também pode ganhar mais mercado. Mas, por outro lado, a invasão de produtos chineses pode atrapalhar os planos de empresários pernambucanos nesse xadrez global.

Em 2024, os produtos pernambucanos mais exportados para os norte-americanos foram açúcar da cana, uvas e aço. Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações de Pernambuco, perdendo apenas para a Argentina.

Além das frutas topicais, Cezar cita outros setores nos quais podem surgir oportunidades para as exportações de Pernmambuco como consequência do tarifaço de Trump: têxteis e vestuário, calçados e artigos de couro, produtos químicos e farmacêuticos leves, café e alimentos processados. “Trata-se de uma oportunidade para reposicionar produtos no mercado norte-americano, desde que as empresas locais contem com uma estrutura logística eficiente e capacidade comercial bem articulado”, explica Cezar.

Pela argumentação de Cezar, estas oportunidades podem surgir porque, até a última quarta-feira (09), os produtos brasileiros tinham tinha uma taxação média de 10% e alguns países que concorrem com os produtos exportados por Pernambuco, como frutas tropicais, tinham taxações muito maiores, como ocorria com o México e algumas nações da África. “Existe uma oportunidade do Brasil ganhar mercado com relação aos que estão com alíquotas maiores e produzem similares que aos exportados pelo Brasil “, explica Cezar.

Sudene capacitação indústria têxtil Nordeste Pernambuco Moda Center Santa Cruz
Polo têxtil, oportunidades diante das taxações sobre a China/Foto: Mitchel Matias/Divulgação

No entanto, Trump reduziu as tarifas de 75 países para 10% por 90 dias e aumentou a taxação da China para 125% pelo mesmo período. Até então, a taxação da China estava em 104%. E a maioria dos países tinha uma taxação, variando de 10% a 49%.

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O especialista em comércio exterior Luciano Bushatsky Andrade de Alencar acredita que Pernambuco está entre os Estados que podem colher frutos dessa reconfiguração do mercado, principalmente com produtos ligados à fruticultura. “O Vale do São Francisco já é um polo relevante na exportação de frutas para países como Estados Unidos, Europa e China. Com a nova política tarifária americana afetando outros fornecedores, os produtos brasileiros podem ganhar competitividade, inclusive nos setores de leite e ovos, que enfrentam escassez global”, explica Luciano.

Segundo Luciano, o momento exige atenção e agilidade das empresas exportadoras. “Com concorrentes sendo mais severamente taxados, o Brasil passa a ter uma margem de negociação mais favorável com os Estados Unidos e outros mercados que buscam alternativas frente às barreiras comerciais impostas”, argumenta o especialista.

Em 2024, as exportações de Pernambuco para os Estados Unidos somaram US$ 205 milhões em 262 mil toneladas de produtos. O produto mais exportado foi o açúcar de cana, seguido por uvas frescas e aço em torres e pórticos de ferro fundido.

Cesar Andrade - Fiepe- economia
Economista da Fiepe Cezar Andrade cita impactos positivos e negativos que podem ocorrer por causa das taxas anunciadas por Donald Trump. Foto: Fiepe/Divulgação

Impactos negativos por causa da taxação de Trump

Cezar argumenta que com esta grande taxação aos produtos chineses pode afetar o Brasil. “Há o risco de mais produtos chineses virem para o Brasil, por causa dessa taxação alta dos Estados Unidos. A China produz em grande escala e mais barato. O impacto desta concorrência pode ser negativo na indústria local”, comenta Cezar, acrescentando que “tudo que foi anunciado pode mudar a qualquer momento” por Trump.

O economista também diz que a alta taxação dos produtos chineses pode prejudicar também a indústria norte-americana que importa muitos insumos da China. “Isso pode gerar mais inflação nos Estados Unidos, porque estes insumos vão ficar mais caros, e como consequência a população vai consumir menos, gerando também desemprego”.

Mas o aumento da inflação por causa das medidas de Trump também pode ocorrer no Brasil, de acordo com Luciano. Ele argumenta que “se o Brasil ampliar fortemente suas exportações de proteína animal e outros alimentos, isso pode pressionar os preços no mercado interno. A inflação, que já é um desafio, tende a subir ainda mais, encarecendo o custo de vida da população”, observa.

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