
Em meio a crise hídrica que está abalando todo o estado, o Governo de Pernambuco anuncia, na última terça-feira (31) a abertura da licitação para a conclusão da construção da Barragem Igarapeba, no município de São Benedito do Sul, na Zona da Mata Sul. Publicada no Diário Oficial do Estado, a ação, que terá um investimento de R$ 185 milhões, faz parte das ações do programa Águas de Pernambuco, lançado este ano e que conta com mais de R$ 6 bilhões em investimentos nas áreas de segurança hídrica e saneamento básico.
“Chegamos ao fim de 2024, ao último dia do ano, cumprindo a promessa, feita lá atrás, de promover as condições de um desenvolvimento mais seguro para os principais municípios da Bacia do Rio Una que são atingidos por enchentes recorrentes e destrutivas”, comemora a governadora Raquel Lyra.
O Águas de Pernambuco foi estruturado em quatro eixos: abastecimento de água, esgotamento sanitário, saneamento rural e segurança hídrica. O último diz respeito à construção de barragens e ações de recuperação da infraestrutura hídrica do Estado. “Vamos finalizar a Barragem Igarapeba e dar mais tranquilidade a milhares de famílias”, afirmou.
Conclusão da Barragem Igarapeba vai beneficiar 180 mil habitantes
A Barragem Igarapeba é parte do sistema de controle de cheias da Bacia do Rio Una, que inclui as barragens Serro Azul, concluída em 2017; Panelas II, que teve as obras retomadas em fevereiro de 2024 e têm conclusão prevista para abril de 2025; e Gatos, cujas obras, já contratadas, serão retomadas em janeiro.
A Barragem Igarapeba atuará no controle das enchentes Rio Pirangi, afluente do Rio Una, beneficiando as cidades de São Benedito do Sul, Maraial, Jaqueira, Catende, Palmares, Água Preta e Barreiros.
A capacidade de acumulação do reservatório é de 46,6 hm³, sendo 33,3 hm³ referente ao volume de espera para contenção de cheias e cerca de 13,3 hm³ de água destinado à regularização de vazões, garantindo o reforço no fornecimento de água para o município de São Benedito do Sul e o distrito Igarapeba, beneficiando uma população de aproximadamente 180 mil habitantes.
“A construção da Barragem Igarapeba será a segunda maior obra de contenção de enchentes na região da Mata Sul, particularmente na Bacia do Rio Una. É uma das que foram paralisadas anos atrás”, explica o secretário de Recursos Hídricos e Saneamento, Almir Cirilo.

Cirilo ainda atesta que a Barragem de Lagoa dos Gatos, também conhecida como Barragem dos Gatos, um afluente também que compõe a Bacia do Rio Una, terá suas obras iniciadas agora já em janeiro, com a ordem de serviço.
“São duas obras importantes para a contenção de enchentes na Mata Sul de Pernambuco, que, ao mesmo tempo, terão a finalidade de promover o abastecimento de água, o desenvolvimento da região e, portanto, melhorar a vida da população”, comenta.
Águas de Pernambuco
O Águas de Pernambuco garantirá ao Estado um investimento de R$ 6,1 bilhões em água e esgoto nos próximos anos, o maior aporte feito pelo Executivo para esta finalidade na história do Estado.
A grande meta é atender 1,2 milhão de pessoas de 106 municípios, com investimentos em ações como a expansão dos sistemas de abastecimento de água simplificados e a implantação de quatro novos Sistemas Integrados de Saneamento Rural (SISAR), contemplando as regiões do Sertão do São Francisco, Sertão Central, do Araripe, Agreste e Matas.
O programa é ancorado em quatro eixos: Segurança Hídrica; Abastecimento de Água; Coleta e Tratamento de Esgoto e Saneamento Rural. Apenas no eixo Segurança Hídrica serão investidos R$ 959,4 milhões, sendo R$ 712,2 milhões para a construção de barragens – como as estruturas para contenção das enchentes na Mata Sul – e R$ 247,2 milhões em 30 ações de recuperação e manutenção de infraestrutura hídrica.
No eixo Abastecimento de Água, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) terá R$ 2 bilhões disponíveis para aumentar a cobertura dos serviços e reduzir o rodízio nos municípios já atendidos.
Pelo eixo Coleta e Tratamento de Esgoto estão previstos investimentos de R$ 1,7 bilhão da Parceria Público-Privada (PPP) Cidade Saneada (RMR + Goiana) em 14 ações e mais R$ 500 milhões em outras 14 ações no Estado.
No eixo Saneamento Rural, no qual já estão sendo investidos R$ 316,2 milhões (R$ 48 milhões provenientes do PAC – governo federal, e demais recursos a cargo do governo estadual), haverá ainda mais impulsionamento a partir de 2025 com o aporte de mais R$ 600 milhões do Banco Mundial em operação de crédito para o Governo de Pernambuco.
Plano de contingência é anunciado pelo Governo de Pernambuco
Nesta segunda-feira (30), a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), juntamente com a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), a Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco e a Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil a decretaram um plano de contingência para o primeiro trimestre de 2025. A medida visa antecipar e preparar Pernambuco para um período crítico a ser vivenciado nesse período.
Até o momento, 94 cidades decretaram situação de emergência, em um cenário de escassez de recursos hídricos, que compromete o abastecimento de água e traz reflexos nas condições de vida da população e na economia local. Além disso, 54 dos 172 mananciais estão em nível crítico ou de alerta.
“Para além dos municípios citados já com emergência reconhecida, estudos internos da Compesa apontam para a necessidade de ampliação da restrições para mais cidades, tendo em vista a vulnerabilidade dos mananciais que os abastecem, caso as previsões de chuvas abaixo da média sejam concretizadas”, explicou o secretário de Recursos Hídricos e Saneamento do estado, Almir Cirilo, durante coletiva.
Segundo o monitoramento da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), Pernambuco encontra-se, na maioria de seu território, em condições de seca moderada a grave, com impactos diretos no abastecimento de água para consumo humano, especialmente nas regiões do Agreste e Zona da Mata.
Dessa forma, a Compesa anunciou que um novo calendário será apresentado para os moradores de 60 cidades do estado, que serão reveladas a partir desta sexta-feira (3). “Temos a necessidade de antecipar o nosso movimento, porque é preciso administrar e gerenciar o volume de água durante esses próximos três meses mais duros. Então, revisitar e reavaliar os calendários das cidades é o primeiro passo. Esse não é um calendário definitivo, mas sim contingencial. É um calendário de emergência para atravessar esses três meses”, explica o presidente da Compesa, Alex Machado Campos.
A agência ainda afirma que a previsão climática para o trimestre janeiro/fevereiro/março de 2025 indica acumulado de chuva de normal a abaixo do normal e temperaturas acima da média climatológica para todo o estado de Pernambuco.
Ou seja, pode haver menos chuva do que o esperado e mais calor, sendo esse “um trimestre considerado seco para a Região Metropolitana, Zona da Mata e Agreste, enquanto que no Sertão, onde seria a estação chuvosa, poderão ocorrer pancadas de chuva isoladas de intensidade moderada a forte, porém concentradas em poucos dias, seguidos de períodos secos”, de acordo com a diretora-presidente em exercício da Apac, Crystianne Rosal.
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