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No polo de confecções, quem tem profissional de costura é rei

As novas profissões baseadas na transformação digital praticamente monopolizam o interesse dos mais jovens que estão entrando no mercado de trabalho
Em Santa Cruz do Capibaribe, oito em cada dez confeccionistas do polo de confecções reclamam da falta de costureiras e costureiros / Foto: Reprodução/Internet

Na principal cidade do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco, ter profissionais de costura em número suficiente para dar conta da produção é privilégio para poucos. Conforme levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Santa Cruz do Capibaribe, oito em cada dez confeccionistas reclamam da falta de costureiras e costureiros.

O setor também se queixa de que esse cenário inviabiliza o aumento ou a diversificação do que é produzido e limita o faturamento, o que se impõe como um gargalo em um período em que o Governo de Pernambuco anuncia novos incentivos para a atividade econômica da região.

Na semana passada, a governadora Raquel Lyra (PSDB) enviou para a Assembleia Legislativa (Alepe) o Projeto de Lei 1670/2024, que institui o Programa de Desenvolvimento do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco.

A matéria prevê que a aquisição de fardamentos e de material escolar para os alunos da rede estadual de ensino passará a ser feita de empresas instaladas em 16 municípios da região. Segundo o texto, a medida atenderá preferencialmente microempresas e empresas de pequeno porte em um polo onde há mais de duas mil empresas formais e que produz cerca de 50 milhões de peças por ano.

De acordo com a CDL Santa Cruz do Capibaribe, a cada R$ 10 movimentados na economia do município, R$ 7 são gerados pelo setor têxtil e do vestuário. E a expectativa é de que, apenas em 2024, a gestão estadual invista cerca de R$ 3,5 milhões em 326 mil peças de fardamento escolar. O problema é a falta de profissionais de costura para dar conta dessa nova demanda. A atividade econômica só fez crescer na região em 20 anos, na contramão da entrada de mão de obra no mercado da costura.

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“Apesar da escassez de costureiras e da grande demanda dessas profissionais no mercado, a baixa valorização da profissão entre os jovens faz cair o interesse das novas gerações pelo ofício da costura, travando a entrada de novas profissionais da costura no mercado. Além disso, as novas profissões baseadas na transformação digital praticamente monopolizam o interesse dos mais jovens que estão entrando no mercado de trabalho”, avalia o presidente da CDL Santa Cruz do Capibaribe, Bruno Bezerra, que também elenca a pouca estrutura de capacitação como outro gargalo para aumentar a mão de obra disponível.

Empreendedorismo cresce no polo de confecções

O levantamento também identificou que parte desses profissionais não necessariamente fugiu da atividade, mas passou a empreender nela de forma individual. “Como temos um robusto ambiente de negócios baseado na micro e pequena empresa com relativas facilidades para empreender, isso faz com que muitas costureiras optem por abrir seu próprio pequeno negócio. O que por um lado é muito bom, porque fortalece, oxigena e diversifica nossa base de empresas. Mas por outro lado, fragiliza a oferta de profissionais da costura, um serviço essencial para o crescimento das empresas já existentes”, afirma Bezerra.

De acordo com a CDL Santa Cruz do Capibaribe, a cada R$ 10 movimentados na economia do município, R$ 7 são gerados pelo setor têxtil e do vestuário / Foto: Moda Center Santa Cruz/Divulgação

Se o negócio individual tem seus prós e contras para o setor, a informalidade é que ainda preocupa, inclusive no que concerne à diminuição da arrecadação de impostos e da contratação de empregados com carteira assinada. Segundo o Governo do Estado, o Programa de Desenvolvimento do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco chega para incentivar a mudança desse cenário, já que só poderão ser credenciadas para fornecimento de uniformes e materiais escolares empresas que estiverem em situação regular quanto à formalização e à quitação de obrigações tributárias e trabalhistas.

“É uma medida que visa a fomentar os arranjos produtivos locais, o que beneficiará a região e ajudará a circular a economia em todo o estado, gerando desenvolvimento e bem-estar para todos os pernambucanos”, avaliou a governadora Raquel Lyra, na justificativa do projeto de lei, que tramita em regime de urgência na Alepe.

Na semana passada, a matéria foi distribuída na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça, a principal da Alepe, e terá relatoria do deputado Diogo Moraes (PSB), que tem forte atuação em Santa Cruz do Capibaribe. Nesta semana, o texto ainda será distribuído em mais três comissões da Casa de Joaquim Nabuco e deve ser votado em plenário até o fim do mês.

Assistência aos costureiros e costureiras

Como saída para superar a falta de profissionais de costura, os confeccionistas defendem a melhoria da rede de assistência a quem trabalha na região, medidas que são de responsabilidade do poder público. Essas soluções passam, por exemplo, pela maior oferta de serviços de saúde e de vagas em creches específicas para atender as famílias de costureiras e costureiros, bem como a criação de uma escola técnica voltada ao setor, inclusive em diálogo com o Sistema S. Também se pleiteia uma linha de crédito para que quem trabalha com costura em casa possa comprar ou fazer a manutenção de suas máquinas.

“Uma combinação de fatores forma um gargalo que Santa Cruz do Capibaribe precisa tratar de maneira urgente e estratégica, sobretudo por ser a cidade referência do Polo de Confecções de Pernambuco. Queremos despertar a atenção para um cenário desafiador que deve ser levado em consideração no debate de ideias e propostas no processo de evolução do nosso ecossistema empreendedor, principalmente num ano com eleições municipais como 2024. Mas esse debate precisa ser permanente, não somente em ano eleitoral. Os profissionais da costura são protagonistas desse setor. Fortalecer de maneira estratégica esse protagonismo é fortalecer o coração da nossa economia”, avalia Bruno Bezerra, da CDL.

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