A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) avança nos negócios voltados para reúso de água, impulsionados pelo crescimento da economia circular e pelo Hub de H2V do Pecém. Um pré-contrato para reaproveitamento do líquido firmado com a espanhola FRV e uma parceria de R$ 50 milhões com o Grupo Vicunha na área de infraestrutura evidenciam esse movimento.
A demanda pelo reaproveitamento do líquido vem se expandindo junto com o desenvolvimento do setor fabril cearense e o fortalecimento de uma cultura corporativa que tem a sustentabilidade como um de seus valores.
No caso do hidrogênio verde, o interesse pelo produto – considerado estratégico para a descarbonização da economia global – se encontra nas alturas, em todo o mundo. E a água é fundamental para que essa expectativa se torne realidade.
Isso porque, embora haja pesquisas com outras matérias-primas, como o etanol, o H2O atualmente é o principal insumo utilizado nos estudos visando a produção do H2V em escala industrial, por meio de eletrólise (quebra das moléculas).
No Brasil, o Ceará briga para liderar essa indústria por meio do Hub de H2V do Pecém, política de estado que atraiu, até o momento, em torno de 40 players dispostos a investir em torno de US$ 30 bilhões.
Cagece movida a hidrogênio verde
Por enquanto, o hub é um projeto, mas os players que vão investir no polo já se articulam para garantir a água necessária à futura produção de hidrogênio verde.
Esse é o caso da FRV, geradora da área de energias renováveis que tem operações em diversos países. A multinacional anunciou, semana passada, que pretende ter uma planta de combustível no cluster e já assinou o pré-contrato para fornecimento de água de reúso com a Cagece.
O abastecimento da planta da FRV será executado pela Utilitas, que tem participação acionária da Cagece.
A presidente da Cagece, Neuri Freitas, destaca as possibilidades que a indústria do H2V proporciona para a companhia.
Ressalta ainda a estratégia da Cagece de viabilizar o abastecimento do hub de hidrogênio verde sem prejuízo para o atendimento da sociedade, num estado que enfrenta problemas crônicos nessa esfera, por ter a maior parte do seu território em regiões sujeitas a longos períodos de estiagem.
“Com a utilização da água de reúso, o suprimento do cluster do combustível do futuro não vai competir com o abastecimento humano, que é a prioridade”, acrescenta.
Cagece: qual o projeto do novo cliente da companhia?
O projeto da FRV no Pecém foi batizado de H2 Cumbuco, com previsão de investimentos totais da ordem de R$ 27 bilhões. O core business é a produção de amônia verde destinada prioritariamente a exportações para os mercados europeu e asiático.
A estimativa é de que a construção da unidade fabril demande 1,5 mil empregados e a operação, 200 profissionais, na maioria altamente especializados.
O projeto é faseado em duas etapas. A primeira, orçada em R$ 7 bilhões, contempla eletrolisadores com capacidade somada de 500 megawatts (MW) e produção de 400 mil toneladas de amônia por ano.
Na segunda fase, serão aportados os R$ 20 bilhões restantes. A capacidade será ampliada, com 1,5 gigawatts (GW) adicionais, o que vai permitir a produção de mais 1,2 milhão de toneladas de amônia. Com isso, quando estiver 100% concluída, a planta poderá processar até 1,6 milhão de toneladas anuais do insumo.
Quanto ao cronograma, a previsão de início é 2027 e a entrada em operação está programada para até 2030.
Quais os objetivos da FRV no Ceará e no Brasil?
O diretor de Inovação da FRV, Felipe Hernández, sem modéstia, afirma que a companhia está em um momento crucial do seu plano estratégico para “liderar a produção de combustíveis verdes no Brasil”.
Já o diretor-geral da FRV para a América do Sul, Manuel Pavon, diz que a empresa “está entusiasmada com o potencial deste projeto, no Ceará, para fornecer soluções energéticas limpas e competitivas”. “Apoiamos o desenvolvimento econômico e ambiental do Brasil”, acrescenta.
Demanda cresce e Cagece incrementa infraestrutura
Diante da demanda em potencial no setor de H2V e a que já existe, puxada por outras cadeias industriais, a Cagece vem reforçando sua atuação no reúso de água, o que exige investimentos em infraestrutura.
Para garantir a musculatura necessária para essa empreitada, a companhia deu um passo importante. Foi criada uma nova divisão, a VSA, parceria da Cagece com a Vicunha Serviços, subsidiária do Grupo Vicunha, do megaempresário Benjamim Steinbruch.
O objetivo da união de forças é prover serviços de tratamento e disposição de efluentes industriais, além de fornecer água de reúso para clientes da área fabril.
A primeira operação da VSA foi inaugurada mês passado em Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza e já começa com três contratos em carteira: com o próprio Grupo Vicunha, Vulcabrás e Santana.
O empreendimento, que recebeu investimentos de R$ 50 milhões, contempla uma Estação de Tratamento de Esgoto Industrial (ETEI), uma Estação Produtora de Água de Reúso (EPAR) e 40 quilômetros de canais.
A ETEI está iniciando as operações com capacidade para tratar 50 m³/h, mas pode atingir até 100 m³/h. A EPAR, por sua vez, tem uma produção inicial de 60 m³/h e limite operacional de 130 m³/h.
Esse sistema tem uma função nobre: diminuir nos polos industriais próximos, o consumo de água retirada dos rios e outros mananciais. A meta de redução é ousada: 90%.
Elmano de Freitas defende que o crescimento da Cagece nesse segmento evidencia o compromisso do governo estadual “com o consumo humano, ao mesmo tempo em que abre uma nova era para a companhia e para as indústrias do Ceará, num cenário em que a preocupação com o meio ambiente subiu para outro patamar”.
Nessa nova era citada pelo governador, o paradigma é nada se cria, nada se perde, tudo se transforma e pode virar dinheiro por meio de negócios sustentáveis.
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