Elmano transfere usina do apagão da internet para 1 km da área atual

Essa é a 2ª vez que a usina do apagão da internet é transferida, em meio a uma polêmica em que pouco se fala do interesse público e do abastecimento de água de Fortaleza
Apagão da internet: governador Elmano de Freitas anuncia segunda mudança de local da usina de dessalinização da discórdia
Apagão da internet: Elmano anuncia segunda mudança de local da usina de dessalinização/Foto: Governo do Ceará

O governador do Ceará, Elmano de Freitas, anunciou, nesta segunda-feira (10), a segunda transferência da usina do “apagão da internet” que será construída no formato de parceria público-privada, na Praia do Futuro, em Fortaleza. O novo local será um terreno a um quilômetro do ponto atual.

De acordo com a administração estadual, essa alteração afasta qualquer perigo de interferência do empreendimento na conectividade.

O impacto da relocação no orçamento da usina – que tinha previsão de investimentos privados de R$ 3,2 bilhões – as alterações de engenharia que deverão ser feitas no projeto e o novo cronograma de implantação ainda não foram informados.

A execução deveria ter começado no primeiro trimestre deste ano, o que não aconteceu devido à polêmica que atrasou, entre outros pontos, a licença de instalação.

Com o fim do imbroglio, o Palácio da Abolição, sede do poder executivo, espera que o sinal verde da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) saia em julho. A entrada em operação é estimada para 2026, mas não se sabe esse prazo está mantido.

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Guerra do apagão colocou interesse público em 2º lugar

Essa decisão de Elmano encerra uma batalha desgastante entre a administração estadual e o setor de telecom que, pela primeira vez no Brasil, se uniu em torno de um objetivo comum: mudar a área do empreendimento.

Esse conflito colocava interesse público de um lado – nesse caso, o abastecimento de água para a população na região metropolitana da capital – e as corporações do outro, num enredo digno de uma trama hollywoodiana.

As companhias de telecom conseguiram o apoio das cadeias de streaming, entretenimento e jornalismo e dos provedores de internet. O argumento era que a localização anterior colocava o país sob risco de se desligar da rede mundial de computadores devido ao papel crucial da Praia do Futuro para a infraestrutura de conectividade no mercado brasileiro.

A possibilidade desse cenário se tornar realidade trazia um toque ficcional a mais para a história: o de cinema-catástrofe.

Diante da previsão do fim do mundo, pouco se falou dos problemas de abastecimento de água de Fortaleza, que tem 2,6 milhões de habitantes e rivaliza com Salvador como capital nordestina preferida pelos turistas. A metrópole, no entanto, sofre com a oferta insuficiente de água potável.

O problema se torna dramático em períodos de estiagem, como o registrado no final da década passada, quando o Ceará enfrentou canos seguidos de seca. Entre 2016 e 2017, a capital passou por racionamento, que incluiu metas mensais de redução por unidade consumidora e multas para quem descumprisse o percentual.

Apagão da internet num dos maiores hubs de conectividade do mundo

Qual o motivo dessa guerra, que se estendeu até Brasília, onde chegou ao Ministério das Comunicações e Anatel?

Dezessete cabos submarinos, com seis mil quilômetros de extensão e responsáveis por 99% do tráfego de dados dos brasileiros, chegam ao balneário a partir da União Europeia, num ponto geográfico que é o mais próximo entre o Brasil e o continente europeu. Oito gigantes do setor são donos dessa infraestrutura.

Com isso, alguns dos maiores data centers do país também estão instalados nessa área. Para se ter ideia da dimensão desse cluster, o hub de conectividade de Fortaleza é o segundo maior do mundo, atrás apenas de Fujeira, nos Emirados Árabes Unidos.

Depois de dois anos de combate, é esperado que a paz finalmente seja selada na próxima sexta-feira (14), na capital federal, numa reunião entre o governador, a Anatel, Ministério das Comunicações, teles e a Superintendência do Patrimônio da União (SPU).

Apagão da internet faz usina mudar de local duas vezes

Essa é a segunda vez em que a Agência Nacional de Telecomunicações exige e consegue a relocação da usina do apagão da internet, que vinha sendo classificada pelo colegiado como “indesejável e imprudente“.

Na primeira versão do projeto, a usina – incluindo torre de captação, rede de tubulações e unidade de dessalinização – estaria localizada numa área entre 40 e 50 metros de distância do hub de conectividade da capital cearense.

O Governo do Ceará transferiu o empreendimento para um ponto a 567 metros dos cabos submarinos, o que encareceu o custo da usina em R$ 35 milhões.

Usina do apagão da internet está sendo transferida pela segunda vez
Primeira relocação da usina do apagão da internet encareceu o projeto em R$ 35 milhões/Foto: Cagece

Apagão da internet: centro tecnológico no lugar da usina da discórdia

Segundo Elmano de Freitas, o terreno onde antes estava prevista a usina do apagão da internet deverá ser destinado à construção de um centro tecnológico voltado para a capacitação de mão-de-obra para o setor de tech e incubação de start-ups. A nova função visa sinergia com o segmento, já que a área é um hub do segmento.

O que é a usina do apagão da internet?

A usina de dessalinização no centro da polêmica sobre um apagão da internet é uma PPP com validade de 30 anos, sob responsabilidade da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

A concessionária é a sociedade de propósito específico (SPE) Águas de Fortaleza – formado por Marquise Infraestrutura, PB Construções Ltda e a Abengoa Água S/A (Espanha).

A previsão de início da construção estava programada para o primeiro trimestre deste ano, o que não aconteceu devido à guerra entre companhias de telecom e Governo do Ceará. A entrada em operação é estimada para 2026.

Apagão da internet: qual a estrutura da usina de dessalinização?

A planta de dessalinização terá uma torre submersa localizada a 2,5 quilômetros da praia, para captação da água a 14 metros de profundidade. A estrutura foi projetada para preservar a dinâmica das correntes marítimas.

Por meio de vasos comunicantes que funcionam sem bombeamento, a água será levada até uma câmara de captação, no continente.

Dessa estrutura, será bombeada até a unidade de dessalinização propriamente dita, localizada em terra e com capacidade de produção de mil litros de água potável por segundo, a partir de 2,3 mil litros de água salgada. O rejeito, chamado de salmoura, terá como destino final o descarte no oceano.

Já a água potável será levada, por meio de uma rede – que deveria ser de oito quilômetros segundo o projeto anterior – a dois reservatórios na cidade, localizados na Praça da Imprensa (Aldeota) e Morro Santa Terezinha (Mucuripe).

A estimativa é que 720 mil moradores sejam beneficiados com esse reforço no abastecimento em bairros como Papicu, Cidade 2000, Praia do Futuro, Vicente Pinzón, Dunas e Aldeota.

O projeto vai funcionar de forma complementar ao sistema tradicional de captação de água em açudes, sendo acionado quando os reservatórios estiverem abaixo de um determinado nível de armazenamento que a Cagece irá definir.

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