
Com a promessa de melhorar a mobilidade urbana de Maceió, que vê um crescimento exponencial da parte alta da cidade, intensificada nos últimos anos pelo afundamento de cinco bairros, a Prefeitura quer iniciar no segundo semestre deste ano as obras para implantação de 14 quilômetros de BRT, nas principais avenidas que cortam a cidade. O investimento estimado com essas obras é de R$ 600 mil e o projeto total de mobilidade prevê investimentos de R$ 1,8 bilhão.
O BRT, sigla para Bus Rapid Transit (Trânsito Rápido de Ônibus, em português) foi anunciado em 2022 pela gestão do prefeito JHC. Em julho do ano passado foi assinada a ordem de serviço, mas segundo confirmou ao Movimento Econômico o Departamento Municipal de Transportes e Trânsito de Maceió (DMTT), as obras estão previstas para serem iniciadas no segundo semestre deste ano.
No anúncio do projeto, a Prefeitura de Maceió informou que seriam investidos R$ 1,8 bilhão em um projeto de renovação que incluem as obras do BRT, além da aquisição de novos ônibus e renovação de frota, construção de abrigos e outras adequações para comportar o novo modelo de transporte de passageiros na cidade.
O diretor-presidente do DMTT, André Costa, disse ao Movimento Econômico que uma das principais melhorias que o BRT vai proporcionar é reduzir o tempo de viagem nas principais vias da cidade, com benefício estendido para o restante da cidade.
“O BRT representa uma nova era para o transporte público em Maceió. Uma realidade em que os usuários terão à disposição um transporte rápido, seguro e confortável. Sua chegada trará benefícios não só para o corredor, mas para o sistema como um todo, com tempo de viagem reduzido, mais agilidade. Sabemos que esse tempo economizado significa mais tempo das pessoas com seus familiares, consequentemente, mais qualidade de vida”, comentou André de Costa.

Como vai funcionar o BRT de Maceió?
O BRT de Maceió funcionará na faixa da direita, paralelo ao canteiro central, das avenidas Lourival de Melo Mota, Durval de Góes Monteiro e Fernandes Lima. Segundo a prefeitura de Maceió, as 23 estações de embarque e desembarque serão construídas neste canteiro. A previsão é que 600 mil pessoas sejam beneficiadas.
O município irá construir um terminal de passageiros no bairro do Eustáquio Gomes, que funcionará para integração com outros bairros da cidade. O corredor de ônibus também terá melhorias estruturais em suas paradas, com a adequação e padronização para atender a parada das linhas alimentadoras, vindas dos bairros.
Já os ônibus que farão este trajeto ligando o Eustáquio Gomes ao Centro de Maceió serão ônibus do tipo Padron, com 14 metros e ar-condicionado.
A prefeitura prevê ainda, dentro do projeto de modernização do transporte urbano da cidade, a aquisição de 310 novos ônibus, dos quais 172 serão destinados ao BRT e os demais 138 vão compor o atual sistema de transporte coletivo. Também está prevista a instalação de 646 novos abrigos no corredor principal e em diversos bairros da cidade.
Segundo a DMTT, a previsão é de que a obra, prevista para início no segundo semestre, dure três e logo em seguida entre em operação.
Em evento em fevereiro deste ano em São Paulo, o prefeito JHC confirmou que parte desses investimentos será realizado por meio de Parceria Público Privada (PPP).
“Fizemos também a prorrogação antecipada no contrato de transporte público da nossa cidade, e por isso nós vamos ter o BRT, levando para Maceió a possibilidade de novos investimentos do valor de R$1,8 bilhão”, ressaltou o prefeito.
Mobilidade urbana precisa acompanhar tendência de crescimento de Maceió
O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Alagoas, Geraldo Faria, analisa que apesar dos benefícios anunciados com o novo plano de mobilidade urbana de Maceió é necessário pensar nas tendências de crescimento e da própria estrutura urbana da cidade, que vem apresentando crescimento alto nos últimos anos.
Faria explica que Maceió cresceu de forma pouco ordenada, dividida entre a parte alta e baixa. Somente nos anos 1985 a cidade desenvolveu outra rota, pela Via Expressa até os bairros da Cidade Universitária. “Então, a mobilidade foi se dando na direção sul-norte, indo desde o Jaraguá e Centro da cidade até o Aeroporto. Se a gente olhar a Fernandes de Lima, o que que a gente vê? A gente vê comboios de ônibus seguindo um atrás do outro. Se criou uma pista exclusiva, só que ela não comporta o tráfego atual da cidade”, disse.

Geraldo disse que a proposta do CAU no Plano Diretor de 2005 era de que fossem construídas vias que ligassem esses extremos da cidade, com toda infraestrutura necessária para atender centros comerciais residências e a parte de esgotamento sanitário.
“Então se poderia fazer um transporte de massa indo do Aeroporto ao Porto, funcionando perfeitamente sem qualquer concorrência com transporte rodoviário privado, particular. Nos pontos de travessia poderiam ser construídos pontes que interligariam a centros comerciais e residências. Isso concentraria a atividade imobiliária na parte alta também”, disse.
Apesar do projeto apresentado pelo município, o representante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo disse ainda que se o plano de mobilidade não conseguir promover mudanças com uso de solo e que redesenhe a estrutura urbana, ele perde seu sentido.
“Se um sistema de transporte não abordar mobilidade, falar em uso do solo urbano, sem redesenhar a estrutura urbana, sem mudar a concepção da cidade e as tendências de urbanidade, não tem sentido nenhum”, finalizou.
Leia mais:
Sem revisão há 20 anos, Plano Diretor de Maceió tem desafios para ordenar “nova” cidade
Mulheres e indígenas lideram produção de alimentos em cooperativa de AL