Maceió vem sofrendo diversas mudanças ocasionadas pela desocupação de cinco bairros afetados pela extração de sal-gema. Um dos principais reflexos foi a piora do trânsito nas principais vias da cidade, que absorveram boa parte do fluxo dos veículos que trafegavam pelos bairros afetados e que hoje estão interditados. Um acordo de mobilidade firmado entre Braskem, Prefeitura de Maceió e Ministérios Públicos Federal e Estadual garantiu R$ 360 milhões para melhorias e construção de novas vias na cidade nos próximos três anos.
As duas principais avenidas da cidade, a Durval de Góes Monteiro e Fernandes Lima, que ligam bairros da parte alta ao Centro de Maceió, estão em duplicação, com construção de ciclovia, além de obras de drenagem, pavimentação, iluminação pública e padronização de passeios. Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura de Maceió (Seminfra) o primeiro trecho de 2,2 km da obra, que vai do bairro do Farol ao Tabuleiro do Martins, está orçado em R$ 98 milhões e tem previsão de conclusão ainda este mês.
A segunda fase do projeto prevê duplicar mais quatro quilômetros da Avenida Durval de Góes Monteiro até o entroncamento com a Avenida Menino Marcelo, no viaduto que liga as vias. Essa parte da obra, segundo a Seminfra, ainda não há data para início e nem valores da obra.
Outra obra que pretende ligar os bairros do Antares ao Tabuleiro está em fase inicial de construção e tem previsão de R$ 100 milhões de investimento. A pista terá 2,37 km de extensão, indo do início da Avenida Durval de Góes Monteiro, no Tabuleiro do Martins, até a Avenida Menino Marcelo, no Antares.
A expectativa é que a nova via traga diversos benefícios para a cidade. Um dos principais é o desafogamento do trânsito em áreas com congestionamentos frequentes, especialmente nos horários de pico.
A nova via servirá como rota alternativa para os motoristas, diminuindo o tempo de espera no trânsito e facilitando o acesso à parte alta da cidade, contando, também, com ciclovia, área para o tráfego de pedestres, iluminação de LED em toda sua extensão, além de uma rede de drenagem, em conformidade com o padrão já implantado em outras obras de mobilidade realizadas pela gestão na capital.
Outro benefício importante será a ampliação da malha viária de Maceió, impulsionando o desenvolvimento urbano da região.
O secretário municipal de Infraestrutura, Lívio Lima, também reforça os impactos positivos da obra para aqueles que precisam se locomover diariamente por Maceió. “A nova via conectará áreas com grande potencial de crescimento. É uma iniciativa que vai proporcionar mais segurança e fluidez para o trânsito, além de reduzir o tempo de deslocamento dos moradores, levando mais qualidade de vida para os motoristas”, concluiu Lívio.
Obras de mobilidade em Maceió fazem parte de acordo com Braskem
A implantação das ações de melhoria na mobilidade urbana da cidade consta no Termo de Acordo Socioambiental, assinado em dezembro de 2020 pelo Ministério Público Federal (MPF) e Braskem, com a participação do Ministério Público Estadual (MPE) e adesão do Município de Maceió.
A Braskem explicou, por meio de nota, que as obras são planejadas pelo município e executadas por empresas especializadas contratadas pela Braskem.
“As intervenções são fiscalizadas pelo poder público e devem durar cerca de três anos e meio. O orçamento é de R$ 360 milhões – valor corrigido anualmente. Os projetos preveem a construção, ampliação ou recuperação de 33,4 quilômetros de vias; implantação de quase 37 quilômetros de calçadas acessíveis e ciclovias; requalificação de passeios públicos e estacionamentos; nova iluminação e rede elétrica; drenagem de águas pluviais; e um sistema de semáforos inteligentes já em funcionamento”, disse a Braskem na nota.
Ainda segundo a Braskem, os recursos já reservados para todas as ações sociais, ambientais e urbanas são de R$ 14,4 bilhões e incluem desembolsos feitos diretamente pela Braskem ou transferências ao poder público. Mais de R$ 9,2 bilhões já foram utilizados.
Além das obras nas principais vias da cidade, bairros como Chã da Jaqueira, Chã de Bebedouro e Jardim Petrópolis também receberam obras em 12 vias que realizam a conexão entre a parte alta e o Centro de Maceió.
Exploração de sal-gema mudou Maceió
No ano de 2018 iniciou-se a saga de mais de 60 mil pessoas que moravam nos bairros do Mutange, Pinheiro, Bebedouro, Flexal e Bom Parto, que começaram a observar rachaduras em seus imóveis. O primeiro tremor de terra, em fevereiro daquele ano, trouxe à tona os problemas causados por décadas de extração de sal-gema na região pela Braskem.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a exploração de 35 minas de sal-gema pela Braskem foi a responsável por deixar milhares de pessoas desabrigadas e transformar bairros antes movimentados e populosos em lugares praticamente desertos.
A Braskem suspendeu as atividades no município em novembro de 2019. A companhia diz atuou por 17 anos em Maceió, “respeitando todas as normas técnicas e exigências regulatórias”.
A Comissão Parlamentar de Inquérito, criada pelo Senado para apurar o fato, aprovou o pedido do senador Rogério Carvalho (PT-SE) que pede o indiciamento da mineradora pelo afundamento dos bairros da cidade.
O relatório da CPI também pede o indiciamento de 11 pessoas, sendo oito ligadas à Braskem e três ligadas a empresas que prestaram serviços à mineradora. A CPI ainda pede o indiciamento de quatro dessas empresas que trabalharam para a Braskem fornecendo laudos e estudos que, de acordo com a comissão, eram falsos ou enganosos.
A Braskem afirmou em nota que sempre esteve à disposição da CPI colaborando com todas as informações e providências solicitadas pela comissão. “A companhia continua à disposição das autoridades, como sempre esteve”, destacou a mineradora.
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