Os dois lados do Arco Metropolitano do Recife

Por Etiene Ramos Um novo adiamento no processo licitatório da contratação dos serviços de revisão e atualização dos estudos para o Projeto Básico do trecho sul do Arco Viário Metropolitano, deixa essa obra sem perspectivas de cronograma,. Mas o fato é que o Arco Metropolitano tem dividido opiniões e gerado forte embate entre seus opositores, […]
Etiene Ramos
Etiene Ramos
Jornalista

Por Etiene Ramos

Um novo adiamento no processo licitatório da contratação dos serviços de revisão e atualização dos estudos para o Projeto Básico do trecho sul do Arco Viário Metropolitano, deixa essa obra sem perspectivas de cronograma,. Mas o fato é que o Arco Metropolitano tem dividido opiniões e gerado forte embate entre seus opositores, Esse projeto, que se arrasta desde 1995, quando começou a ser discutido pela equipe da então Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife – Fidem, integrante hoje da Agência de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco – Condepe/Fidem, coloca de lados opostos o setor empresarial do estado e o Fórum Socioambiental de Aldeia.

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E, já em 1998, se tinha o traçado da rodovia, que ligaria o Complexo Industrial e Portuário de Suape, ao Sul da Região Metropolitana do Recife (RMR), à Goiana, na parte Norte. “O primeiro desenho já trazia uma visão de não ser apenas mais uma BR e sim um eixo para organizar o desenvolvimento da RMR”, disse o arquiteto e urbanista Paulo Roberto Barros e Silva, por ocasião de um debate sobre o tema organizado pelo LIDE Pernambuco. “Um dos pontos que se discutia era que não tínhamos carros e nem caminhões para passar por lá, mas nos anos 90 a existência do arco foi dominante, e não se discute mais isso. O  foco  é que precisamos de um eixo de desenvolvimento que organize a metrópole”, explicou no evento, ocorrido em abril passado.

A APA Aldeia-Beberibe está no centro da discussão do Arco Metropolitano/Foto: cortesia

Da idealização até hoje, o projeto já passou por muitas discussões e tentativas de ser viabilizado. O ex-governador Eduardo Campos planejou uma Parceria Público Privada (PPP) mas, por manobra política do governo federal, o projeto entrou no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ficando sob a tutela do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que o dividiu em dois lotes: os trechos Sul e Norte. No trecho Sul, que teve sua licitação suspensa em maio, não há questionamentos sobre licenciamento ambiental mas, do outro lado do Arco, no trecho Norte, uma Área de Proteção Ambiental (APA), criada por decreto estadual em 2010,  está sendo a pedra no meio do caminho para a evolução da obra.

O traçado inicial corta a APA Aldeia-Beberibe, uma reserva de Mata Atlântica e, em  2012, e foi impugnado pelo Fórum Socioambiental de Aldeia, que defende um contorno à área protegida para evitar prejuízos ambientais e promover o desenvolvimento dos pequenos municípios entre os 12 que tem participação na APA.

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Em março, o governo de Pernambuco lançou licitação para execução do Estudo e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) e, em abril, anunciou dois consórcios classificados para entregar, daqui a um ano, o levantamento da fauna, da flora e dos recursos hídricos do projeto e possibilidades de mitigação dos danos que a obra venha causar ao meio ambiente. O consórcio TPF-Maia Melo-Engeconsult antecipou-se ao EIA-Rima e apresentou uma alternativa ao traçado posto na licitação como base e que é o principal alvo de críticas dos ambientalistas e moradores.

De acordo com o governo do Estado, não existe a definição de que o arco viário irá cortar a APA Aldeia-Beberibe. O posicionamento pode ser uma resposta inicial à mobilização do Fórum do bairro de Aldeia, um refúgio verde, no município de Camaragibe, há cerca de uma hora do Recife, com a campanha “Arco em Aldeia? Arrudeia”, que usa um termo bem pernambucano para dizer “dê a volta” e convencer o governo de Pernambuco a mudar os caminhos do arco metropolitano a partir de um abaixo assinado virtual que pretende angariar seis mil assinaturas.

Traçado do Arco Metropolitano passa pela APA de Aldeia/Foto: divulgação

“O traçado que atravessa a APA é a menor distância, não considera por onde ele vai passar. Na prática, o projeto se limita a provocar destruição ambiental, a promover a construção de mais condomínios e impermeabilizar o solo de uma região que abriga nascentes importantes e faz parte do Aquífero Beberibe, onde se encontram mananciais e a Barragem de Botafogo, responsável pelo abastecimento de mais de um milhão de pessoas”, explica Herbert Tejo, presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia. Engenheiro eletricista com mestrado em gestão ambiental, ele refuta as acusações de que a entidade é contra o arco. ” Não somos contra o arco de forma alguma. Se existe uma entidade que defende o arco somos nós. Nossa luta é para que ele se viabilize, que proteja o meio ambiente e promova o desenvolvimento da área Oeste da RMR”, afirma.

Preservação ambiental e desenvolvimento

A preservação do meio ambiente é um consenso entre moradores e frequentadores de Aldeia que querem distância de aglomerados urbanos e trânsito caótico por causa de uma nova estrada. “Esse arco vai trazer mais pessoas, mais do modo de vida urbanista para um ambiente que não precisa disso. A nossa vegetação é de mata atlântica, precisa ser preservada e não destruída. Quem mora em Aldeia procura um estilo de vida de tranquilidade, natureza e ar puro. Ele só vai nos prejudicar”, diz a enfermeira Walkeline Brandão, moradora de um condomínio em Aldeia. 

Mesmo sem estar muito integrada à discussão, a designer Raquel Uchôa, que, no ano passado, no início da pandemia, mudou-se com três filhos pequenos para Aldeia, defende uma proposta alternativa aos prós e contras. “Se existe uma possibilidade de se fazer com menos impacto, porque fazer de um jeito mais agressivo, menos coletivo? Não é uma questão de desenvolver ou deixar de desenvolver a região, e por isso apoio a solução do arco contornar a APA proposta pelo Arrudeia”, avalia.

Raquel Uchôa concorda com a proposta do movimento Arrudeia, do Fórum de Aldeia – Foto: Acervo pessoal

Morador do Recife que passa os fins de semana com a família na casa de Aldeia, como tantos recifenses, o médico Eduardo Faria é a favor do projeto. “Até onde eu sei, o arco deve unir alguns fatores importantes: o comercial, o ecológico e o residencial. O comercial é colocar a produção da Jeep e outros produtos com destino a Suape sem ter que passar pelo Centro de Abreu e Lima e pela BR 101, na altura da Universidade (UFPE). O terceiro ponto é o crescimento de Aldeia. Alguns condomínios já estão se posicionando e esperando a execução desse arco para ampliar a densidade do bairro, sempre com preocupação ecológica. Sou favorável ao projeto desde que os impactos ambientais sejam minimizados e isso é possível com novas tecnologias como aconteceu com a Via Mangue, no Recife”, declara Faria..

Para o empresário Avelar Loureiro Filho, presidente da Ademi-PE, do grupo ACLF e do fórum empresarial Movimento Pró-Pernambuco (MPP), o arco trará forte impacto à Região Metropolitana do Recife, indo além de encurtar a distância entre o polo automotivo da Jeep, em Goiana, e o Porto de Suape. “Já estou vendo a região de Vitória de Santo Antão crescendo, e em Itapissuma o aumento do desenvolvimento industrial. Temos população do lado de Igarassu, Abreu e Lima e muita mão de obra por ali. Do lado de Suape, cada vez mais o Cabo de Santo Agostinho oferecendo trabalhadores para a região e Ipojuca abastecendo os funcionários do Complexo de Suape que pode não gerar muitos empregos, porque é intensivo em capital e demanda qualificação maior, mas gera outras indústrias ao redor .O arco é a nova BR-232 do Estado. O que ela foi para a interiorização, o arco será para organizar a RMR”, resume Avelar.

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