Principais destinos da região devem registrar alta demanda de turistas no final do ano e primeiro trimestre de 2022
Por Samuel Santos e Waleska Saraiva
A expansão de uma nova variante do coronavírus tem deixado empresários do trade turístico em alerta. O setor, que foi duramente impactado na fase mais aguda da pandemia, se vê agora diante de um novo fantasma, que até já tem nome: Omicron. Os primeiros casos da nova cepa no Brasil têm aparecido no período mais quente para o turismo, que inclui as festas de final de ano, férias escolares e o Carnaval.
No Nordeste, mais uma vez, grandes capitais como Recife, Salvador, Fortaleza e São Luís já anunciaram que não terão as tradicionais comemorações públicas de Réveillon nas praias, para evitar aglomerações. As festas privadas estão liberadas, mas com limite de pessoal e passaporte da vacina em mãos.
Apesar do cenário nebuloso, o otimismo ainda predomina entre o empresariado. Em Pernambuco, embora os números não sejam os mesmos de 2019, antes da Covid-19, eles têm se mostrado estáveis até aqui. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Pernambuco – ABIH-PE, Eduardo Cavalcanti, pelo menos 62% dos leitos do Recife já estão reservados para o Réveillon. Em Ipojuca, no litoral sul do estado, o percentual chega a 92%. “Mesmo sem esses atrativos não temos registrado cancelamentos ligados à situação da pandemia. As festas para receber o novo ano vão ser realizadas nos hotéis, que já estão se organizando para que tudo ocorra dentro dos protocolos sanitários”, explica o presidente.
Os bons números de Pernambuco são reflexo do turismo interno e da volta de voos regulares com destino ao aeroporto do Recife. Mas segundo Eduardo Tiburtius, presidente do Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau, e diretor comercial do hotel Village Porto de Galinhas, os visitantes internacionais fazem falta. “Ainda não é o período pré-pandemia porque falta o mercado internacional, principalmente o argentino. Antes da pandemia, os turistas argentinos correspondiam a 25% da ocupação de hotéis e pousadas do nosso balneário. Se as coisas fluírem bem, esperamos uma retomada mais robusta no segundo semestre de 2022”, destaca.
A insegurança mesmo é com relação ao Carnaval. Com a folia de momo ameaçada de não acontecer pelo segundo ano consecutivo, turistas e empresários seguem em compasso de espera. “Mesmo com o avanço da vacinação, que nos dá certa tranquilidade, a falta de informação sobre os rumos da pandemia e essa nova cepa nos deixa apreensivos. Diferente de Porto de Galinhas e Gravatá, por exemplo, o turista que vem ao Recife neste período é aquele que gosta do Carnaval”, pontua o presidente da ABIH-PE, Eduardo Cavalcanti.
A ameaça de queda na arrecadação caso ocorram retrocessos no plano de flexibilização das atividades econômicas, também preocupa o setor de bares e restaurantes. O cancelamento do Réveillon na capital pernambucana e cidades vizinhas não prejudicou a procura pelos estabelecimentos no período de confraternizações. “Estamos animados com este final de ano. As reservas de mesas por empresas e grupos de amigos têm sido altas. As pessoas passaram muito tempo sem esses momentos e agora querem aproveitar”, relata André Araújo, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco – Abrasel-PE.
Com relação ao primeiro trimestre de 2002, o sentimento de otimismo se mistura com o de cautela. “Estamos observando tudo, mas o que nos conforta é que diferente de outros países, o Brasil tem a cultura da vacina muito forte, o que nos dá um certo alívio. Mesmo assim, a gente precisa que o processo de vacinação seja mais eficaz e justo, para que não haja retrocessos. Estamos numa posição confortável, mas com cuidado”, completa Araújo.
Salvador também não terá o tradicional “Festival da Virada” para receber 2022 e o governo estadual sinalizou que não dará apoio às prefeituras que insistirem nos eventos públicos. A decisão sobre o Carnaval na capital baiana ainda não foi tomada. “O cancelamento do evento não vai impedir que o fluxo de turistas continue crescendo na cidade, já que ela oferece uma grande variedade de opções, como o turismo nos segmentos de sol e praia, cultural, histórico, gastronômico, esportivo, religioso e náutico. Prova disso é que a ocupação hoteleira na capital já tem registrado, em feriados prolongados, índices semelhantes ao período anterior à pandemia”, defende Maurício Bacelar, secretário estadual do turismo.
Em novembro, a taxa média de ocupação em Salvador foi de 65%. Para dezembro, a expectativa do setor hoteleiro é chegar a 68%. “Mesmo sem o réveillon, estamos otimistas. Salvador tem sido uma das cidades mais procuradas do país. Também estamos envolvidos numa campanha para chamar mais turistas”, destaca Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia – ABIH-BA.
No Ceará, cerca de 500 mil turistas, do Brasil e de outros países, devem visitar a capital Fortaleza nesta alta estação, representando uma injeção de mais de R$ 1,4 bilhão na economia da cidade.
A estimativa é do Observatório do Turismo de Fortaleza, ligado à Secretaria Municipal do Turismo, e leva em conta a movimentação aeroportuária prevista pela Fraport – concessionária administradora do terminal aéreo de Fortaleza – e a movimentação rodoviária, informada pela Sosicam, empresa que administra o terminal rodoviário da capital cearense.
Ainda de acordo com a projeção do Observatório, o gasto médio diário dos visitantes deve ser de R$ 613,45, com uma permanência em torno de cinco dias. Na prática, essa entrada de capital na cidade movimenta mais de 50 setores da economia.
Desde a retomada gradual das atividades, Fortaleza vem novamente se destacando no ranking de destinos mais buscados pelos brasileiros. Em agosto, a capital ficou no topo dos destinos mais vendidos no Brasil, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa).
Para Pereira, a preferência por Fortaleza deve-se a diversos fatores, como acessibilidade, infraestrutura, potencial turístico e atrativos naturais, entre outros. Ele ressalta que o avanço na vacinação e a exigência dos protocolos sanitários foram fundamentais para possibilitar o retorno da área turística. “Na espera de que muitos estejam vacinados, a tendência é que os números de 2022 sejam ainda melhores se comparados com os mesmos períodos de 2021”, avalia.
Em São Luís, capital do Maranhão, a ocupação hoteleira em junho de 2021 chegou a 60%, com um comparativo de taxa média em 56% no ano de 2019. O Secretário Municipal de Turismo de São Luís, Saulo Ribeiro, afirma que a taxa alcançada em 2021 permanece fixa ao mês de junho.
Acerca do crescimento para 2022, Ribeiro afirma ser cedo para um comparativo, mas a expectativa é ficar nos patamares de 2019 e nos anos anteriores, quando São Luis recebeu cerca de 3 milhões de turistas.
Para janeiro de 2022, o setor turístico de São Luís espera receber de 50 mil a 60 mil turistas. Segundo o secretário, o retorno da malha aérea e de novos voos, e o avanço do turismo rodoviário, irão contribuir para que a estimativa seja conquistada.