O Porto maranhense de Itaqui vem sendo apontado como um dos pontos estratégicos para a expansão da Nova Rota da Seda da China. Ontem, em evento realizado com foco nos principais projetos de infraestrutura para a construção de portos, ferrovias, rodovias e aeroportos dos países que hoje fazem parte do projeto Belt & Road Initiative (BRI), o governo do Maranhão recebeu o professor Paul Lee, da Universidade Zhejiang, na China, e um dos idealizadores do estudo Strategic locations for logistics distributions centers along the Belt & Road, estudo que aponta a capital maranhense como um dos pontos estratégicos para a expansão da Nova Rota da Seda da China.
Ele fez uma apresentação no segundo dia do simpósio “As Potencialidades do Maranhão na Nova Rota da Seda da China: oportunidades de negócio e de desenvolvimento para o Brasil”, evento promovido pela Fundação Sousândrade em parceria com o Governo do Maranhã.
Além de destacar a importância que o projeto pode oferecer para a ampliação da conectividade marítima, diminuição de distâncias e maior retorno de investimentos para o Porto de Itaqui e para São Luís, Lee apresentou dados relacionados aos projetos de infraestrutura de alguns países do BRI, especialmente na Ásia e na África. De modo geral, o pesquisador falou sobre a revisão do planejamento de investimentos que vem sendo estudado pelo governo da China, para aumentar a taxa de capital de baixo risco e tornar o retorno de investimentos, que costuma ser de longo prazo, mais rápido.
De acordo com Lee, hoje, em um cenário pós-covid-19 e com alta de juros primários em todo o mundo, o número total de projetos BRI chega a 700, em 180 países. “Desse total, 142 projetos já foram finalizados e outros 250 ainda estão sob contrato, em fase de intenções, e outros 265 em construção”, afirmou. Ele disse, ainda, que dos 700 projetos BRI, cerca de 600 abrangem infraestrutura em portos, aeroportos, ferrovias e rodovias.
Durante sua palestra, Lee chamou a atenção sobre a importância da conectividade marítima para o Brasil e para São Luís, no Maranhão, cuja infraestrutura logística para as cadeias de suprimento da Nova Rota da Seda da China compreende o transporte ferroviário e sua ligação ao Porto de Itaqui, com três rotas marítimas conectando o Brasil a outros países.
Lee lembrou da importância da Cosco Shipping Lines para a integração marítima da China. A Cosco é um dos principais provedores mundiais de serviço de transporte integrado de containers, e possui navios de containers com alta capacidade em mais de 192 portos, em 64 países, e em cinco continentes. Ele ainda destacou a importância de temas como coordenação, inovação e economia verde para o projeto BRI. “Na China, todas as empresas participantes e as universidades precisam mostrar para o governo central projetos relacionados ao BRI e a economia verde”, aponta.
Segundo Lee, é preciso diminuir o tempo de viagem e os custos e taxas logísticos e o investimento portuário é uma saída para diversos países. “Este é o caso de vários países no continente africano, onde a infraestrutura portuária é sobrecarregada e muitos países da região subsaariana precisam criar saídas para o mar”, avalia. “Dos 110 projetos de investimentos de infraestrutura e transportes desenhados para a África, 29 já foram terminados”, completou.
Por fim, o pesquisador falou sobre alguns dos principais players chineses, como a indústria da construção e navegação e portos e modelos de investimentos (aquisições, PPPs e concessões). Ainda sobre a Cosco, Lee disse que desde 2013 a companhia já investiu em nove portos do projeto BRI, sendo que o primeiro deles foi concluído em 2017. Ele refletiu sobre o modelo que chamou de Porto Inteligente, onde a ideia “cidade/parque/porto” é contemplada nos investimentos de infraestrutura para o desenvolvimento de projetos na região portuária, com edifícios, parques e shopping centers. Ele também chamou a atenção para a importância de se considerar os vários atores envolvidos no projeto, como comunidades e trabalhadores.
Ted Lago, presidente do Porto de Itaqui, destacou a importância do estudo elaborado por Paul Lee para a América do Sul e, particularmente, para o Porto do Itaqui como um hub estratégico para a expansão da Rota da Seda. “O Brasil hoje já é um exportador importante de grãos e celulose para o mercado chinês. Com a inclusão do Maranhão na rota da seda, um canal de duas vias será possível: tanto a saída de commodities e, esperamos, produtos industrializados, quanto a entrada de produtos que possam atender nossa ‘hinterlândia’, ou seja, mais de sete estados brasileiros, com mais de 50 milhões de habitantes. Então, o governo do Maranhão está tomando a iniciativa de aproximação cada vez maior com o mercado asiático”, esclareceu Lago.
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