Suape mudará área de fundeio se for o responsável por ataques de tubarões em PE

Gestão do porto quer saber se espécies associadas aos ataques são as mesmas que acompanham os navios desde a área de fundeio até a atracação

Por Patrícia Raposo

Há oito meses, Suape assinou contrato com a Fundação Apolônio Salles (Fadurpe), vinculada à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), para o desenvolvimento do projeto Megamar, que vem analisando a diversidade e abundância relativa da megafauna presente no ecossistema estuarino e marinho.

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Neste vídeo do projeto Megamar é possível ver observar várias marinhas que frequentam área de fundeio do porto de Suape

O Megamar tinha como principal desenvolvedor o professor Fábio Hazin, que faleceu ano passado em decorrência da covid-19. Foi Hazin quem iniciou o Projeto de Pesquisa e Monitoramento de Tubarões no Estado de Pernambuco, o Protuba, ajudando a entender o que provocava os ataques. Uma das hipóteses era justamente a influência do Porto de Suape.

Em todos os portos do mundo, tubarões tendem a acompanhar os navios. “Se for constatado que no trajeto até o Porto de Suape eles pegam a corrente marinha que leva às praias, podemos afastar a área de fundeio para que as espécies peguem outras correntes mais distante da costa”, explica o diretor de Sustentabilidade de Suape, Carlos Cavalcanti. Essa era uma das suposições  levantadas por Hazin.

A preocupação com o tema se alinha a uma gestão voltada cada vez mais para a sustentabilidade. O presidente do porto, Roberto Gusmão, anunciou há poucos meses, que Suape quer se tornar um porto verde.

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“Precisamos verificar se procede a hipótese de que o porto é o responsável pelas ocorrências. Mas observamos que há outros fatores que contribuem com os ataques, como a densidade cada vez maior de banhista nas praias, a poluição dos rios, a erosão marinha… temos que analisar todo um cenário de ecologia marinha”, diz Cavalcanti.

O monitoramento do fundo do mar tem sido feito com o uso câmeras que foram lançadas na área de fundeio. A metodologia usada é BRUVS (Baited Remote Underwater Videos), recurso já consagrado no estudo de espécies marinhas e que consiste em equipamentos que têm uma isca junto à câmera, para atrair os animais, sem deixar que eles, no entanto, se alimentem.

“Até agora vimos poucas ocorrências de tubarões, mas entre as que foram captadas pelas câmaras estão alguns da espécie lixa”, revela o diretor.  As principais espécies responsáveis pelos ataques em Pernambuco são o tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) e o cabeça-chata (Carcharhinus leucas).

A fase atual da pesquisa se encerra em julho deste ano, quando então tem início  uma nova etapa da pesquisa. “Na segunda fase, vamos mudar a metodologia: ao invés de colocar câmeras embaixo d’água, vamos pescar tubarões para colar chips de monitoramento. Assim poderemos acompanha-los em tempo real. Isso poderá nos dizer se as espécies são endêmicas ou generalistas, revelar seus hábitos”.

Embora a mudança da área de fundeio não envolva altos investimentos, necessita de um plano de comunicação arrojado, já que atinge diversos armadores. Suape recebe cerca de 15oo navios por ano, vindos de várias partes do mundo.

Suape
Reprodução de vídeo do projeto Megamar/Divulgação

Mapeando assoalho marinho

Outro projeto em curso está mapeando o assoalho marinho de toda área do porto e adjacências. A intenção é levantar o relevo, a vegetação, os naufrágios, toda a realidade submersa. O estudo está sendo realizado pelo departamento de Oceanografia da UFPE, através de contrato com a Fade, fundação ligada a universidade.  

“Isso vai ajudar a entender o impacto das atividades portuárias no assoalho marinho, sobre os canais de navegação, sobre os cabeços de peixes. Vamos entender como o porto interage com as atividades da economia marinha para se definir as áreas mais prioritárias para conservação ou para uso restritor. Isso vai permitir um ordenamento do uso da área marinha”, explica Carlos Cavalcanti.

“Temos avançando numa pauta que vinha sempre em segundo plano, a da sustentabilidade. Nos tornamos mais proativos. Conhecendo mais nossa realidade poderemos fazer uma gestão mais assertiva , inclusive em termos de orçamentos voltados para a própria sustentabilidade”, explica.


Leia também: Complexo de Suape no caminho do Hidrogênio Verde

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